26 de outubro de 2013

Sermão 22º Domingo depois de Pentecostes – Domingo das Missões – Pe Daniel Pinheiro

[Sermão] A Igreja e as missões

Sermão para o 22º Domingo depois de Pentecostes – Domingo das Missões

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…

 “Concedei-nos, Senhor, que do Oriente ao Ocidente o Vosso nome seja glorificado entre os povos, e que em todo lugar se sacrifique e se ofereça ao Vosso nome uma oblação pura.” (Secreta)
Caros católicos, para toda a Igreja hoje é o domingo consagrado às Missões. Em todas as Missas, ao menos naquelas celebradas no Rito Romano Tradicional, há orações que pedem a Deus que a verdade do Evangelho possa chegar a todos os cantos do orbe e a todos os homens, a fim de que Deus seja conhecido, amado e servido por todos os povos. Se a Igreja faz isso, é porque ela permanece fiel ao mandamento de NS dado aos Apóstolos e aos sucessores deles: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Marcos 16, 15-16) “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei.” (Mateus 28, 19) É, então, Nosso Senhor Ele mesmo que atribui à sua única Igreja a catolicidade, quer dizer, essa universalidade, devendo a Igreja dirigir-se a todo o mundo, a todas as gentes. Consequentemente, é NS Ele mesmo que faz da Igreja uma sociedade necessariamente missionária. A missão é justamente anunciar a verdade do Evangelho, a verdade revelada por NSJC àqueles povos que ainda não a conhecem.
E esse mandamento de NS, caros católicos, é bem lógico. Como diz a coleta de hoje, Deus quer que todos os homens se salvem e que cheguem ao conhecimento da verdade. Para que o homem se salve é preciso que ele acredite com total certeza no que Deus fala, pois Deus não pode se enganar nem nos enganar. E para que o homem se salve, é preciso fazer aquilo que Deus ordena, pois Deus só nos ordena o que é bom. Em suma, para salvar-se, o homem precisa da verdadeira religião. E entre tantas religiões que se contradizem, uma só pode ser a verdadeira. E sabemos que é a católica, confirmada com tantos verdadeiros milagres e anunciada por tantas profecias. Sabemos que é a católica porque somente ela corresponde perfeitamente ao ensinamento de Jesus Cristo, nosso Salvador. Assim, é natural que NS mande que seus Apóstolos preguem o Evangelho em todo o mundo e para todas as gentes, para que se salvem. A Igreja, seguindo seu divino fundador, tem sede das almas e quer levar essas almas que estão nas trevas do erro e na sombra da morte à verdade e à vida eterna. A Igreja se entristece profundamente de ver povos que ignoram o Deus único em três Pessoas, que ignoram o Deus que nos mostrou todo o seu amor ao se encarnar e ao sofrer por nós até a morte e morte de cruz. Ela se entristece de ver os povos que ignoram ou perseguem a Igreja fundada por Cristo. E a Igreja manifesta hoje essa tristeza pelos paramentos roxos, pela ausência do Glória.
Fiéis, então, ao preceito de NS de pregar a todas as gentes, os Apóstolos, de imediato, pregaram em todo lugar a palavra de Deus, ao ponto que o “som da voz deles estendeu-se por toda a terra e as suas palavras até as extremidades do mundo”, como afirma a Igreja (Ofício dos Apóstolos e Salmo 18, 5) Também os sucessores dos Apóstolos foram fiéis ao mandamento de Nosso Senhor. São Martinho, apóstolo da Gália. São Patrício, apóstolo dos irlandeses. Santo Agostinho de Cantuária, apóstolo dos ingleses. São Columba, apóstolo dos escoceses. São Bonifácio, apóstolo dos povos germânicos; Santos Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos. São Francisco Xavier, apóstolo do oriente. Padre Anchieta, Apóstolo do Brasil. Isso para citar somente alguns poucos. A Europa foi convertida a Cristo, o norte da África foi convertido a Cristo com grande rapidez. Nos tempos modernos, a maior parte das Américas foi convertida a Cristo pelos missionários portugueses e espanhóis. E quantas obras missionárias feitas em outros cantos do globo. Por que, caros católicos, um zelo tão ardente pelas missões sempre consumiu a Igreja? Porque se trata da salvação das almas e a salvação das almas é a lei suprema da Igreja.
Hoje, infelizmente, muitos parecem ter esquecido este mandamento de NS: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Marcos 16, 15-16) “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei.” (Mateus 28, 19) É por causa desse esquecimento que os infiéis não chegam ao conhecimento da fé. É também por causa desse esquecimento que nossa sociedade, outrora cristã, é cada vez mais paganizada. Esse esquecimento é devido, antes de tudo, ao indiferentismo religioso. Com o indiferentismo religioso se afirma que a salvação é possível em qualquer religião. Se você é mulçumano, seja um bom mulçumano, isso basta. Se você é protestante, seja um bom protestante e você será salvo. Se você é ateu, seja um bom ateu e você irá ao paraíso. São frases que ouvimos. Ora, se NS nos deu um mandamento tão claro incluindo nele a pena da morte eterna – “o que crer e for batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado” – é justamente porque é extremamente difícil se salvar quando se pratica uma outra religião que não a verdadeira, fundada por Ele. E mesmo nesse caso, muito raro, em que a pessoa se encontra em ignorância invencível quanto à verdadeira religião, mas pratica o bem e evita o mal segundo uma consciência bem formada, é sempre por Cristo e na Igreja que a pessoa se salva. Quantas almas infelizmente se perdem por causa da negligência no cumprimento do preceito divino: ensinai todas as gentes, batizando-as.
Isso não significa, porém, que não haja mais missões. As missões existem, é claro. Todavia, elas são vistas, sobretudo, como uma coisa puramente social ou humana. Elas visam muitas vezes uma paz simplesmente humana, um bem-estar humano. E, para alcançar isso, dizem que é preciso evitar a todo o custo o apostolado, às vezes classificado como proselitismo, quer dizer, é preciso evitar buscar a conversão das almas à religião católica. A Igreja até poderia atrair as almas para si pelo testemunho, pelo exemplo, mas buscar as almas, argumentando, chamando-as à conversão seria já um meio ilegítimo, seria proselitismo dizem. O Papa João Paulo II aponta esse erro: “Hoje – diz o Papa – o apelo à conversão, que os missionários dirigem aos não cristãos, é posto em discussão ou facilmente deixado no silêncio. Vê-se nele – nesse apelo à conversão, continua o Papa – um ato de «proselitismo»; diz-se que basta ajudar os homens a tornarem-se mais homens ou mais fiéis à própria religião, que basta construir comunidades capazes de trabalharem pela justiça, pela liberdade, pela paz, e pela solidariedade.” Até aqui o Papa. Essa proibição do apelo à conversão – apelo que não se faz meramente pelo exemplo, embora o exemplo seja indispensável e a parte mais necessária – vem de uma falsa noção do que é o bem do homem, como se o bem do homem estivesse nos bens desse mundo ou numa paz sem o verdadeiro Deus. Ao contrário, o maior bem para o homem é conhecer, amar e servir a Deus. O verdadeiro bem do homem supõe, portanto, a verdadeira religião e, para isso, é preciso que os homens da Igreja sejam plenamente missionários, ensinando a doutrina de Cristo e batizando aqueles que crerão nEle. É preciso buscar primeiro o Reino de Deus, o resto será dado por acréscimo.
Ora, se decorre da própria natureza da Igreja ser missionária, todos os membros dela estão implicados nisso em alguma medida e devem cooperar com as missões. Há, basicamente, duas maneiras de cooperar efetivamente com as missões: a ajuda material e a oração.
Primeiro, devemos ajudar materialmente e segundo as nossas possibilidades as obras sérias, que têm por objetivo real a propagação da fé católica, o bem das almas e a glória de Deus.
Em segundo lugar, e muito mais importante que a ajuda material, devemos rezar e rezar muito. Em particular, devemos rezar para que Deus suscite numerosas vocações e, sobretudo, vocações sacerdotais, mas sacerdotes santos, de uma fé vivíssima e de uma caridade ardente. NS fundou uma Igreja hierárquica: os sacerdotes são os ministros da salvação trazida por Jesus Cristo. Sem padres e sem bons padres, a evangelização, a conversão das almas e dos povos não terá sucesso ou muito limitado. Eis aqui uma maneira fundamental para cooperar com as missões: rezar pedindo pastores dignos e santos. É exatamente isso que a coleta e o Evangelho de hoje nos lembram: que Deus possa enviar operários que transmitam o Evangelho com confiança, sem receio, a fim de que todos os povos possam conhecer o único Deus verdadeiro e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo, seu Filho. Devemos também rezar constantemente pela conversão daqueles que ainda não têm a fé católica: pagãos, hereges, infiéis, judeus… Comecemos essa oração nos unindo ao Santo Sacrifício da Missa que se consumará sobre o altar. Rezemos para que o Senhor mande operários e rezemos pela conversão dos que vivem na sombra do erro. Rezar com instância e fervor pelas missões é praticamente como tornar-se um missionário, dada a profundidade da cooperação. Santa Teresinha do Menino Jesus nos dá o exemplo, pois sem jamais ter saído de seu convento, ela se tornou a padroeira das missões, pelas orações e sacrifícios que oferecia pelo bom êxito das missões.
Todavia, não devemos considerar as missões simplesmente como algo longínquo e que ocorre somente na outra extremidade da terra. Hoje, as nações outrora católicas se tornaram, na prática, terra de missão. Nós devemos começar, portanto, pelo nosso país, pelo meio em que vivemos. Devemos praticar a ajuda material, e rezar pelas vocações e pela conversão dos não católicos no nosso país e não somente em terras distantes. Nesse caso, devemos também cooperar com a Missão pelo apostolado no meio em que vivemos. Esse apostolado está ao alcance de todos: em casa, no trabalho, na rua, com os amigos, nos lazeres, etc… Podemos exercer de várias maneiras o apostolado. Um bom argumento que damos em favor da religião católica, um bom conselho, uma correção caridosa, um bom livro que emprestamos, uma diversão imoral que se evita, etc.  Eis alguns atos de apostolado que Deus recompensará com generosidade. Se a esses atos nós acrescentarmos o apostolado do exemplo – que é um argumento mais forte do que todos os discursos e sem o qual todos os outros atos serão ineficazes – e se acrescentarmos também os sacrifícios, mesmo pequenos, nos tornaremos missionários, no sentido abrangente da palavra. Podemos pensar aqui no exemplo de Santo Afonso que converteu seu escravo mulçumano simplesmente pelo exemplo, sem precisar de outro argumento além do mero exemplo. Com as orações, com o apostolado, com o exemplo, podemos propagar a fé, iluminando as inteligências e inflamando as vontades e não simplesmente atiçando os sentimentos passageiros como, infelizmente, ocorre com muitos que se chamam hoje missionários.
Façamos, então, caros católicos, aquilo que podemos para converter os povos pagãos e para reconverter nossa sociedade a Cristo, para que o único Deus verdadeiro e seu Filho, Jesus Cristo, possam ser reconhecidos, confessados e glorificados pela prática da religião católica: devemos ajudar materialmente, na medida de nossas possibilidades, devemos rezar pelas vocações e pela conversão daqueles que não conhecem NS e sua Igreja, devemos oferecer pequenas penitências nessa intenção, e devemos fazer apostolado no meio em que vivemos, sobretudo pelo exemplo.
O ardor missionário que sempre inflamou a Igreja é a obra de caridade mais perfeita: não se pode demonstrar caridade maior para com o próximo do que o tirando das trevas do erro e o instruindo na verdadeira fé. “Essa obra de caridade, nos diz Pio XI, supera toda outra obra e prova de caridade, como a alma supera o corpo, como o céu supera a terra, como a eternidade supera o tempo. E, continua o Pontífice, quem exerce essa obra de caridade segundo suas forças, demonstra estimar devidamente o dom da fé e, além disso, manifesta sua gratidão para com a bondade divina partilhando com os pobres pagãos o mais precioso dos dons – a fé – e, com ela, todos os outros bens que lhe estão unidos.” (Rerum Ecclesiae) Cooperemos, portanto, caros católicos com as missões. É uma obra muito meritória e de grande caridade que Deus recompensará com generosidade.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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