[Sermão] A Igreja e as missões
Sermão para o 22º Domingo depois de Pentecostes – Domingo das Missões
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Concedei-nos, Senhor, que do Oriente ao
Ocidente o Vosso nome seja glorificado entre os povos, e que em todo
lugar se sacrifique e se ofereça ao Vosso nome uma oblação pura.”
(Secreta)
Caros católicos, para toda a Igreja hoje é
o domingo consagrado às Missões. Em todas as Missas, ao menos naquelas
celebradas no Rito Romano Tradicional, há orações que pedem a Deus que a
verdade do Evangelho possa chegar a todos os cantos do orbe e a todos
os homens, a fim de que Deus seja conhecido, amado e servido por todos
os povos. Se a Igreja faz isso, é porque ela permanece fiel ao
mandamento de NS dado aos Apóstolos e aos sucessores deles: “Ide por
todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e for
batizado será salvo; o que, porém, não crer, será condenado.” (Marcos
16, 15-16) “Ide, pois, ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as
coisas que vos mandei.” (Mateus 28, 19) É, então, Nosso Senhor Ele mesmo
que atribui à sua única Igreja a catolicidade, quer dizer, essa
universalidade, devendo a Igreja dirigir-se a todo o mundo, a todas as
gentes. Consequentemente, é NS Ele mesmo que faz da Igreja uma sociedade
necessariamente missionária. A missão é justamente anunciar a verdade
do Evangelho, a verdade revelada por NSJC àqueles povos que ainda não a
conhecem.
E esse mandamento de NS, caros católicos,
é bem lógico. Como diz a coleta de hoje, Deus quer que todos os homens
se salvem e que cheguem ao conhecimento da verdade. Para que o homem se
salve é preciso que ele acredite com total certeza no que Deus fala,
pois Deus não pode se enganar nem nos enganar. E para que o homem se
salve, é preciso fazer aquilo que Deus ordena, pois Deus só nos ordena o
que é bom. Em suma, para salvar-se, o homem precisa da verdadeira
religião. E entre tantas religiões que se contradizem, uma só pode ser a
verdadeira. E sabemos que é a católica, confirmada com tantos
verdadeiros milagres e anunciada por tantas profecias. Sabemos que é a
católica porque somente ela corresponde perfeitamente ao ensinamento de
Jesus Cristo, nosso Salvador. Assim, é natural que NS mande que seus
Apóstolos preguem o Evangelho em todo o mundo e para todas as gentes,
para que se salvem. A Igreja, seguindo seu divino fundador, tem sede das
almas e quer levar essas almas que estão nas trevas do erro e na sombra
da morte à verdade e à vida eterna. A Igreja se entristece
profundamente de ver povos que ignoram o Deus único em três Pessoas, que
ignoram o Deus que nos mostrou todo o seu amor ao se encarnar e ao
sofrer por nós até a morte e morte de cruz. Ela se entristece de ver os
povos que ignoram ou perseguem a Igreja fundada por Cristo. E a Igreja
manifesta hoje essa tristeza pelos paramentos roxos, pela ausência do
Glória.
Fiéis, então, ao preceito de NS de pregar
a todas as gentes, os Apóstolos, de imediato, pregaram em todo lugar a
palavra de Deus, ao ponto que o “som da voz deles estendeu-se por toda a
terra e as suas palavras até as extremidades do mundo”, como afirma a
Igreja (Ofício dos Apóstolos e Salmo 18, 5) Também os sucessores dos
Apóstolos foram fiéis ao mandamento de Nosso Senhor. São Martinho,
apóstolo da Gália. São Patrício, apóstolo dos irlandeses. Santo
Agostinho de Cantuária, apóstolo dos ingleses. São Columba, apóstolo dos
escoceses. São Bonifácio, apóstolo dos povos germânicos; Santos Cirilo e
Metódio, apóstolos dos eslavos. São Francisco Xavier, apóstolo do
oriente. Padre Anchieta, Apóstolo do Brasil. Isso para citar somente
alguns poucos. A Europa foi convertida a Cristo, o norte da África foi
convertido a Cristo com grande rapidez. Nos tempos modernos, a maior
parte das Américas foi convertida a Cristo pelos missionários
portugueses e espanhóis. E quantas obras missionárias feitas em outros
cantos do globo. Por que, caros católicos, um zelo tão ardente pelas
missões sempre consumiu a Igreja? Porque se trata da salvação das almas e
a salvação das almas é a lei suprema da Igreja.
Hoje, infelizmente, muitos parecem ter
esquecido este mandamento de NS: “Ide por todo o mundo, pregai o
Evangelho a toda a criatura. O que crer e for batizado será salvo; o
que, porém, não crer, será condenado.” (Marcos 16, 15-16) “Ide, pois,
ensinai todas as gentes, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do
Espírito Santo, ensinando-as a observar todas as coisas que vos mandei.”
(Mateus 28, 19) É por causa desse esquecimento que os infiéis não
chegam ao conhecimento da fé. É também por causa desse esquecimento que
nossa sociedade, outrora cristã, é cada vez mais paganizada. Esse
esquecimento é devido, antes de tudo, ao indiferentismo religioso. Com o
indiferentismo religioso se afirma que a salvação é possível em
qualquer religião. Se você é mulçumano, seja um bom mulçumano, isso
basta. Se você é protestante, seja um bom protestante e você será salvo.
Se você é ateu, seja um bom ateu e você irá ao paraíso. São frases que
ouvimos. Ora, se NS nos deu um mandamento tão claro incluindo nele a
pena da morte eterna – “o que crer e for batizado será salvo; o que,
porém, não crer, será condenado” – é justamente porque é extremamente
difícil se salvar quando se pratica uma outra religião que não a
verdadeira, fundada por Ele. E mesmo nesse caso, muito raro, em que a
pessoa se encontra em ignorância invencível quanto à verdadeira
religião, mas pratica o bem e evita o mal segundo uma consciência bem
formada, é sempre por Cristo e na Igreja que a pessoa se salva. Quantas
almas infelizmente se perdem por causa da negligência no cumprimento do
preceito divino: ensinai todas as gentes, batizando-as.
Isso não significa, porém, que não haja
mais missões. As missões existem, é claro. Todavia, elas são vistas,
sobretudo, como uma coisa puramente social ou humana. Elas visam muitas
vezes uma paz simplesmente humana, um bem-estar humano. E, para alcançar
isso, dizem que é preciso evitar a todo o custo o apostolado, às vezes
classificado como proselitismo, quer dizer, é preciso evitar buscar a
conversão das almas à religião católica. A Igreja até poderia atrair as
almas para si pelo testemunho, pelo exemplo, mas buscar as almas,
argumentando, chamando-as à conversão seria já um meio ilegítimo, seria
proselitismo dizem. O Papa João Paulo II aponta esse erro: “Hoje – diz o
Papa – o apelo à conversão, que os missionários dirigem aos não
cristãos, é posto em discussão ou facilmente deixado no silêncio. Vê-se
nele – nesse apelo à conversão, continua o Papa – um ato de
«proselitismo»; diz-se que basta ajudar os homens a tornarem-se mais
homens ou mais fiéis à própria religião, que basta construir comunidades
capazes de trabalharem pela justiça, pela liberdade, pela paz, e pela
solidariedade.” Até aqui o Papa. Essa proibição do apelo à conversão –
apelo que não se faz meramente pelo exemplo, embora o exemplo seja
indispensável e a parte mais necessária – vem de uma falsa noção do que é
o bem do homem, como se o bem do homem estivesse nos bens desse mundo
ou numa paz sem o verdadeiro Deus. Ao contrário, o maior bem para o
homem é conhecer, amar e servir a Deus. O verdadeiro bem do homem supõe,
portanto, a verdadeira religião e, para isso, é preciso que os homens
da Igreja sejam plenamente missionários, ensinando a doutrina de Cristo e
batizando aqueles que crerão nEle. É preciso buscar primeiro o Reino de
Deus, o resto será dado por acréscimo.
Ora, se decorre da própria natureza da
Igreja ser missionária, todos os membros dela estão implicados nisso em
alguma medida e devem cooperar com as missões. Há, basicamente, duas
maneiras de cooperar efetivamente com as missões: a ajuda material e a
oração.
Primeiro, devemos ajudar materialmente e
segundo as nossas possibilidades as obras sérias, que têm por objetivo
real a propagação da fé católica, o bem das almas e a glória de Deus.
Em segundo lugar, e muito mais importante
que a ajuda material, devemos rezar e rezar muito. Em particular,
devemos rezar para que Deus suscite numerosas vocações e, sobretudo,
vocações sacerdotais, mas sacerdotes santos, de uma fé vivíssima e de
uma caridade ardente. NS fundou uma Igreja hierárquica: os sacerdotes
são os ministros da salvação trazida por Jesus Cristo. Sem padres e sem
bons padres, a evangelização, a conversão das almas e dos povos não terá
sucesso ou muito limitado. Eis aqui uma maneira fundamental para
cooperar com as missões: rezar pedindo pastores dignos e santos. É
exatamente isso que a coleta e o Evangelho de hoje nos lembram: que Deus
possa enviar operários que transmitam o Evangelho com confiança, sem
receio, a fim de que todos os povos possam conhecer o único Deus
verdadeiro e Aquele que Ele enviou, Jesus Cristo, seu Filho. Devemos
também rezar constantemente pela conversão daqueles que ainda não têm a
fé católica: pagãos, hereges, infiéis, judeus… Comecemos essa oração nos
unindo ao Santo Sacrifício da Missa que se consumará sobre o altar.
Rezemos para que o Senhor mande operários e rezemos pela conversão dos
que vivem na sombra do erro. Rezar com instância e fervor pelas missões é
praticamente como tornar-se um missionário, dada a profundidade da
cooperação. Santa Teresinha do Menino Jesus nos dá o exemplo, pois sem
jamais ter saído de seu convento, ela se tornou a padroeira das missões,
pelas orações e sacrifícios que oferecia pelo bom êxito das missões.
Todavia, não devemos considerar as
missões simplesmente como algo longínquo e que ocorre somente na outra
extremidade da terra. Hoje, as nações outrora católicas se tornaram, na
prática, terra de missão. Nós devemos começar, portanto, pelo nosso
país, pelo meio em que vivemos. Devemos praticar a ajuda material, e
rezar pelas vocações e pela conversão dos não católicos no nosso país e
não somente em terras distantes. Nesse caso, devemos também cooperar com
a Missão pelo apostolado no meio em que vivemos. Esse apostolado está
ao alcance de todos: em casa, no trabalho, na rua, com os amigos, nos
lazeres, etc… Podemos exercer de várias maneiras o apostolado. Um bom
argumento que damos em favor da religião católica, um bom conselho, uma
correção caridosa, um bom livro que emprestamos, uma diversão imoral que
se evita, etc. Eis alguns atos de apostolado que Deus recompensará com
generosidade. Se a esses atos nós acrescentarmos o apostolado do
exemplo – que é um argumento mais forte do que todos os discursos e sem o
qual todos os outros atos serão ineficazes – e se acrescentarmos também
os sacrifícios, mesmo pequenos, nos tornaremos missionários, no sentido
abrangente da palavra. Podemos pensar aqui no exemplo de Santo Afonso
que converteu seu escravo mulçumano simplesmente pelo exemplo, sem
precisar de outro argumento além do mero exemplo. Com as orações, com o
apostolado, com o exemplo, podemos propagar a fé, iluminando as
inteligências e inflamando as vontades e não simplesmente atiçando os
sentimentos passageiros como, infelizmente, ocorre com muitos que se
chamam hoje missionários.
Façamos, então, caros católicos, aquilo
que podemos para converter os povos pagãos e para reconverter nossa
sociedade a Cristo, para que o único Deus verdadeiro e seu Filho, Jesus
Cristo, possam ser reconhecidos, confessados e glorificados pela prática
da religião católica: devemos ajudar materialmente, na medida de nossas
possibilidades, devemos rezar pelas vocações e pela conversão daqueles
que não conhecem NS e sua Igreja, devemos oferecer pequenas penitências
nessa intenção, e devemos fazer apostolado no meio em que vivemos,
sobretudo pelo exemplo.
O ardor missionário que sempre inflamou a
Igreja é a obra de caridade mais perfeita: não se pode demonstrar
caridade maior para com o próximo do que o tirando das trevas do erro e o
instruindo na verdadeira fé. “Essa obra de caridade, nos diz Pio XI,
supera toda outra obra e prova de caridade, como a alma supera o corpo,
como o céu supera a terra, como a eternidade supera o tempo. E, continua
o Pontífice, quem exerce essa obra de caridade segundo suas forças,
demonstra estimar devidamente o dom da fé e, além disso, manifesta sua
gratidão para com a bondade divina partilhando com os pobres pagãos o
mais precioso dos dons – a fé – e, com ela, todos os outros bens que lhe
estão unidos.” (Rerum Ecclesiae) Cooperemos, portanto, caros católicos
com as missões. É uma obra muito meritória e de grande caridade que Deus
recompensará com generosidade.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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