[Sermão] O Brasil escravo de Nossa Senhora Aparecida
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito santo. Amém.
Ave Maria…
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Hoje, Festa de Nossa Senhora Aparecida.
Lembro aos pais que devem explicar aos filhos que a importância do dia
de hoje é devida a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, e não
porque é o dia das crianças. O feriado foi instituído e existe em honra de Nossa Senhora Aparecida.
***
Caros católicos, quando falamos da
natureza do culto devido a Nossa senhora dissemos que, além da
veneração, da invocação, do amor, da gratidão e da imitação, era devido a
Maria Santíssima também um culto de escravidão. A Nossa Senhora como
Rainha do céu e da terra, de tudo e de todos, se deve uma verdadeira
escravidão. Uma escravidão por amor. E essa escravidão sintetiza
perfeitamente todos os outros atos pertencentes ao culto de Maria. O
escravo fiel a sua Rainha, a venera, reconhecendo sua singular
excelência. O escravo ama a Rainha que o governa tão bem, e ele procura,
consequentemente, agradar em todas as coisas à Rainha. O escravo tem
gratidão por uma Senhora e Rainha que fez e faz por ele tantos favores e
obtém tantas graças. O escravo invoca e recorre com grande confiança a
uma Rainha que conhece suas necessidades, e que pode, e quer socorrê-lo
em suas dificuldades. O escravo fiel, por último, trata de imitar a
Rainha, já que reconhece nela o modelo de todas as virtudes.
Que Nossa Senhora seja Rainha, caros
católicos, é inegável. Ela é Rainha porque é a Mãe do Rei, ela é a Mãe
de Nosso Senhor Jesus Cristo. Nosso Senhor é Rei mesmo enquanto homem
porque está unido com o Verbo ao ponto de formar com Ele uma só pessoa,
uma pessoa divina. Nosso Senhor é Rei porque nos redimiu na cruz, quer
dizer, Ele é Rei por direito de conquista. Nossa Senhora, por sua vez, é
Rainha porque é a Mãe de Deus, o que a faz ter uma relação única com
Nosso Senhor Jesus Cristo, com o Verbo. Nossa Senhora é Rainha também
porque é corredentora, porque participou de forma singular em nossa
redenção, adquirindo sobre nós a realeza. Ela é Rainha porque sua
santidade é maior que a de todas as outras criaturas, incluindo os
anjos. Vemos isso claramente na Ladainha de Nossa Senhora. Mais
especificamente, ela é Rainha dos Anjos porque conhece mais
profundamente que eles os mistérios divinos. Rainha dos patriarcas
porque supera todos eles em heroísmo e em piedade. Rainha dos profetas
porque os supera no dom da profecia. Rainha dos apóstolos porque os
supera no zelo pela glória de Deus e salvação das almas. Rainha dos
mártires porque supera todos eles na virtude da fortaleza. Rainha dos
confessores porque sua fé aqui na terra era imensamente superior à fé
dos confessores. Rainha das virgens porque supera todas elas com sua
pureza imaculada. Enfim, Rainha de todos os santos. É óbvio que a
realeza de Maria é uma realeza dependente e subordinada à realeza de
Jesus Cristo. Não são, portanto, dois reinados absolutos e
independentes. O reinado de Nossa senhora depende e está subordinado ao
de NS. E Maria, como dispensadora de todas as graças adquiridas por
Cristo, participa de modo sublime no governo de seu Filho, ajudando-nos a
viver em conformidade com a lei da graça.
Nossa Senhora é, portanto,
verdadeiramente Rainha, quer queiramos ou não. A nós cabe reconhecer a
realeza dessa Rainha que é também nossa Mãe e nos submeter plenamente,
entregando a ela tudo o que temos, tudo o que somos, todas as nossas
ações passadas, presentes e futuras. Nós já sabemos que o melhor meio
para chegar a Nosso Senhor é por Maria, é pela devoção a Maria. E a
melhor devoção a Maria é a consagração total a ela como escravos dela,
reconhecendo que pertencemos a ela, que somos propriedade dela e
entregando tudo a ela, para que ela disponha disso da melhor maneira
possível com o objetivo de dar maior glória a Deus e de salvar as almas.
Pela consagração total a Maria, nós entregamos tudo a Nossa Senhora:
corpo, alma, os bens exteriores, como casa, família, riquezas, e os bens
interiores, como méritos, graças, virtudes, satisfações. Nós nos
imolamos inteiramente a Jesus nos consagrando totalmente a Maria, e
sabendo que, apresentados pelas mãos de Nossa Senhora, esses bens terão
muito mais valor aos olhos de Deus e serão aproveitados de forma muito
mais perfeita. Além de nos entregarmos inteiramente a Maria, a total
consagração a ela consiste também em fazer todas as coisas por Maria,
com Maria, em Maria e para Maria. Não basta fazer o ato de consagração e
renová-lo com regularidade, se não se vive realmente uma vida espelhada
em Maria. É preciso fazer todas as coisas com Maria, quer dizer,
tomando-a como modelo de santidade. Fazer todas as coisas em Maria, quer
dizer, em união com ela. Fazer todas as coisas por Maria, sempre por
meio dela e por sua intercessão, ainda que implicitamente, sem precisar
dizer a cada vez que estamos pedindo sua intercessão. Fazer todas as
coisas para Maria, para agradar-lhe e poder, assim, agradar a Nosso
Senhor Jesus Cristo e à Santíssima Trindade. Fazer tudo com Maria, em
Maria, por Maria e para Maria, como diz São Luís de Montfort, para
podermos fazer da melhor maneira possível tudo com Jesus, em Jesus, por
Jesus e para Jesus. A total consagração a Maria, nunca é demais repetir,
é a mais perfeita consagração a Jesus, pois Maria nos conduz a Ele com
suavidade, com firmeza e rapidez.
São inúmeros os benefícios dessa total
consagração a Jesus por meio da escravidão a Nossa Senhora. Ela nos
consagra inteiramente ao serviço de Deus, entregando a Jesus por Maria
tudo o que somos e temos. Com essa consagração, imitamos Nosso Senhor
Jesus Cristo, que se submeteu a Nossa Senhora durante grande parte de
sua vida e ainda hoje atende a todos os seus pedidos. Ela nos traz
grandes benefícios porque atrai o amor de Nossa Senhora e seus auxílios
especiais. Maria Santíssima, ao ver que alguém se despoja de tudo para
honrá-la e servi-la, não poupará esforços para ajudá-lo no caminho para o
céu. Com essa consagração, nossas boas obras são purificadas. A melhor
de nossas obras sempre é feita com certo amor próprio, em virtude de
nossas fraquezas. Quando as entregamos a Maria, ela purifica nossas boas
obras dessas pequenas manchas. Com essa consagração, nossas obras se
tornam mais belas diante de Deus. Se oferecêssemos uma simples maçã ao
Rei, como diz São Luís de Montfort, nosso oferecimento talvez não fosse
tão agradável. Mas quando entregamos essa maçã para a Rainha, ela a
coloca em uma bela bandeja de ouro e apresenta essa simples homenagem ao
Rei, que ficará muito benévolo em virtude da intermediária e em virtude
do modo pelo qual chegou até Ele a homenagem. Essa devoção é também boa
para o nosso próximo, pois Nossa Senhora saberá aproveitar plenamente
nossas boas obras para o bem dos outros. Enfim, essa consagração é a
melhor coisa que podemos fazer se queremos realmente nos converter,
caros católicos. Uma explicação tão breve dá somente uma pálida ideia do
que é essa escravidão por amor, do que é essa consagração total a Jesus
por Maria. Recomendo que leiam o Livro de São Luís de Montfort, Tratado
da Verdadeira Devoção a Maria, se quiserem entender bem esse tesouro
inesgotável e tendo-o lido, que procedam à consagração, se ainda não a
fizeram Que procedam a essa consagração com a real intenção de
conversão, de servir Nossa Senhora e Nosso senhor Jesus Cristo. Lembro a
todos que a devoção a Nossa Senhora não é uma devoção sentimental ou
açucarada. A devoção a Nossa senhora deve nos preparar para a batalha.
Para os homens e rapazes, em particular, a devoção a Nossa Senhora deve
favorecer a virilidade, tornando-nos capaz de controlar nossas paixões e
de nos dispor ao combate espiritual.
Tudo isso que falamos se aplica no plano
pessoal, caros católicos. Todavia, se aplica também no plano social.
Toda sociedade é também uma criatura e, como tal, deve reconhecer e se
submeter à Realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo e à realeza de Nossa
Senhora. O Brasil tem por Rainha Nossa Senhora da Imaculada Conceição
sob o título de Aparecida. Se o Brasil quer realmente viver na ordem, é
preciso que seja escravo de Nossa Senhora. O Brasil precisa venerá-la,
invocá-la, amá-la, agradecer-lhe, imitá-la, submeter-se a ela. Somente
assim haverá a verdadeira ordem, que não pode ser outra do que a
ordenação de tudo a Nosso Senhor Jesus Cristo. Somente reconhecendo a
realeza e a soberania de Nossa Senhora o país poderá ter um verdadeiro
progresso, que não é simplesmente um progresso econômico-social, mas que
é um progresso das virtudes no povo, das virtudes naturais e
sobrenaturais. Ao desprezar Maria Santíssima com tantas leis iníquas
(indiferentismo religioso, aborto em alguns casos, uniões homossexuais e
tantas outras coisas); ao desprezar Maria por um sistema político
completamente esquecido de seu Filho e de sua Igreja; ao desprezar Maria
por uma sociedade cada vez mais hostil à religião católica; ao
desprezar Maria pela falta de culto público tributado a ela; ao
desprezar Nossa Senhora de tantas formas, o Brasil caminha para o
abismo. É nosso dever de piedade filial rezar pelo Brasil, recorrer a
Nossa Senhora, pedindo pelo Brasil. E, ao pedirmos pela Brasil, devemos
pedir não somente pelos governantes, mas também pelo clero, pelos
bispos, pelos sacerdotes, para que sejam fiéis e santos.
Claro, devemos batalhar na esfera pública
pela realeza de Nossa Senhora, mas devemos começar reconhecendo a
realeza dela sobre a nossa alma. Uma ação individual tem um efeito sobre
toda a sociedade, inevitavelmente. Assim, um pecado individual, ainda
que praticado sozinho, sem o conhecimento dos outros, traz um prejuízo
para a sociedade, porque esse pecado prejudicou ao menos um membro da
sociedade e, ao prejudicar um membro, é toda a sociedade que é
prejudicada. De forma semelhante, mas ainda mais intensa, uma ação
meritória traz um benefício para toda a sociedade ainda que seja uma
ação desconhecida das outras pessoas, pois essa ação fez um bem ao menos
para um membro da sociedade, e, ao beneficiar um membro da sociedade,
toda a sociedade é beneficiada. Portanto, caros católicos, podemos
imaginar o bem que traz para a sociedade a alma que se consagra
totalmente a Nossa Senhora e vive realmente essa consagração. Se
queremos mudar a sociedade, devemos primeiro mudar a nós mesmos.
Roguemos a Maria Santíssima para que
alcance de seu divino Filho misericórdia para nosso país tão ingrato com
os benefícios divinos, benefícios naturais e sobrenaturais. Em
particular, o benefício de ter dado ao nosso país, por meio dos
missionários portugueses, a fé. A fé católica, que cada vez mais se
enfraquece em nossa sociedade, nos fazendo voltar a viver como pagãos.
Roguemos a Maria para que tenha piedade de nosso país, que está em
ruínas espiritualmente falando. E quando uma sociedade está em ruína
espiritualmente, todo o resto termina também desmoronando. Nós
repetiremos, após a Missa, a oração e a consagração a Nossa senhora
Aparecida feita pelos bispos do Brasil diante das autoridades civis em
1931. Faremos a nossa parte para que o Brasil reconheça a sua rainha e a
sirva dignamente, para assim servir ao Rei dos reis, NSJC. Faremos a
nossa parte para honrar publicamente a Nossa Senhora Aparecida. Se Nossa
senhora for devidamente honrada publicamente nos dará abundantes
graças, como ao ser encontrada nas águas do Rio Paraíba fez com que a
pesca fosse abundante. Sem Maria, não há peixes. Com Maria, eles são
abundantes.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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