30 de outubro de 2013

Sermão Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei – Padre Daniel Pinheiro.

[Sermão] Cristo, Rei das Nações pelo reinado em nossas almas

Sermão para a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei

                Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
                Ave Maria…

                “A turba ímpia grita: não queremos que Cristo reine. Nós, com alegria, dizemos que sois o Rei Supremo de todas as coisas” (Hino das Vésperas da Festa de Cristo Rei).

                Caros católicos, hoje é talvez a festa mais importante do ano litúrgico para os nossos tempos atuais: a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei. Não digo que seja a festa litúrgica mais importante em si mesma, pois é claro que temos o Natal, a Páscoa, a Epifania e tantas outras festas tão tradicionais e importantíssimas. Digo que ela é a mais importante pelas circunstâncias em que vivemos, pelo momento da história em que vivemos. Momento de apostasia das nações. Não há, infelizmente, outra palavra, caros católicos. As nações abandonam completamente Deus, abandonam completamente NSJC, abandonam completamente a Igreja. Constatando o estado de coisas já em 1925, o Papa Pio XI, com grande sabedoria, instituiu a Festa de Cristo Rei no último domingo de outubro. O Santo Padre sabia que a melhor maneira de inculcar no povo e lembrar ao povo o reinado social de NSJC é por meio da liturgia. Uma liturgia que proclamasse claramente o reinado de NSJC sobre todas as coisas. Rei das almas e das consciências. Rei das inteligências e das vontades. Rei das famílias, da cidade, do povo, da nação, do mundo todo, de todas as coisas. O drama de nossa época é o abandono completo de Cristo e de sua Igreja por parte da sociedade. Daí a importância da festa de Cristo Rei ser celebrada em conformidade com a verdadeira intenção com que foi criada, ou seja, para que se afirme a realeza social de NSJC. Essa festa não diz respeito ao reinado de NS com a sua vinda gloriosa. Não. Essa festa diz que NS deve reinar desde já, em todos os aspectos da vida humana, do aspecto mais individual ao mais social. E por isso a celebramos agora e não no final do ano litúrgico, que faz referência à vinda gloriosa de Cristo, como se ele fosse reinar somente a partir desse momento. Não. Ele reina desde já. Do íntimo de nossa consciência aos atos públicos do governo, em todas as coisas Cristo deve reinar. Essa festa de Cristo Rei bem compreendida é o terror dos inimigos da Igreja, é o terror do mundo e do demônio. Ela se opõe frontalmente ao laicismo, esse erro perverso que afirma que o Estado não deve ter religião ou que o Estado deve dar iguais direitos a todas as religiões. Pio XI classificava o laicismo como peste da nossa época. O laicismo, fruto do protestantismo e da filosofia moderna, busca construir o reino do homem. Por trás da bandeira do laicismo, excluindo toda possiblidade do reino social de Cristo, se unem as forças dissolventes do liberalismo, da maçonaria, do socialismo, do comunismo, para citar alguns dos inimigos da Igreja (Mons. Antonio Piolanti, antigo Reitor da Pontifícia Universidade Lateranense, no Livro Dio Uomo, 2ª edição, 1995, p. 653).  Mas se essa festa é o terror dos inimigos da Igreja, Ela deve ser de um grande consolo para os católicos e celebrada com muita alegria.
                Nosso Senhor é, portanto, Rei. Ele é Rei porque é Deus e todas as coisas dependem dele para ser e existir e para se conservar no ser e para poder agir. Todavia, Ele é Rei também enquanto homem. NS é Rei enquanto homem em virtude da união íntima com o Verbo de Deus, ao ponto de haver em Cristo uma só Pessoa, a Pessoa Divina, embora haja nEle duas naturezas, a divina e a humana. Em virtude dessa união, chamada união hipostática, a humanidade de Cristo tem uma excelência e uma dignidade que superam toda e qualquer criatura e que faz dEle verdadeiramente a cabeça, o chefe de todo o gênero humano e de todas as coisas. E NS é Rei enquanto homem também por direito de aquisição. Ao morrer na Cruz, ao derramar o seu sangue divino por nós, Cristo adquiriu sobre nós um domínio soberano, tornou-se nosso Rei por direito. Como nos diz a Igreja no Hino Vexilla Regis, para o Tempo da Paixão: Regnavit a ligno Deus. Deus reinou do madeiro, da cruz. Deus Reinou do madeiro por amor, ao morrer para nos salvar. Portanto, toda criatura deve se submeter a Cristo como a um rei soberano porque Ele é Deus, porque Ele está acima de todos nós por sua excelência e porque nos redimiu na Cruz.
Entre as criaturas, estão as sociedades, que são consequência da natureza social do homem. O homem precisa da sociedade para assegurar o que é útil e necessário para a sua vida, para poder viver com perfeição. Portanto, ao criar o homem assim, Deus criou também a sociedade. As sociedades, por meio de seus representantes, são capazes de reconhecer a verdade e de praticar o bem. Por exemplo, o Estado, por meio de seus representantes competentes, é capaz de chegar à conclusão de que se deve fazer tal obra para o bem dos cidadãos. De modo semelhante, a sociedade pode e deve reconhecer que Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus e Rei e ela deve reconhecer que para honrá-lo como tal é preciso se conformar àquilo que Ele Revelou, ou seja, é preciso estar unido à Igreja que Ele fundou e favorecer essa Igreja. Assim, as sociedades são obrigadas a cultuar NS publicamente conforme a verdadeira religião. Todas as sociedades são obrigadas a isso, desde a família até o Estado. Tudo deve se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo e a suas leis. Os governantes devem honrá-lo publicamente. Os magistrados e professores devem venerá-lo. As artes e as leis devem exprimir a realeza de Nosso Senhor (como nos diz o hino das Véperas da Festa de hoje. Hino Te Saeculorum Principem, das Vésperas de Cristo Rei).
Deve, portanto, haver união entre a Igreja e o Estado. Não se trata de uma confusão entre os dois, mas de união. Essa união não significa que a Igreja deva gerir as coisas puramente temporais do Estado ou ditar qual deve ser a forma de governo, por exemplo. Não. Essa união significa que as leis da Igreja e a doutrina católica, que dizem respeito à salvação das almas, devem ser respeitadas pelo Estado. Assim, por exemplo, na educação e no matrimônio o Estado deve aplicar as leis da Igreja. O Estado ao buscar o bem comum dos seus cidadãos, deve garantir não somente os bens temporais – materiais e culturais – aos cidadãos, mas deve proceder de forma que os cidadãos possam ter com facilidade e em abundância os bens espirituais que são necessários para que eles conduzam religiosamente a sua vida. Entre esses bens espirituais, o mais importante é o de poder conhecer, amar e servir a NSJC. E não basta ao Estado garantir o acesso dos cidadãos à religião católica, mas deve ele próprio prestar vassalagem a NS pelos atos de culto da religião católica, respeitando as leis de Deus e da Igreja. Resta óbvio que essa doutrina do Reinado Social de NSJC, da união entre Igreja e Estado, só pode aplicar-se plenamente em um Estado em que a maioria dos cidadãos é católica. Nesse caso, o poder civil deve procurar os meios e condições intelectuais, sociais e morais pelos quais os fiéis possam perseverar na fé. Isso inclui a regulação das manifestações públicas de outras religiões, que podem colocar em perigo a salvação dos cidadãos. Não se trata, como é evidente, de converter ninguém à força, nem de forçar a consciência, mas de favorecer a verdadeira religião. Por outro lado, o Estado pode ver-se obrigado, em alguns casos, a tolerar uma falsa religião, para evitar um mal maior ou para que se alcance um bem maior. Mas trata-se de tolerância, portanto, de se permitir um mal em vista de um bem. Não se trata de igualar a verdade e o erro, não se trata de colocar em pé de igualdade a religião fundada por NS e o erro. No Estado em que a maior parte dos cidadãos não professa a fé católica ou não conhece a Revelação, o poder civil não católico deve ao menos conformar-se aos preceitos da lei natural – se submetendo assim ao criador – e deve assegurar a liberdade para que a Igreja exerça com liberdade a sua missão.
O Estado, como criatura, deve, então, honrar devidamente a NSJC, isto é, deve honrá-lo como Ele quer ser honrado. Uma criatura que não venera e não cultua devidamente o seu criador está fadada a sofrer graves consequências. Para o homem individualmente considerado, essa consequência é a condenação eterna. Para a sociedade, a consequência de não se cultuar NSJC é o caos social, é o desaparecimento dos primeiros princípios necessários para vida em comum, é o desaparecimento dos primeiros princípios da vida moral, é o indiferentismo religioso dos cidadãos. O Estado que não cultua  NSJC devidamente está fadado ao fracasso na sua mais alta missão, que é a de ajudar seus cidadãos a praticarem a virtude. E, assim, os cidadãos são prejudicados no caminho da salvação. Um Estado que não cultua seu criador prepara a sua ruína mais completa.
Nós, então, diante disso, devemos fazer algo pela nossa pátria, cumprindo nosso dever da virtude de piedade, virtude de piedade que nos manda ajudar a nossa pátria e nos manda procurar o bem dela. Nós devemos fazer algo para que a nossa pátria reconheça e se submeta à realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso fazer a nossa parte para que a sociedade compreenda que ela deve honrar NSJC e sua Igreja. Alguns acham que a solução está na volta da monarquia. Ora, é preciso dizer que uma monarquia por si só não resolve nada, pois uma monarquia também pode ser liberal, desligada de Deus e da Igreja. A Igreja não tem preferência por uma forma de governo particular, desde que na democracia, na aristocracia ou na monarquia se reconheça que o poder vem de Deus e não do povo, desde que se reconheça a realeza de NSJC e se submeta a suas leis. Claro que para uma dada nação pela sua mentalidade e pelas circunstâncias, uma forma de governo pode ser mais adaptada do que outra. Isso, porém, não é o essencial. O essencial é que o poder civil honre publicamente a NSJC, cultuando-o e observando as suas leis. Outros acham que a solução consiste no combate ao marxismo, aliando todas as forças contra ele. Aqui, também, o mero combate ao marxismo não basta se não se combate ao mesmo tempo os outros erros, em particular o liberalismo, que diz que o homem pode professar livremente sem problema a religião que mais lhe agrada, que afirma que a consciência é livre para decidir o que é bom ou mau, que diz que o Estado não deve ter religião. Não basta combater o marxismo sem propor a solução: o reinado social de NSJC. A única solução para ajudar o nosso país é ter como finalidade o Reino Social de NSJC, é buscar que a sociedade o reconheça e se submeta a ele. Para fazer isso, caros católicos, o primeiro e mais importante passo é que NS reine nas nossas vidas e nas nossas famílias, é buscar realmente a santidade, com determinação, desejando-a realmente. O reinado de Cristo deve começar pelas nossas almas, por todos os aspectos de nossas vidas. É preciso que Cristo reine nas nossas inteligências pela fé. É preciso que Ele reine na nossa vontade pela caridade. É preciso que Ele reine em todos os nossos afetos pela temperança, pela fortaleza. É preciso que Ele reine em todas as nossas atividades, na profissão, nas diversões, nosso modo de ser. É preciso que Ele reine na vida familiar, no matrimônio, no uso do matrimônio, na educação dos filhos. É preciso que Ele reine, caros católicos, em tudo. Não adianta reclamar das condições em que vivemos se não buscamos mudar isso pela santidade. É pela santidade, pela prática das virtudes e reconhecendo a realeza de Nosso Senhor em todos os aspectos de nossa vida que poderemos alcançar a realeza social de NS. É observando os mandamentos e evitando o pecado que contribuiremos para o reinado social de Cristo. Quando pecamos, recusamos obedecer a Nosso Senhor Jesus Cristo, e aumentamos o poder do príncipe do mundo, do demônio. Pelo pecado, favorecemos o reinado do príncipe desse mundo. Portanto, será pouco eficaz o combate pelo reinado social de Cristo, o combate para que a civilização volte a ser formada pela lei de Cristo, se com os nossos pecados favorecemos justamente o reino do príncipe desse mundo. Não adianta, ou muito pouco, ser um paladino da Tradição e do reinado social de Cristo, na internet ou algures, se Cristo não é realmente o Rei de nossas almas.  Portanto, caros católicos, façamos um profundo exame de consciência, para que Cristo possa reinar na nossa inteligência, na nossa vontade, na nossa consciência, em nossos afetos, em todas as nossas ações, em nossa família, em tudo. Primeiro, para podermos nos salvar. Mas também para que Ele reine na sociedade. Se Cristo reinar em nossa alma, o necessário combate público pelo seu reinado social será verdadeiramente eficaz. Convertamo-nos a Cristo Rei. Coloquemos tudo a seus pés e carreguemos o jugo leve e suave de Cristo Rei. A Missa Tradicional exprime claramente o reinado de Cristo. Tudo nela, absolutamente tudo, está voltado para Ele, diz respeito a Ele. Nela, é Cristo o centro, o Rei. Aprendamos com a liturgia. Oportet illum regnare (é preciso que Ele Reine), como diz São Paulo. E esse reinado de Cristo trará grandes benefícios para a sociedade. Ele trará a verdadeira ordem, e o verdadeiro progresso, que é o progresso nas virtudes. Viva Cristo Rei! Rei de nossas almas. Rei das Nações.

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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