[Sermão] Cristo, Rei das Nações pelo reinado em nossas almas
Sermão para a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“A turba ímpia grita: não
queremos que Cristo reine. Nós, com alegria, dizemos que sois o Rei
Supremo de todas as coisas” (Hino das Vésperas da Festa de Cristo Rei).
Caros católicos, hoje é
talvez a festa mais importante do ano litúrgico para os nossos tempos
atuais: a Festa de Nosso Senhor Jesus Cristo Rei. Não digo que seja a
festa litúrgica mais importante em si mesma, pois é claro que temos o
Natal, a Páscoa, a Epifania e tantas outras festas tão tradicionais e
importantíssimas. Digo que ela é a mais importante pelas circunstâncias
em que vivemos, pelo momento da história em que vivemos. Momento de
apostasia das nações. Não há, infelizmente, outra palavra, caros
católicos. As nações abandonam completamente Deus, abandonam
completamente NSJC, abandonam completamente a Igreja. Constatando o
estado de coisas já em 1925, o Papa Pio XI, com grande sabedoria,
instituiu a Festa de Cristo Rei no último domingo de outubro. O Santo
Padre sabia que a melhor maneira de inculcar no povo e lembrar ao povo o
reinado social de NSJC é por meio da liturgia. Uma liturgia que
proclamasse claramente o reinado de NSJC sobre todas as coisas. Rei das
almas e das consciências. Rei das inteligências e das vontades. Rei das
famílias, da cidade, do povo, da nação, do mundo todo, de todas as
coisas. O drama de nossa época é o abandono completo de Cristo e de sua
Igreja por parte da sociedade. Daí a importância da festa de Cristo Rei
ser celebrada em conformidade com a verdadeira intenção com que foi
criada, ou seja, para que se afirme a realeza social de NSJC. Essa festa
não diz respeito ao reinado de NS com a sua vinda gloriosa. Não. Essa
festa diz que NS deve reinar desde já, em todos os aspectos da vida
humana, do aspecto mais individual ao mais social. E por isso a
celebramos agora e não no final do ano litúrgico, que faz referência à
vinda gloriosa de Cristo, como se ele fosse reinar somente a partir
desse momento. Não. Ele reina desde já. Do íntimo de nossa consciência
aos atos públicos do governo, em todas as coisas Cristo deve reinar.
Essa festa de Cristo Rei bem compreendida é o terror dos inimigos da
Igreja, é o terror do mundo e do demônio. Ela se opõe frontalmente ao
laicismo, esse erro perverso que afirma que o Estado não deve ter
religião ou que o Estado deve dar iguais direitos a todas as religiões.
Pio XI classificava o laicismo como peste da nossa época. O laicismo,
fruto do protestantismo e da filosofia moderna, busca construir o reino
do homem. Por trás da bandeira do laicismo, excluindo toda possiblidade
do reino social de Cristo, se unem as forças dissolventes do
liberalismo, da maçonaria, do socialismo, do comunismo, para citar
alguns dos inimigos da Igreja (Mons. Antonio Piolanti, antigo Reitor da
Pontifícia Universidade Lateranense, no Livro Dio Uomo, 2ª edição, 1995,
p. 653). Mas se essa festa é o terror dos inimigos da Igreja, Ela deve
ser de um grande consolo para os católicos e celebrada com muita
alegria.
Nosso Senhor é, portanto,
Rei. Ele é Rei porque é Deus e todas as coisas dependem dele para ser e
existir e para se conservar no ser e para poder agir. Todavia, Ele é
Rei também enquanto homem. NS é Rei enquanto homem em virtude da união
íntima com o Verbo de Deus, ao ponto de haver em Cristo uma só Pessoa, a
Pessoa Divina, embora haja nEle duas naturezas, a divina e a humana. Em
virtude dessa união, chamada união hipostática, a humanidade de Cristo
tem uma excelência e uma dignidade que superam toda e qualquer criatura e
que faz dEle verdadeiramente a cabeça, o chefe de todo o gênero humano e
de todas as coisas. E NS é Rei enquanto homem também por direito de
aquisição. Ao morrer na Cruz, ao derramar o seu sangue divino por nós,
Cristo adquiriu sobre nós um domínio soberano, tornou-se nosso Rei por
direito. Como nos diz a Igreja no Hino Vexilla Regis, para o Tempo da
Paixão: Regnavit a ligno Deus. Deus reinou do madeiro, da cruz. Deus
Reinou do madeiro por amor, ao morrer para nos salvar. Portanto, toda
criatura deve se submeter a Cristo como a um rei soberano porque Ele é
Deus, porque Ele está acima de todos nós por sua excelência e porque nos
redimiu na Cruz.
Entre as criaturas, estão as sociedades,
que são consequência da natureza social do homem. O homem precisa da
sociedade para assegurar o que é útil e necessário para a sua vida, para
poder viver com perfeição. Portanto, ao criar o homem assim, Deus criou
também a sociedade. As sociedades, por meio de seus representantes, são
capazes de reconhecer a verdade e de praticar o bem. Por exemplo, o
Estado, por meio de seus representantes competentes, é capaz de chegar à
conclusão de que se deve fazer tal obra para o bem dos cidadãos. De
modo semelhante, a sociedade pode e deve reconhecer que Nosso Senhor
Jesus Cristo é Deus e Rei e ela deve reconhecer que para honrá-lo como
tal é preciso se conformar àquilo que Ele Revelou, ou seja, é preciso
estar unido à Igreja que Ele fundou e favorecer essa Igreja. Assim, as
sociedades são obrigadas a cultuar NS publicamente conforme a verdadeira
religião. Todas as sociedades são obrigadas a isso, desde a família até
o Estado. Tudo deve se submeter a Nosso Senhor Jesus Cristo e a suas
leis. Os governantes devem honrá-lo publicamente. Os magistrados e
professores devem venerá-lo. As artes e as leis devem exprimir a realeza
de Nosso Senhor (como nos diz o hino das Véperas da Festa de hoje. Hino
Te Saeculorum Principem, das Vésperas de Cristo Rei).
Deve, portanto, haver união entre a
Igreja e o Estado. Não se trata de uma confusão entre os dois, mas de
união. Essa união não significa que a Igreja deva gerir as coisas
puramente temporais do Estado ou ditar qual deve ser a forma de governo,
por exemplo. Não. Essa união significa que as leis da Igreja e a
doutrina católica, que dizem respeito à salvação das almas, devem ser
respeitadas pelo Estado. Assim, por exemplo, na educação e no matrimônio
o Estado deve aplicar as leis da Igreja. O Estado ao buscar o bem comum
dos seus cidadãos, deve garantir não somente os bens temporais –
materiais e culturais – aos cidadãos, mas deve proceder de forma que os
cidadãos possam ter com facilidade e em abundância os bens espirituais
que são necessários para que eles conduzam religiosamente a sua vida.
Entre esses bens espirituais, o mais importante é o de poder conhecer,
amar e servir a NSJC. E não basta ao Estado garantir o acesso dos
cidadãos à religião católica, mas deve ele próprio prestar vassalagem a
NS pelos atos de culto da religião católica, respeitando as leis de Deus
e da Igreja. Resta óbvio que essa doutrina do Reinado Social de NSJC,
da união entre Igreja e Estado, só pode aplicar-se plenamente em um
Estado em que a maioria dos cidadãos é católica. Nesse caso, o poder
civil deve procurar os meios e condições intelectuais, sociais e morais
pelos quais os fiéis possam perseverar na fé. Isso inclui a regulação
das manifestações públicas de outras religiões, que podem colocar em
perigo a salvação dos cidadãos. Não se trata, como é evidente, de
converter ninguém à força, nem de forçar a consciência, mas de favorecer
a verdadeira religião. Por outro lado, o Estado pode ver-se obrigado,
em alguns casos, a tolerar uma falsa religião, para evitar um mal maior
ou para que se alcance um bem maior. Mas trata-se de tolerância,
portanto, de se permitir um mal em vista de um bem. Não se trata de
igualar a verdade e o erro, não se trata de colocar em pé de igualdade a
religião fundada por NS e o erro. No Estado em que a maior parte dos
cidadãos não professa a fé católica ou não conhece a Revelação, o poder
civil não católico deve ao menos conformar-se aos preceitos da lei
natural – se submetendo assim ao criador – e deve assegurar a liberdade
para que a Igreja exerça com liberdade a sua missão.
O Estado, como criatura, deve, então,
honrar devidamente a NSJC, isto é, deve honrá-lo como Ele quer ser
honrado. Uma criatura que não venera e não cultua devidamente o seu
criador está fadada a sofrer graves consequências. Para o homem
individualmente considerado, essa consequência é a condenação eterna.
Para a sociedade, a consequência de não se cultuar NSJC é o caos social,
é o desaparecimento dos primeiros princípios necessários para vida em
comum, é o desaparecimento dos primeiros princípios da vida moral, é o
indiferentismo religioso dos cidadãos. O Estado que não cultua NSJC
devidamente está fadado ao fracasso na sua mais alta missão, que é a de
ajudar seus cidadãos a praticarem a virtude. E, assim, os cidadãos são
prejudicados no caminho da salvação. Um Estado que não cultua seu
criador prepara a sua ruína mais completa.
Nós, então, diante disso, devemos fazer
algo pela nossa pátria, cumprindo nosso dever da virtude de piedade,
virtude de piedade que nos manda ajudar a nossa pátria e nos manda
procurar o bem dela. Nós devemos fazer algo para que a nossa pátria
reconheça e se submeta à realeza de Nosso Senhor Jesus Cristo. É preciso
fazer a nossa parte para que a sociedade compreenda que ela deve honrar
NSJC e sua Igreja. Alguns acham que a solução está na volta da
monarquia. Ora, é preciso dizer que uma monarquia por si só não resolve
nada, pois uma monarquia também pode ser liberal, desligada de Deus e da
Igreja. A Igreja não tem preferência por uma forma de governo
particular, desde que na democracia, na aristocracia ou na monarquia se
reconheça que o poder vem de Deus e não do povo, desde que se reconheça a
realeza de NSJC e se submeta a suas leis. Claro que para uma dada nação
pela sua mentalidade e pelas circunstâncias, uma forma de governo pode
ser mais adaptada do que outra. Isso, porém, não é o essencial. O
essencial é que o poder civil honre publicamente a NSJC, cultuando-o e
observando as suas leis. Outros acham que a solução consiste no combate
ao marxismo, aliando todas as forças contra ele. Aqui, também, o mero
combate ao marxismo não basta se não se combate ao mesmo tempo os outros
erros, em particular o liberalismo, que diz que o homem pode professar
livremente sem problema a religião que mais lhe agrada, que afirma que a
consciência é livre para decidir o que é bom ou mau, que diz que o
Estado não deve ter religião. Não basta combater o marxismo sem propor a
solução: o reinado social de NSJC. A única solução para ajudar o nosso
país é ter como finalidade o Reino Social de NSJC, é buscar que a
sociedade o reconheça e se submeta a ele. Para fazer isso, caros
católicos, o primeiro e mais importante passo é que NS reine nas nossas
vidas e nas nossas famílias, é buscar realmente a santidade, com
determinação, desejando-a realmente. O reinado de Cristo deve começar
pelas nossas almas, por todos os aspectos de nossas vidas. É preciso que
Cristo reine nas nossas inteligências pela fé. É preciso que Ele reine
na nossa vontade pela caridade. É preciso que Ele reine em todos os
nossos afetos pela temperança, pela fortaleza. É preciso que Ele reine
em todas as nossas atividades, na profissão, nas diversões, nosso modo
de ser. É preciso que Ele reine na vida familiar, no matrimônio, no uso
do matrimônio, na educação dos filhos. É preciso que Ele reine, caros
católicos, em tudo. Não adianta reclamar das condições em que vivemos se
não buscamos mudar isso pela santidade. É pela santidade, pela prática
das virtudes e reconhecendo a realeza de Nosso Senhor em todos os
aspectos de nossa vida que poderemos alcançar a realeza social de NS. É
observando os mandamentos e evitando o pecado que contribuiremos para o
reinado social de Cristo. Quando pecamos, recusamos obedecer a Nosso
Senhor Jesus Cristo, e aumentamos o poder do príncipe do mundo, do
demônio. Pelo pecado, favorecemos o reinado do príncipe desse mundo.
Portanto, será pouco eficaz o combate pelo reinado social de Cristo, o
combate para que a civilização volte a ser formada pela lei de Cristo,
se com os nossos pecados favorecemos justamente o reino do príncipe
desse mundo. Não adianta, ou muito pouco, ser um paladino da Tradição e
do reinado social de Cristo, na internet ou algures, se Cristo não é
realmente o Rei de nossas almas. Portanto, caros católicos, façamos um
profundo exame de consciência, para que Cristo possa reinar na nossa
inteligência, na nossa vontade, na nossa consciência, em nossos afetos,
em todas as nossas ações, em nossa família, em tudo. Primeiro, para
podermos nos salvar. Mas também para que Ele reine na sociedade. Se
Cristo reinar em nossa alma, o necessário combate público pelo seu
reinado social será verdadeiramente eficaz. Convertamo-nos a Cristo Rei.
Coloquemos tudo a seus pés e carreguemos o jugo leve e suave de Cristo
Rei. A Missa Tradicional exprime claramente o reinado de Cristo. Tudo
nela, absolutamente tudo, está voltado para Ele, diz respeito a Ele.
Nela, é Cristo o centro, o Rei. Aprendamos com a liturgia. Oportet illum regnare
(é preciso que Ele Reine), como diz São Paulo. E esse reinado de Cristo
trará grandes benefícios para a sociedade. Ele trará a verdadeira
ordem, e o verdadeiro progresso, que é o progresso nas virtudes. Viva
Cristo Rei! Rei de nossas almas. Rei das Nações.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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