[Sermão]: O Santo Rosário: arma espiritual para alma, a Igreja e a sociedade
Sermão para a Solenidade da Festa de Nossa Senhora do Rosário – 20º Domingo depois de Pentecostes
Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Fazei-nos, Senhor, pelos mistérios do
Sacratíssimo Rosário, meditar na vida, paixão e glória de Vosso Filho
Unigênito, para que sejamos dignos das promessas d’Ele.” (Secreta da
Festa de Nossa senhora do Rosário).
Como sabemos, caros católicos, a festa de
Nossa Senhora do Rosário foi instituída pelo Papa São Pio V em 1571,
após a vitória dos católicos na batalha naval de Lepanto, contra os
mulçumanos turcos. O primeiro nome da festa foi o de Nossa Senhora da
Vitória. Logo em seguida, o Papa Gregório XIII mandou que a festa fosse
em honra de Nossa Senhora do Rosário. Provavelmente, o Papa Gregório
XIII queria não somente lembrar a vitória alcançada por Nossa Senhora,
mas também a principal arma empregada para que a vitória ocorresse: o
Santo Rosário, pois o Papa São Pio V pedira a todos os católicos que
rezassem o Terço, para que os católicos vencessem a batalha naval. Ao
mesmo tempo, todos os que estavam a bordo das galés também levavam
consigo o Rosário. E o estandarte da nau capitânia de Dom João de
Áustria, o chefe dos cristãos, era Cristo crucificado. E, além da cruz,
ele levava também uma cópia de uma misteriosa imagem de Nossa Senhora
que havia aparecido no manto de um índio no México. A bordo da nau de
Dom João de Áustria, estava, então, a imagem de Nossa Senhora de
Guadalupe. Os Missionários, graças a Deus, nos trouxeram a verdadeira
religião, nos trouxeram Jesus Cristo. O continente americano ajudava
agora, com Nossa Senhora de Guadalupe, na preservação do Velho
Continente, a Europa. A festa de Nossa Senhora do Rosário foi assim
instituída, por gratidão a tão boa Mãe e para favorecer a prática dessa
excelente devoção que é o Terço. Em Lepanto, a civilização cristã foi
salva contra a barbárie dos turcos mulçumanos pelo Rosário.
Como sabemos também, caros católicos, o
Santo Rosário foi a arma dada por Nossa Senhora a São Domingos de
Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, para ele vencer a heresia
albigense ou cátara, heresia descendente do maniqueísmo, e que atingia,
particularmente, o sul da França. Tratava-se de uma heresia monstruosa,
que considerava a matéria como um mal. Assim, havia a prática do
suicídio, eles se opunham ao matrimônio, pois o matrimônio, pela
procriação, geraria almas presas a corpos. Por outro lado, favoreciam
qualquer outro ato de luxúria, desde que se evitasse a concepção, e não
viam com maus olhos a união entre pessoas do mesmo sexo. Destruíam,
portanto, a família e combatiam muitas outras instituições sociais: eram
contra a pena de morte, contra qualquer tipo de guerra, ainda que
defensivas. Era uma heresia que conduzia ao caos social. Eles negavam,
evidentemente, a ressurreição da carne, mas acreditavam na reencarnação,
negavam o livre-arbítrio, etc. Muitas coisas que vemos amplamente
espalhadas em nossa sociedade, não por acaso. Tratava-se, então, de uma
heresia que se opunha à fé e que trazia grandes prejuízos à sociedade
civil. São Domingos com suas pregações, com suas virtudes, conseguiu
pouca coisa diante desses hereges. Foi com o Rosário dado por Nossa
Senhora que ele conseguiu tirar as almas desse erro tremendo. O Rosário,
na forma em que o conhecemos hoje, foi dado por Nossa Senhora a São
Domingos nessa ocasião. O Rosário é o protetor da civilização católica,
como vimos na batalha de Lepanto. O Rosário é também arma contra as
heresias, como visto no caso dos albigenses.
Caros católicos, se a oração do Rosário
pode fazer tanto bem em coisas de tal importância, quanto bem ele não
faz para a nossa alma? O terço é também oração eficaz, muito eficaz para
a nossa santificação, para que nos convertamos inteiramente a Nosso
Senhor Jesus Cristo. Se rezássemos bem o terço, a heresia do modernismo
já teria desaparecido. Essa heresia que, simplificando e resumindo,
consiste em afirmar que podemos acreditar no que quisermos e que podemos
fazer o que quisermos, desde que nos sintamos bem, desprezando aquilo
que nos foi dito por Deus. “Acredite no que quiser, siga a moral que
quiser, o importante é você se sentir bem, pois se se sente bem está com
Deus”, ouvimos com frequência. Se rezássemos bem o terço, nosso país
não estaria se afastando cada vez mais das leis de Deus. Se rezássemos
bem o terço, nos afastaríamos definitivamente dos pecados mortais e dos
pecados veniais deliberados, nos tornaríamos santos.
Se rezássemos bem o Terço… Mas o que é
rezar bem o Terço? Como rezá-lo bem? O Terço é uma oração vocal e
mental, caros católicos. Isso significa que devemos rezá-lo com todas as
condições necessárias para uma boa oração vocal: estar em estado de
graça, ou, ao menos, desejar verdadeiramente sair do estado de pecado
mortal, se nos encontramos nele. Em seguida, devemos pedir coisas úteis
para a nossa salvação, bens espirituais, antes de tudo. Devemos rezar
com recolhimento, com atenção, evitando as distrações voluntárias,
combatendo as involuntárias. Devemos rezá-lo com humildade, sabendo que
não somos dignos de sermos atendidos. Devemos rezar com resignação,
aceitando a vontade de Deus, que conhece perfeitamente o que é o melhor
para nós. Devemos rezar com perseverança e grande confiança de sermos
atendidos, se pedimos o que é bom para nossa alma. Se deixarmos uma
dessas coisas de lado, nosso Terço já não será muito eficaz, perderá
muito de sua potência. Mas o Terço é também oração mental, caros
católicos. Isso significa que, ao rezar o terço, devemos considerar os
mistérios da vida de Cristo e de Nossa Senhora e devemos tirar frutos,
resoluções práticas, para a nossa vida, para nos corrigirmos em tal
erro, para progredirmos em tal virtude, etc. O Terço bem rezado supõe
essa oração mental, essa consideração dos mistérios do Terço e a
resolução prática para progredirmos na prática do bem. Nessa união de
oração vocal e mental está a profunda riqueza do Terço. Ao rezarmos bem
as mais excelentes e perfeitas orações – Pai Nosso e Ave Maria – e
considerarmos os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos de Nosso
Senhor e Nossa Senhora, nos fixaremos no bem, nos tornaremos santos, nos
dirigiremos para o céu, trabalharemos para o bem da Igreja e da
sociedade.
Não é, porém, tarefa fácil conciliar a
oração vocal e mental no Santo Terço. Cada um pode procurar uma maneira
de conjugar a oração vocal e mental no Terço. Todavia, o Padre Antonio
Royo Marín nos indica um método eficaz e simples. Ele diz que devemos,
nas três primeiras Ave Marias de uma dezena, prestar atenção nas
palavras que estão sendo ditas. Aqui está a oração vocal. Nas três Ave
Marias seguintes, ele diz que devemos considerar o mistério em questão: a
encarnação, a agonia de Jesus, a coroação de Nossa senhora, etc. Nas
quatro últimas Ave Marias, devemos fazer uma pequena resolução para
nossa vida espiritual, de acordo com o mistério considerado. A humildade
para a encarnação, por exemplo. No começo, talvez tenhamos dificuldade,
mas o importante é não desistirmos nem desanimarmos, mas perseverarmos e
avançarmos, ainda que lentamente.
Rezar bem o Terço é uma grande arma no
combate espiritual. É uma arma tão importante que Nossa senhora veio até
nós insistir para que o rezássemos todos os dias. Em Fátima, Nossa
Senhora insiste para que se reze o terço todos os dias. Em cinco das
seis aparições, ela pede para que as crianças rezem o terço diário, para
que se alcance a paz e o fim da guerra, da 1ª Guerra Mundial, no caso.
Se nós queremos a verdadeira paz, que é a paz da graça, a paz do
verdadeiro amor a Deus, devemos rezar o terço. O Terço, quando bem
rezado, opera grandes prodígios, caros católicos. O maior deles é a
conversão de nossa alma. Quem reza bem o Terço vai deixar o pecado
grave. O terço e o pecado não podem coexistir durante muito tempo. Ou se
abandona um ou se abandona o outro. Aqueles que ainda não o rezam
diariamente, aproveitem essa festa de Nossa Senhora do Rosário e o mês
do Rosário – outubro – para tomar a resolução de rezá-lo diariamente.
Isso é fundamental. Rezemos o Terço e façamos isso em família, caros
católicos, na medida do possível. Infundam nos filhos um grande amor ao
Terço. Comecem a rezar com eles pequenos, pouco a pouco, com uma dezena,
depois duas, e assim por diante, na medida em que for possível para a
criança. As crianças de Fátima eram justamente crianças e rezavam o
Terço. Lúcia tinha 10 anos. Francisco, 9. Jacinta, 7. Se vocês ensinarem
os filhos a rezar o Terço, estarão lhes dando um grande tesouro.
No Evangelho de São João, nos é narrado
que, após a ressurreição de Cristo, houve mais uma pesca milagrosa em
que os apóstolos pescaram 153 peixes, sem que a rede se rompesse. O
Rosário completo é composto de 153 Ave Marias. O Rosário e a terça parte
dele – o nosso Terço – é como uma rede que captura graças abundantes
sem se romper. O Terço é a devoção que mais agrada a Nossa Senhora.
Quantas graças para aqueles que praticam e amam essa devoção. Se
rezássemos bem o terço, nossa alma seria outra, a situação da Igreja
seria outra, a condição da sociedade seria outra. Ficar se lamentando e
reclamando, não adianta nada. Tomemos nosso Terço e rezemos. Se queremos
nos tornar santos, se queremos destruir a heresia, se queremos
construir uma sociedade cristã, rezemos o Santo Terço.
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