24 de setembro de 2021

Teresa de Los Andes - Deus, Alegria Infinita - Diário e Cartas

O CÚMULO DA FELICIDADE E DA DOR

Domingo passado papai deu-me seu consentimento. Parece que ele se esquivou de encontrar-se a sós comigo; porém, aconteceu que as meninas Valdés Ossa mandaram-me buscar por seu papai para ir à fazenda onde me encontro. Então chamei-o ao meu quarto e pedi que me desse a permissão. E ali obtive esta resposta: "Se é essa a vontade de Deus e a tua felicidade, eu não me oponho". Depois perguntou-me quando queria ir, se no princípio ou no fim de maio. Eu disse que no dia 7 e ele disse: "Filhinha, faça como quiser".
Ontem comunguei pela primeira vez depois de ter a permissão.
Não podia senão chorar diante de tão grande favor do bom Jesus. Estou no cúmulo da felicidade e da dor. A senhora, Madre, que passou por estas circunstâncias, pode compreender que existem na alma contrastes tão grandes de sentimentos. Quando penso no favor que Nosso Senhor vai me conceder, e por outro lado vejo minha miséria e indignidade, confundo-me... Eu o amo e por ele vou deixar tudo. Porém esse tudo é tão pequena coisa comparado com o tudo de seu amor.
Que feliz me sinto ao contemplar tão próxima a minha bendita montanha do Carmelo. Logo subirei a ela para viver crucificada.
Minha mamãezinha contou-me que meu irmão já sabe e também o meu cunhado. Disse-me que o primeiro está quase desesperado e chora muito (Santiago, 8-4-1919 e Cunaco, 12-4-1919).
Só me restam 20 dias e depois... o Calvário, o céu. Já estou subindo ao cume. A dor da separação é tão intensa que não há palavras para expressá-la. Contudo, Deus me sustenta e, mesmo quando vejo todos os meus a chorar, permaneço sem fazê-lo, sem nem sequer demonstrar sofrimento. Isto é horrível; porém conto com a graça de Deus que nestes momentos ultrapassa todo limite (Santiago, abril 1.919).
Diga às minhas irmãzinhas que me alcancem de Nosso Senhor a graça do sofrimento mais intenso para mim nestes dias e no momento de efetuar o sacrifício. Porém, peçam-lhe que seja muito interior, de modo que ninguém o saiba e perceba no meu semblante; porém, acima de tudo, peçam-lhe que cumpra em mim sua divina vontade (Santiago, 4-5-1919).

QUE DEUS LHE PAGUE

Meu paizinho lindo, que Deus lhe pague mil vezes. Faltam-me palavras para agradecer-lhe como desejo. Sentia neste momento o sofrimento maior da minha vida ao ver que, pela primeira vez, seria eu a causa de suas lágrimas. Contudo, tive a força necessária para suportá-lo. Papaizinho meu, é Deus que dá a energia aos nossos corações para fazer o sacrifício mais custoso nesta vida. Tal é o que você vai oferecer (Cunaco, 7-4-1919).
Não imagina como agradeço, cada dia mais, o seu consentimento.
Nisto conheci mais do que nunca o seu generoso coração e como é desinteressado. Quantos pais, olhando só seus interesses e para evitar a dor da separação, sacrificam a felicidade de suas filhas, retendo-as! Mas você, paizinho querido, sabe amar com verdadeiro carinho; e jamais esquecerei sua generosidade.
Quanto teria gostado de viver sempre ao seu lado acompanhando-o, e ser mais tarde em sua velhice o seu apoio e companheira inseparável. Porém, já que Deus determinou outra coisa, conformemo-nos: asseguro-lhe que não terá outra filha que o ame tanto e sempre o cerque com suas orações (Santiago, 18-4-1919).

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