15 de setembro de 2021

Teresa de Los Andes - Deus, Alegria Infinita - Diário e Cartas

1919

Até sua entrada no Carmelo - 7 de maio -, Juanita experimenta em seu espírito as emoções mais desencontradas, os contrastes mais fortes. Goza e sofre ao mesmo tempo com uma intensidade indescritível. Paradoxo que só quem está perdidamente enamorado pode entender. "Estou - escreve - no cúmulo da felicidade e da dor."
Alegria, felicidade, porque já vê próxima a realização de seu ideal longamente acariciado: ser carmelita. Entregar-se a Jesus sem reservas. Ser sua prisioneira. Viver imolando-se em silêncio pela Igreja, deixando-se invadir pelo amor até fundir-se, até transformar-se em Jesus.
Dor e tortura, porque tal transformação exige semelhança que não se consegue sem passar pelo crisol do sofrimento. Já vimos - em 1918 - que seu sonho sensível pelo Carmelo desapareceu, convertendo-se em motivo de dúvida e de tormento. Com a visita ao convento de Los Andes - 11 de janeiro - ilumina-se o horizonte. Vê claro que Deus a quer ali e renasce a calma em seu espírito. A mais intensa felicidade a invade. Porém começa o martírio de seu coração sensível.
Sofrimento horrível, dor imensa, martírio, luta contra a sua própria natureza, agonia, são palavras de Juanita que refletem o que significou para ela ser fiel à sua vocação. Ao pedir a permissão paterna, ao não ver senão lágrimas nos olhos de seu familiares, sente-se aniquilada, despedaçada de dor; a luta interior mais horrível se apodera dela. Porém o Senhor comunica-lhe uma energia e uma coragem indescritível para avançar com serenidade até o cume de seu Calvário: a separação dos seres que idolatra. Dá o passo definitivo e, como prêmio de sua generosidade, experimenta que, ao arrancar-se dos braços de sua mãe, Jesus lhe abre os seus, confortando-a e mimando-a.

PRESENTE DE NATAL, A CRUZ

A mim, como presente de Natal, trouxe-me sua cruz. Não imagina, minha queridíssima Madre, quanto sofri. Duvidar que Deus me queria para carmelita é o que constitui meu sofrimento. Toda a minha vida o desejei; porém agora hesito entre o Carmelo e o Sagrado Coração.
Reze muito para que, se for vontade de Deus, possa ter um motivo para ir até esse "pombalzinho". Creio que esta visita e falar com a Sra. servirão para convencer-me de que ali devo santificar-me.
Esta noite pensei que seria o último primeiro do ano que passaria entre os meus. Espero para o outro ano ser já toda dele.
Apesar de sentir felicidade em entregar-me ao meu Jesus, sentia uma mágoa imensa e teria chorado muito se não me sustentasse o pensamento que é necessário ter coração de homem e não de mulher já que ao Senhor agradam-lhe os espíritos fortes.
Esperamos dar meia-noite e saímos a andar. Ao passar pela alameda, sofri verdadeiramente ao ver essa multidão de gente entregue aos prazeres, sem pensar que esse ano que acabava era um a menos de vida, e eles alegravam-se inconscientes em meio ao pecado.
Ai! quanto se esquece de Deus e se o ofende! (10-1-1919).

A IDA A LOS ANDES

11 de janeiro de 1919. Não tenho palavras para expressar o agradecimento a meu Jesus. É demasiado bom. A ida a Los Andes que me parecia impossível, eu a tinha confiado a Nosso Senhor.
Se ele quisesse, bom; e se não, também bom. Cada dia cresciam mais minhas dúvidas. Estava numa perturbação tão grande que já não sabia o que se passava em mim, quando eis que todos os meninos foram ao campo com papai, arranjando-se tudo para eu poder ir com mamãe.
Fomos no expresso da manhã, e não pudemos voltar senão no da noite. Deus o permitiu para que eu ficasse mais tempo no meu conventinho. Quando chegamos lá, encontrei-me com uma casa pobre e velha. Sua pobreza falou-me ao coração. Senti-me atraída por ela.

* Juanita diz "Páscoa" c:omo é costume em seu país.

Fui ao locutório. Sentia-me numa felicidade e numa paz tão grandes que me é impossível explicar. Via claramente que Deus me queria ali e sentia-me com força para vencer todos os obstáculos para poder ser carmelita e encerrar-me ali para sempre. Falei com madre Angélica até às quatro e meia. Todas foram saudar-me com tanto carinho que me confundia. Elas demonstravam alegria e, ao mesmo tempo, uma familiaridade entre elas que me encantou.
Despedi-me com pena, ao mesmo tempo que levava minha alma cheia de felicidade. Deus havia trocado a tempestade em bonança; a perturbação em santa paz. Chegamos às onze e meia.
Só Rebeca nos esperava. Ninguém havia suspeitado. Como Deus, em sua bondade, arruma tudo para mim, sem eu fazer nada.

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