3 de setembro de 2021

Teresa de Los Andes - Deus, Alegria Infinita - Diário e Cartas

1918

Os desejos de Juanita de ingressar no Carmelo vão aumentando. Intensifica sua correspondência com o priora do convento de Los Andes e, em setembro, pede-lhe que, se houver uma vaga, admita-a em sua comunidade. A resposta afirmativa enche-a de alegria.

Porém Juanita não é uma sonhadora. Sabe que o amor é exigente. Que se vai ao convento para imolar-se com Cristo pela humanidade. Que em sua cela terá uma cruz de madeira sem Cristo. Que nessa cruz ter de morrer ao seu egoísmo, a quanto a impeça de repetir: "lá não sou eu que vivo, mas Jesus". Desde já, consciente de que o sacrifício da separação dos seus será dilacerante, aceita como providenciais, para ir preparando-se para tão terrível transe, todos os sofrimentos que se apresentam.

A luta que sustenta consigo mesma, para ser fiel ao chamado divino, não pode ser mais titânica. Ela mesma reconhece "o extremoso" que é seu carinho por seus familiares; que não acredita haver "irmãos tão unidos" quanto ela com os seus, e que "desejar carinhos é inato em mim, pois tenho Caráter mimado". As cartas familiares o confirmam; sobretudo as dirigidas a seu pai. Todas elas são impregnadas de carinho e afetuosa preocupação por ele e seus problemas, e sofrimento por não gozar de sua companhia.

Em 12 de agosto abandona definitivamente o internato. Desde então até sua entrada no Carmelo cuida da casa. E uma experiência enriquecedora. Ensina-lhe que em toda parte se pode viver segundo Deus, e que a vida do lar é muito sacrificada pois exige dedicação desinteressada aos demais.

EQUILÍBRIO PSICOLÓGICO

Seu equilíbrio é tal que, não obstante gozar de um trato tão sublime e íntimo com Deus, leva uma vida completamente normal. Assombra ver Juanita abismada na contemplação das perfeições de Deus, e ao mesmo tempo alegre, amável e comunicativa com os homens. Com igual naturalidade trata com Jesus de coração a coração como faz esporte e contagia de alegria a todos com suas brincadeiras inocentes e com seus ataques de riso. Vai conseguindo uma admirável harmonia, combinando invejavelmente o divino e o humano. Vai unificando sua vida humana, que se enriquece e plenifica ao ser orientada inteiramente segundo a vontade de Deus, que nos quer à sua imagem e semelhança.

NOITE ESCURA

Tal equilíbrio e naturalidade são mais de admirar porque, no transcurso deste ano, continua sofrendo dores e cansaço em seu corpo e sofrimentos na alma. O amor prossegue sua dolorosa obra de purificação, de eliminação de quanto a impede de assemelhar-se a Cristo. Atravessa um período atroz de trevas interiores. Seu grande sonho - a vocação ao Carmelo - se converte em motivo de dúvida e de tormento. Juanita mesma nos explica o porquê desta noite escura, na qual crê ter a alma "inteiramente abandonada por Deus". E que, apegados aos gostos sensíveis, costumamos buscar "as consolações de Deus, porém não a Deus. Isto é imperfeição. E Nosso Senhor, às vezes, purifica as almas que ama, dando-lhes securas. E só quando já não lhes importa sentir ou não o fervor sensível, então as regala e consola. Este é o maior sofrimento porque é da alma. Ela se vê abandonada às suas forças, separada de Deus a quem tanto ama, e cercada de tentações, cheia de fraquezas. Como será este sofrimento que Nosso Senhor, que não se queixou durante toda a sua paixão, ao ver-se abandonado por Deus o chamou com grande angústia: Deus meu, por que me abandonastes?

SINTO SEDE DO INFINITO

Estamos passando umas férias muito tranquilas e felizes . Pude continuar os mesmos exercícios de piedade que faço no colégio.
Cada dia penso mais no Carmelo e desejo mais ardentemente ir fechar-me naquele pedacinho do céu. Agora que tenho de tratar com gente do mundo, vi que não existe felicidade no mundo e sempre o seu trato deixa-me um vazio que o enche por completo Nosso Senhor.
Tudo que vejo leva-me a Deus. O mar em sua imensidade me faz pensar em Deus, em sua infinita grandeza. Sinto então sede do infinito.
Quando penso que quando for carmelita terei de abandonar tudo isto, digo a Nosso Senhor que toda a beleza, tudo que é grande o encontro nele. Pelo contrário, no mundo tudo é pequeno, passeigeiro e eu nada quero, senão a Jesus.
Estou lendo a vida de Sta. Teresa. Quanto me ensina! Quantos horizontes me descobre! (Algarrobo, 1 .0-2-1918).

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