16 de setembro de 2021

Teresa de Los Andes - Deus, Alegria Infinita - Diário e Cartas

ALI VIVE DEUS

Como é verdade que junto às rosas estão os espinhos. A lembrança do dia de ontem traz-me felicidade, porém ao mesmo tempo muito sofrimento, muita nostalgia. Se antes me considerava desterrada, agora o sou duplamente. Contudo não desejo ir-me hoje porque Nosso Senhor quer que eu vá em maio.
Como poderei expressar a gratidão que sinto pela senhora, Madre, e minhas irmãzinhas? Só ver o meu conventinho inundou de gozo a minha alma. Sua pobreza me atraiu. Suas palavras, seus conselhos, ver minhas irmãzinhas fizeram-me compreender duas coisas: 1º que ali vive Deus intimamente unido a cada alma, pois imediatamente cessaram minhas dúvidas, terminou minha luta e minha alma submergiu em grande paz; 2º que nesta vida, apesar de se sofrer, tudo é alegria e felicidade para a alma que se deu
a Deus. Bem o demonstraram as minhas irmãzinhas.
Rezem por mim para que cumpra a cada instante a vontade adorável de Deus, com essa alegria com que elas a cumprem (Santiago, 12-1-1919).

NASCI CARMELITA

Cumpriram-se por fim os desejos que abrigava havia quatro anos.
Conheci meu querido "pombalzinho". Que impressão causou em mim a vista do meu conventinho! Tem um aspecto muito pobre.
Não parece convento, mas uma casa antiga, porém sua pobreza fala muito bem em seu fervor. Apenas o vi encantou-me e me seduziu.
Falei com madre Angélica. Disse-me que achava as minhas dúvidas infundadas. Que desde minha primeira carta tinha visto que eu já nasci carmelita.
A carmelita tem sua cela separada. É aí que penetra como em um templo para sacrificar-se. Nela há uma grande cruz de madeira sem Cristo. É essa a cruz onde ela deve morrer. Nesse templo só ela entra. Está reservado só para Deus e a alma. Ali vive num completo isolamento das criaturas e ocupada só em Deus.
São encantadoras: tão alegres, tão sem etiquetas. Eu, no princípio, estava numa emoção intensa e um pouco envergonhada, porém depois, nada. Era uma tagarela. Brincamos como se nos tivéssemos conhecido sempre e uma simplicidade, uma confiança e intimidade. Entre elas mexiam comigo, riam. E isto desde a postulante até a madre Angélica. Cantou uma bem desafinada para rir e todas caçoavam dela. Acharam-me muito alta. Havia só duas da minha altura (Santiago, janeiro de 1919).

CONSIDERAM SUA VIDA INÚTIL

O fim da carmelita me entusiasma: rogar pelos pecadores; passar a vida inteira sacrificando-se, sem ver jamais os frutos da oração e do sacrifício; Unir-se a Deus para que assim circule nela o sangue redentor, e comunicá-lo à Igreja, a seus membros, para que assim se santifiquem. Seu lema me entusiasma: "Sofrer e amar" (Santiago, janeiro de 19 19).
Seu sacrifício é perpétuo, sem mitigação, desde que nasce para a vida religiosa até que morre como vítima, a exemplo de Jesus Cristo. E tudo em silêncio, sem que ninguém o saiba. Quantos há que consideram sua vida inútil. Entretanto, ela é como o Cordeiro de Deus que leva os pecados do mundo. Sacrifica-se para que voltem ao redil as ovelhas extraviadas. Porém, assim como a Cristo não o conheceu o mundo, a ela tampouco ele conhece. Esta abnegação completa me encanta. Não há lugar para o amor-próprio.
Não vê nem sequer o fruto de sua oração. Só no céu o saberá.
O fim a que se propõem é muito grande: rogar e santificar-se pelos pecadores e sacerdotes. Santificar-se a si mesma para que a seiva divina se comunique, pela união que existe entre os fiéis, a todos os membros da Igreja. Ela se imola sobre a cruz, e seu sangue cai sobre os pecadores pedindo misericórdia e arrependimento.
Cai sobre os sacerdotes santificando-os, já que na cruz está com Jesus, intimamente unida. Seu sangue está, pois, misturado com o divino.
A carmelita não pode possuir nada, o que faz que toda a capacidade de possuir seja preenchida só por Deus. Sendo pobre, assemelha-se mais ainda a seu Esposo divino que não teve onde reclinar a sua cabeça. A carmelita só deve possuir a Deus (São Paulo, 3-2-1919).

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