7 de julho de 2016

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência XV

Parte 3/7


B - Mas na linguagem popular cristã o filho não é só uma coisa santa. É também uma bênção divina; "Uma bênção divina" são justamente as mãos pequeninas e fracas da criança que ligam mais solidamente aos laços da família.
a - Primeiramente, a família se torna mais unida pelos sofrimentos e pelas dores suportadas em comum.
Quantas vezes não se renova sob formas diversas o caso de Santa Perpétua, com seu filhinho.
Quem é Santa Perpétua? A jovem esposa de um cartaginês ilustre, que sob a ordem do imperador Severo havia sido jogada na prisão, e esperava a morte, por causa de sua fé cristã. Não era a prisão que a fazia sofrer, mas o fato de estar separada de seu filho recém-nascido.
Pode-se ler, nos atos de seu martírio, as lamentações desta mulher heroica: "Durante dias e dias, estive a mercê de amargas preocupações. Finalmente, obtive que meu filho pudesse ficar comigo na prisão. A criança tornou-se logo mais forte, e eu mesma me restabeleci, cuidando de meu filho. E a prisão tornou-se para mim um salão de festas, onde eu estou mais satisfeita que em qualquer outro lugar" (Acta Sanctorum dos Bolandistas, t. 1, 632).
Que palavras magníficas! Cada mãe de família deveria meditá-las durante horas: Restabeleci-me, cuidando de meu filho. E a prisão tornou-se para mim uma sala de festas, porque meu filho estava comigo.
b - Mas a família esta estritamente unida não só pelos sofrimentos padecidos em comum, como também pelas alegrias recíprocas. E se o provérbio "Alegria partilhada, alegria dobrada" é verdadeiro, é igualmente verdade que a alegria partilhada entre os membros da família aumenta à medida que cresce o número dos membros, com os quais ele pode ser compartilhada.
São também de um grande valor educativo as pequeninas amabilidades que quebram a monotonia da vida quotidiana, tais como as felicitações de boas festas e de aniversário, as festas de família, as tardes de domingo passadas em uma doce intimidade, noite de natal esperada com emoção, etc.
E aqui preciso mostrar particularmente quanto seria importante proteger a família contra a dispersão e separação que em nossos dias, infelizmente, ameaçam-na sempre mais. A vida de família exige que os seus membros estejam reunidos em maior número possível. Infelizmente, as distrações modernas, o teatro, o cinema, esportes e reuniões diversas, afastam as pessoas de seu lar, e fazem perigar a tão necessária intimidade familiar.
Mas se não se passaram os anos da infância no circulo familiar, tão doce e tão quente, sentir-se-á aquela ausência em toda a vida sentimental e moral. Tem-se o costume de dizer, num sentido diferente, é verdade, falando-se de pessoas grosseiras e mal educadas, "sem educação"; como se poderia bem mais dizê-lo destes homens nervosos, desarvorados, indecisos, sem plano fixo, e sem finalidade definida porque lhes faltou na infância a felicidade da família. E se hoje aumenta cada vez mais o número destes, uma das principais razões é que o número de santuários familiais tão íntimos e tão doces diminui sempre mais.
c - E pela mesma razão deplora-se tenham desaparecido da atual vida de família tantos exercícios religiosos feitos em comum, que existiam nas nossas antigas famílias e cujo valor educativo é inegável.
Aquele que um dia esteve no meio da família católica na Holanda conserva uma lembrança inesquecível da oração da noite, tal como existe ainda hoje. Não só os pais se ajoelham com seus oito, dez ou doze filhos, mas todos os da casa se reúnem para a oração em comum. Há educação mais social, pode-se apresentar melhor formação de alma para a criança em seu crescimento, que o espetáculo do Pai celeste para a oração comum? E quando pais e filhos, juntos, vão se confessar, comungar, há aí uma educação pedagógica mais eficaz que toda a ordem ou admoestação feita pelos pais.
Naturalmente, é o espírito interior que dá seu verdadeiro valor às práticas religiosas exteriores: o amor infinito por Deus, a confiança de filho e a fé cujo poder sobrenaturaliza cada ação da família. O que quer que se dê na família: acontecimentos alegres ou tristes, o que quer que digam ou julguem os pais, que projetem ou façam, atrás de tudo isto irradia-se o desejo de cumprir a santa vontade de Deus. Estamos convictos de que, se os filhos aprenderem dos pais este modo de pensar, receberão deles uma lembrança mais preciosa que todas as riquezas.

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