24 de julho de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 152

CONTEMPLA-SE AO ESPELHO PELA ÚLTIMA VEZ

Na cidade de Florença vivia uma jovem. Que vaidosa que era! Só pensava em pentear a sua formosa cabeleira, acariciar e aformosear a sua carne. Diante do espelho, diariamente passava longas horas contemplando-se e estudando o grave problema de encontrar um meio de fazer sobressair ainda mais a sua graça e formosura...
Mas, por detrás do espelho, a enfermidade a espreitava... Meteu-lhe as garras e prostrou-a no leito de dores. A febre consumia todos os seus ossos e, dentro de poucos dias, de toda a sua beleza não restava mais que um rosto lívido e um punhado de ossos descarnados.
E por detrás da enfermidade apresentou-se, com sua terrível caveira e com seus ossos esqueléticos, a morte. Aquela jovem não contava mais de vinte anos e, no entanto, tinha de despedir-se da vida e de todas as coisas mundanas que tanto amava.
Disseram-lhe com delicadas palavras que o seu estado era muito grave e que, por isso, devia preparar-se para comparecer diante de Deus... A vaidosa jovem lançou um grito de dor. Olhou para trás e viu que perdera tristemente a vida esquecendo-se de Deus... Olhou para frente e compreendeu que estava a dois passos do Juiz dos céus e da terra, a quem terá de dar contas de todas as suas vaidades... Estava as portas do céu ou do inferno!
A consciência dizia-lhe aos gritos que muito tinha que temer por sua salvação eterna...
A febre converteu-lhe a cabeça numa fornalha de fogo. Saltou da cama, abriu seus cofres e seus armários, tirou os vestidos mais preciosos e as jóias mais ricas e começou a vestir-se e a enfeitar-se como naquelas noites em que se preparava para ir aos bailes e teatros... Como louca, e sustentada pela mesma febre, penteou-se e arranjou-se com toda a elegância... Contemplou-se ao espelho e pôs-se a exclamar: “Como sou formosa! como sou formosa!... E queriam enterrar-me a mim, a mulher mais formosa do mundo! Não, não... quero viver, quero viver... Venham minhas jóias, minhas pérolas, meus vestidos, meus anéis, minhas pulseiras, meus colares...”.
E fora de si, arrojava-se a todos os seus cofres, armários e baús, e tirava os seus tesouros e apertava-os contra o coração e beijava-os com loucura...
Sim, esteva louca! E louca continuou por alguns dias, e louca morreu... E metida num caixão, e vestida com uma pobre mortalha, levaram-na á sepultura.
Eis ai a verdade: A vaidade humana tem que deixar todos os seus tesouros nas garras frias e cruéis da morte.

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