13 de fevereiro de 2010

Domingo da Qüinquagésima: Eis que subimos a Jerusalém...

2.ª Homilia sobre os Evangelhos, do Papa São Gregório Magno

O nosso Redentor, prevendo a perturbação que a sua paixão provocaria nos ânimos dos discípulos, predisse-lhes muito antes a pena dessa mesma paixão e a glória da sua ressurreição, para que, enquanto Ele estivesse morto, eles fossem capazes de entender que era como Ele predissera, e, assim, não duvidassem da ressurreição. Mas, porque os discípulos, demasiado carnais, não podiam chegar a entender as palavras deste mistério, Ele recorreu a um milagre. Diante dos seus olhos, um cego recebeu a luz. Destarte, aqueles que não podiam entender os mistérios através de palavras, por meio de feitos, foram persuadidos, a crê-los.

Mas os milagres de nosso Senhor e Salvador devem ser recebidos, caríssimos irmãos, de modo que sejam cridos como tendo sido feitos, mas também como pretendendo significar-nos alguma coisa. As obras, pois, de Deus, pelo seu poder, ostentam uma coisa, e, pelo seu mistério, dizem outra. Eis, portanto, que ignoramos quem fosse historicamente esse cego, mas conhecemos quem ele significa no mistério. Porque o cego é a raça humana, que, nos primeiros pais, foi expulsa das alegrias do paraíso, e, ignorando a claridade da luz eterna, padece a desventura das suas trevas. Mas, ao mesmo tempo, é iluminada pela presença do seu Redentor, de modo que já veja, pelo desejo dela, as alegrias da luz interna, e, por meio de boas obras, ponha seus passos no caminho da vida.

É notável que o cego tenha sido iluminado justo quando se diz que Jesus se aproximava de Jericó. O nome "Jericó" significa "lua", e lua, na linguagem sagrada, simboliza a carne defectível, porque seu decréscimo no ciclo mensal se compara ao defeito da nossa mortalidade. Então, aproximando-se o nosso Criador de Jericó, restitui a luz a um cego, isto é: quando a divindade assumiu a defectibilidade da nostra carne, o gênero humano recebeu a luz que perdera. Por isso, em sofrendo Deus sob o fardo de ser um humano, o homem é elevado até Deus. Além disso, descreve-se o cego como estando sentado mendigando junto ao caminho, e eis que a própria Verdade disse: Eu sou o caminho.

Quem, pois, não conhece a claridade da luz eterna, é cego. Mas, se já crê no redentor, senta-se junto ao caminho. Porém, se já crê mas de modo que deixa de rogar que quer receber a luz eterna, e pára de rezar, então é um cego que se senta junto ao caminho, mas quase não mendiga. Se, todavia, crê e ora, senta-se junto ao caminho e mendiga.

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