25 de março de 2017

Tesouro de Exemplos - Parte 339

AI DE QUEM QUISER TOCAR NESTA CRUZ!

Zacarias é o filho primogênito de um velho francês, combatente valoroso pela religião e pela pátria. Todos os seus sucumbiram perante os inimigos superiores em número, e ei-los agora conduzidos pelos republicanos para serem fuzilados no prado de Briacé, onde se ergue um grande cruzeiro.
— Você é deste lugar? — perguntou a Zacarias um dos beleguins, apontando para o campanário da igreja.
— Sou, sim; respondeu o moço e, olhando para a direita, vê o sino de suas mais santas recordações. Uma lágrima corre-lhe pela face e um grito doloroso sai-lhe dos lábios: — Meu pobre pai!...
— Ah! você ainda tem pai?
— Sim, velho e infeliz. Ah! a minha morte sera também a sua.
O republicano, ao ver a comoção do rapaz, acrescentou com malicioso sorriso:
— Pois bem, se você quiser, viverão você e seu pai.
Zacarias lança-lhe um olhar interrogativo.
— Sim, você viverá; basta fazer o que se exigir de você.
O jovem, que jamais tremera no fragor dos combates, lança de novo um olhar para a casa paterna e exclama:
— Qual a condição para me restituirdes meu pai?
— Tome aquele machado e bote por terra aquela Cruz.
O jovem, numa agitação febril, corre para a Cruz e grita:
— Dai-me o machado!
Seus companheiros, à vista daquele espetáculo, uivam ameaçadores:
— Traidor, vilão, desertor!
Os blasfemadores, ao contrário, não escondem a sua alegria satânica por aquele inesperado triunfo.
Entretanto, o valoroso jovem, firme ao pé da Cruz, brandindo o machado, assim fala:
— Esta Cruz guarda os nossos campos, abençoa os nossos lares... ao pé desta Cruz tenho rezado e derramado lágrimas... Ai daquele que se atrever a tocar nesta Cruz!
A esse gesto e a essas palavras, os republicanos arremessaram-se contra ele; mas, como um leão furioso, vibra o machado e prostra por terra o miserável que lhe ordenara derribasse a Cruz. Seu coração está alvoroçado, seus olhos despedem faíscas. A luta é de morte. Os inimigos arremessam-se de novo contra ele e em maior número. Vendo que vai sucumbir, agarra-se à Cruz, para defendê-la com seu corpo.
As baionetas apontam para ele, mas não o ferem porque os inimigos esperam que renegue a Deus.
- Derrube essa Cruz — gritam — ou neste instante morrerá.
— A Cruz é vida... Viva a Cruz!
— Derrube a Cruz ou morre! — repetem furiosos os outros e já lhe vão traspassando o corpo.
— Ó Cruz bendita, eu te abraço... tu serás o meu consolo na morte.
O sangue do novo mártir da fé purpureou a árvore da vida!. Um último olhar amoroso para o Crucifixo e caiu mor.to. Naquele mesmo lugar foi sepultado, e sobre a lousa de mármore foram gravados estes dizeres: “Aqui descansa em paz Zacarias, o herói da Cruz!”

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