28 de agosto de 2013

Confiança! - Pe. Thomas de Saint Laurent - 8

O Livro da Confiança

Pe. Thomas de Saint Laurent


Capítulo II - Natureza e qualidades da Confiança

III - A Confiança é inabalável

As considerações precedentes terão parecido, talvez, abstratas demais. Era necessário, no entanto, que nelas nos firmássemos: delas deduziremos as qualidades da verdadeira confiança.

A confiança, escreve o Padre Saint-Jure, é “firme, estável e constante em grau tão eminente, que nada no mundo a pode, já não digo derrubar, mas abalar sequer” (19).
 
Imaginai as situações mais angustiosas de ordem temporal, as dificuldades aparentemente insuperáveis de ordem espiritual: nada disso alterará a paz da alma confiante. Catástrofes imprevistas poderão amontoar em torno dela as ruínas da sua felicidade; essa alma, mais senhora de si do que o sábio antigo, continuará calma: “impavidum ferient ruinae” (20).

Voltar-se-á simplesmente para Nosso Senhor; n'Ele se apoiará com certeza tanto maior quanto mais privada se sente do auxílio humano. Rezará com ardor mais vibrante, e, nas trevas da provação, prosseguirá o seu caminho, esperando em silêncio a hora de Deus.
 
Uma confiança assim é rara, sem dúvida; mas se não atinge esse mínimo de perfeição, não merece, então, o nome de confiança.
 
De resto, encontram-se exemplo sublimes dessa virtude nas Escrituras e na vida dos Santos. Ferido na fortuna, na família e na própria carne, Jó, reduzido à última indigência, jazia no seu monturo. Os amigos, a sua mulher mesmo, aumentavam-lhe a dor pela crueldade das suas palavras. Ele, no entanto, não se deixava abater; nenhuma murmuração se mesclava aos seus gemidos. Sustentavam-no os pensamentos da fé. “Quando mesmo o Senhor me tirasse a vida, dizia, ainda assim esperaria n'Ele!” (21).
 
Confiança admirável e que Deus recompensou magnificamente. A provação cessou: Jó recuperou a saúde, ganhou novamente fortuna considerável, e teve uma existência mais próspera do que antes.
 
Numa das suas viagens, São Martinho caiu nas mãos de salteadores. Os bandidos despojaram-no; iam trucidá-lo, quando, de repente, tocados pela graça do arrependimento ou levados por um pavor misterioso, o libertam e o soltam, contra toda a expectativa. Perguntou-se mais tarde ao ilustre Bispo se, nesse risco premente, não teria sentido algum medo. “Nenhum, respondeu, eu sabia que a intervenção divina era tanto mais certa quanto mais improváveis os socorros humanos”.
 
A maioria dos cristãos não imita, infelizmente, exemplos destes. No tempo da provação é quando menos se voltam para Deus. Muitos não dão esse grito de socorro que Deus espera para lhes vir em auxílio. funesta negligência! - “A Providência, dizia Frei Luís de Granada, quer dar solução, ela mesma, às dificuldades extraordinárias da vida, enquanto que deixa às causas segundas o cuidado de resolver as dificuldades ordinárias” (22). Mas é preciso reclamar o auxílio divino. Essa ajuda, Deus no-la dá com prazer. “Longe de ser incômoda à ama de quem suga o leite, a criança, pelo contrário traz-lhe alívio” (23).
 
Outros cristãos, nos momentos difíceis, rezam com fervor, mas sem constância. Se não são atendidos de imediato, caem de uma esperança exaltada num abatimento desarrazoado. Não conhecem os caminhos da graça. Deus nos trata como crianças: faz-se de surdo, às vezes, pelo prazer que sente ao ouvir-nos invocá-Lo. Porque desanimar tão depressa, quando conviria, ao contrário, rogar com maior insistência?
 
É esta a doutrina ensinada por São Francisco de Sales: “A Providência só adia o seu socorro para provocar a nossa confiança”. “Se o nosso Pai Celeste não concede sempre o que pedimos, é para nos reter aos seus pés e nos dar ocasião de insistir com amorosa violência junto d'Ele, como claramente mostrou aos dois discípulos de Emaús, com os quais só se deteve ao fim do dia, e assim mesmo por eles forçado” (24).

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19 ) Saint-Jure: De la connaissance et de l'amour de J. C., t. III, p. 3.
20 ) Horacio, ode 3 do livro III.
21 ) “Ainda que Ele me matasse, n'Ele esperarei” (Jó, 13, 15).
22 ) Frei Luís de Granada: 1º Sermão para o 2º Domingo após a Epifania.
23 ) Idem.
24 ) Pequenos Bolandistas, t. XIV, p. 542.

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