O Livro da Confiança
Pe. Thomas de Saint Laurent
Capítulo I - Confiança!
IV - Esta desconfiança de Deus é muito prejudicial
A desconfiança, sejam quais forem as suas causas, traz-nos prejuízo, privando-nos de grandes bens.
Quando São Pedro saltou da sua barca e se lançou ao encontro do Salvador, caminhava com segurança sobre as ondas... O vento soprava com violência. As vagas ora levantavam-se em turbilhões furiosos ora cavavam no mar abismos profundos. A voragem abria-se diante do Apóstolo. Pedro tremeu; hesitou um segundo e, logo, começou a afundar-se. “Homem de pouca fé, disse-lhe Jesus, porque duvidaste?” (12).
Eis a nossa história. Nos momentos de fervor, ficamos tranqüilos e recolhidos ao pé do Mestre. Vindo a tempestade, o perigo absorve a nossa atenção. Desviamos então os olhares de Nosso Senhor para fitá-los ansiosamente sobre os nossos sofrimentos e perigos. Hesitamos... e afundamo-nos logo! Assalta-nos a tentação. O dever se nos torna enfadonho, a sua austeridade nos repugna, o seu peso oprime-nos. Imaginações perturbadoras perseguem-nos. A tormenta ruge na inteligência, na sensibilidade, na carne...
E perdemos pé; caímos no pecado, caímos no desânimo, mais pernicioso que a própria falta. Almas sem confiança, porque duvidamos?
A provação assalta-nos de mil maneiras. Ora os negócios temporais periclitam, o futuro material nos inquieta. Ora a maldade ataca-nos a reputação. A morte quebra os laços de afeições das mais legítimas e carinhosas... Esquecemos, então, o cuidado maternal que tem por nós a Providência. Murmuramos, revoltamo-nos, aumentamos assim as dificuldades e o travo doloroso do nosso infortúnio.
Almas sem confiança, porque duvidamos?
Se nos tivéssemos apegado ao Bom Mestre com uma confiança tanto maior quanto mais desesperada parecesse a situação, nenhum mal desta nos adviria. Teríamos caminhado calmamente sobre as ondas; teríamos chegado sem tropeços ao golfo tranqüilo e seguro, e, em breve, teríamos achado a plaga hospitaleira que a luz do Céu ilumina.
Os Santos lutaram com as mesmas dificuldades; muitos deles cometeram as mesmas faltas. Mas, pelo menos, não duvidaram. Ergueram-se sem tardança, mais humildes após a queda, só contando, desde então, com os socorros do Alto. Conservavam no coração a certeza absoluta de que, apoiados em Deus, tudo poderiam. Não foram iludidos nessa confiança! (13).
Tornai-vos, pois, almas confiantes. Nosso Senhor a isso vos convida; o vosso interesse assim o exige. Sereis almas luminosas, almas de paz.
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12 ) “Homem de pouca fé, porque duvidaste?” (Mt. 14, 31).
13 ) “A esperança não nos deixa confundidos” (Romanos, 5, 5).
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