A Mulher coroada de estrelas: a necessidade da devoção a Nossa Senhora para a alcançar a salvação
Sermão para a Festa da Assunção de Nossa Senhora
18 de agosto de 2013 – Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Apareceu um grande sinal no céu: uma
Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma
coroa de doze estrelas.” (Apoc. 12, 1)
A Assunção de Nossa Senhora significa que
ela, depois de passar a sua vida aqui na terra, subiu aos céus em corpo
e alma. A Assunção de Nossa Senhora sempre foi verdade ensinada pela
Igreja, é verdade contida na doutrina dos Apóstolos. Todavia, foi em
1950, com o Papa Pio XII, que a Assunção de Nossa Senhora ao céu foi
proclamada como dogma da fé, quer dizer, a Igreja afirmou infalivelmente
que a Assunção é uma verdade revelada por Deus e que devemos acreditar
nessa verdade, se queremos nos salvar. Assim, quem nega a Assunção de
Nossa Senhora perde automaticamente a fé católica e desagrada a Deus,
pois sem a fé é impossível agradar a Deus. Nossa Senhora foi a primeira
redimida integralmente, ela foi aos céus em corpo e alma, ao contrário
dos santos e de todos os que morrem em estado de graça, que devem
esperar a ressurreição do corpo no fim dos tempos. Nossa Senhora é a
primeira redimida integralmente porque ela é a corredentora. Convinha
que, tendo sido associada tão intimamente à obra de redenção operada por
NSJC, ela fosse também intimamente associada à glória d’Ele, pela
Assunção em corpo e alma ao céu, e sem que seu corpo conhecesse a
corrupção, pois foi esse corpo que deu ao Salvador a sua carne humana.
Maria Santíssima, então, subiu aos céus em corpo e alma.
A Festa da Assunção de Nossa Senhora
deve, assim, elevar a nossa alma para as coisas celestes, para a nossa
verdadeira pátria, que é o céu. Como nos diz a coleta da Missa de hoje,
devemos estar sempre inclinados para as coisas celestiais, a fim de
podermos participar da glória celeste. Onde está nosso tesouro lá está o
nosso coração. Se olhamos para as coisas desse mundo, se nos inclinamos
às coisas desse mundo, é porque nosso tesouro está aqui nessa terra e,
consequentemente, também o nosso coração, a nossa vontade está apegada
às coisas desse mundo. Nossa Senhora, por sua Assunção, nos mostra que
nosso tesouro é bem outro. Ela nos mostra que nosso tesouro é a
Santíssima Trindade, ela nos mostra que nosso tesouro é seu Filho, Jesus
Cristo, a Verdade, o Caminho, a Vida.
Maria Santíssima nos aponta o tesouro a
ser buscado – o céu – mas, além disso, ela nos indica, igualmente, o
caminho. Ela nos indica o caminho nessa passagem do Apocalipse que
compõe o Introito da Missa de hoje: “Apareceu em seguida um grande sinal
no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na
cabeça uma coroa de doze estrelas.” (Apocalipse 12, 1) Nossa Senhora
está revestida de sol, tendo a lua a seus pés e coroada com 12 estrelas.
1. N. Sra. está revestida de Sol. O sol
representa Jesus Cristo, que é a luz do mundo e o Sol de Justiça. Como
nos diz S. Paulo, nós devemos nos revestir de Cristo (Rom 13, 14), quer
dizer, nós devemos nos revestir do homem novo, criado em justiça e
santidade (Efésios 4, 24). Devemos nos revestir de Jesus Cristo para
imitar as virtudes d’Ele, para fazer tudo por Ele, com Ele e n’Ele.
Devemos nos revestir de Cristo para que os frutos de sua redenção possam
nos ser aplicados.
2. Em seguida, Maria esmaga a lua com
seus pés: a lua representa aqui o mundo e o seu príncipe, a serpente. A
lua é mutável, instável, inconstante, ela tem várias fases. Também o
mundo com seus tesouros passageiros, que são os pecados, é mutável.
Nossa Senhora esmaga a lua, reduzindo-a ao nada, como Judith (Epístola
de hoje) ao matar Holofernes reduziu ao nada os inimigos de Israel.
Deus, ao contrário do mundo e do pecado, é eterno e imutável, caros
católicos. Céus e terras passarão. A Palavra de Deus não passará.
Devemos ser firmes e constantes no serviço de Deus, firmeza e constância
que são verdadeira sabedoria. A Sagrada Escritura nos diz: Stultus ut
luna mutatur; sapiens autem permanet ut sol. (Eclesiástico 27, 12) O
insensato, o tolo é inconstante como a lua; o sábio, porém, é constante
como o sol. Devemos esmagar a lua e sermos constantes como o sol,
devemos esmagar o pecado, o demônio, o mundo, e devemos ser constantes
como Cristo foi constante em fazer sempre a vontade de Deus.
3. Finalmente, Maria Santíssima está
coroada de doze estrelas. O Patriarca José, filho de Jacó, teve um sonho
em que onze estrelas se prostravam diante dele. Essas onze estrelas
eram os irmãos de José, as tribos do povo hebreu, que lhe iriam implorar
socorro quando chegasse o tempo das vacas magras. Essa coroa de Nossa
Senhora, com doze estrelas, representa toda a humanidade que deve
prostrar-se diante dela, implorando-lhe as graças adquiridas por Cristo
na cruz. Essa coroa significa a realeza e a soberania de Maria sobre
toda a humanidade e nos mostra como devemos ter veneração e devoção,
nesse vale de lágrimas, a tão soberana Rainha e Rainha de Misericórdia.
Assim, se quisermos alcançar o céu,
devemos primeiramente olhar para o céu, desejá-lo. Em seguida, devemos
nos revestir de Cristo, da sua graça, de suas virtudes. Devemos,
igualmente, esmagar o pecado. Mas para fazer tudo isso, devemos ter
devoção a Nossa Senhora. Esse último ponto é indispensável, caros
católicos. A devoção a N. Sra. é necessária para a nossa salvação.
A devoção a Nossa Senhora é indispensável
para a salvação porque para nos salvarmos devemos praticar as virtudes.
Para praticar as virtudes, precisamos da graça de Deus. Para alcançar a
graça de Deus, necessitamos recorrer a Maria. Necessitamos de Maria
para alcançar a graça porque Deus quis que fosse assim. Ele poderia ter
feito de outro modo, não há dúvida. Deus não era obrigado a usar uma
mera criatura para transmitir as suas graças. Todavia, na sua sabedoria,
quis que fosse assim. 1) Devemos ter devoção a N. Sra. porque Deus a
escolheu como tesoureira, administradora e dispensadora de todas as sua
graças, de sorte que todas passam por suas mãos. Ela é a medianeira de
todas as graças. 2) Assim como na ordem da natureza temos
necessariamente um pai e uma mãe, também na ordem da graça devemos ter
Maria por Mãe, se queremos ter Deus por Pai. 3) A devoção a Maria é
necessária porque tendo ela formado a Cabeça do corpo místico – que é
Cristo – cooperando com o Espírito Santo, ela forma, também com o
Espírito Santo, os membros desse corpo, dessa cabeça, que somos nós os
cristãos. Quem quer ser membro de Cristo deve se deixar formar por Maria
e pelo Espírito Santo. 4) A devoção a Maria é necessária porque foi no
ventre dela que o Espírito Santo formou Cristo, Homem e Deus. Assim,
Nossa Senhora possui o molde para formar, pela graça divina, Cristo em
nossas almas. E com Maria, Cristo pode ser formado em nossas almas, pela
graça, de modo rápido, fácil e suave. Sem a devoção a Nossa Senhora é
impossível salvar-se, como de modo semelhante não é possível salvar-se
fora da Igreja Católica. Aquele que conhece Nossa Senhora ou tem a
possibilidade de conhecê-la e se dá conta ou poderia se dar conta de seu
papel fundamental para a salvação, mas deixa de honrá-la e de recorrer a
ela, certamente se perderá. É claro e evidente que esse papel
fundamental de Nossa Senhora é completamente subordinado a NSJC e
dependente d’Ele.
As citações dos Padres da Igreja e dos
santos no sentido da necessidade da devoção a Nossa Senhora para
alcançar a salvação são abundantes. Por exemplo, São Cirilo de
Alexandria, (séc. V, P.G. 77, 1031-1034): “Oh Maria, Mãe de Deus, salve!
Por ti encontram a salvação todas as almas fiéis.” São Germano de
Constantinopla (séc. VIII, P.G. 98, 350): “Ninguém se salva a não ser
por teu auxílio, oh Mãe de Deus! Ninguém fica livre dos perigos a não
ser por meio de ti, oh Virgem fecunda!” Santo Idelfonso (séc. VII, P.L.
96, 69, De Virginit. Perp. S. M., c. 4): “Vinde comigo a esta Virgem, se
tendes medo de ir, sem ela, ao inferno. Vinde, e escondamo-nos debaixo
de seu manto para não nos cobrirmos, um dia, de confusão.” São Bernardo
(séc. XII, II Hom. Super Missus est): “Nos perigos, nas angústias, nas
dúvidas, pensa em Maria, invoca Maria… Seguindo-a não errarás, rogando-a
não terás motivo para desesperar, pensando nela não cairás no erro. Se
Maria te socorre, não cairás. Se Maria te protege, não temerás. Se ela
te acompanha, não te cansarás. Se ela te for favorável, chegarás ao
porto da salvação.” São Boaventura (séc. XIII, Comment. In Luc., c. 1,
n. 70): “Quem a honra dignamente, será justificado, mas quem a esquece
morrerá em seus pecados. Sim, oh doce Senhora, estão longe da salvação
os que não te conhecem; mas quem persevera no tributo de honrá-la, não
deve temer a perdição.” Poderíamos ainda citar São Tomás, São Bernardino
de Siena e tantos outros, caros católicos. Recomendo fortemente a
leitura dos livros Tratado da Verdadeira Devoção a Maria e Segredo de
Maria, de São Luís de Montfort, em que ele afirma claramente a
necessidade da devoção a Nossa Senhora e o modo de praticá-la. Recomendo
o livro Glórias de Maria, de Santo Afonso de Ligório. Mas para concluir
essas citações de santos, vejamos o que diz São Leonardo de Porto
Maurício, nos seus pequenos discursos para a honra de Maria. Diz o
santo: “é impossível que se salve quem não é devoto de Maria.”
(Discorssetti ad onore di Maria disc. 7, n.1); e em outro lugar (disc.
16, n. 4) diz: “portanto, sede devotos de Maria, e eu vos asseguro que
sereis salvos.” Assim, não há dúvida de que o ensinamento dos santos
afirma a necessidade da devoção de Nossa Senhora para a salvação.
E nós podemos concluir a mesma coisa a
partir da Sagrada Escritura. Já citamos a realeza de Nossa Senhora,
coroada de estrelas no Apocalipse. Vemos no Santo Evangelho que o
primeiro a cultuar Nossa Senhora é o Arcanjo Gabriel, ao saudá-la como
faz um inferior ao superior: “Ave, gratia plena”, diz o Arcanjo. Vemos
Maria honrada por Santa Isabel: “bendita tu entre as mulheres e bendito o
fruto do teu ventre”, diz a prima de Nossa Senhora. Vemos Maria honrada
por uma mulher do povo que sem medo clama para Cristo diante da
multidão: “bem aventurados os seios que te amamentaram e bem aventurado o
útero que te portou.” É relevante o número de vezes que N. Sra. é
cultuada nos Evangelhos. Finalmente, NS diz: “discípulo eis aqui a tua
mãe”. Ele não diz “João, eis aqui a tua Mãe”, mas “discípulo, eis aqui a
tua mãe”. Todo discípulo de Cristo deve ter Maria por mãe e deve
recebê-la em sua casa, em seu coração. E deve honrá-la e respeitá-la
como mãe e deve carinhosamente recorrer a tão boa mãe para obter dela o
alimento espiritual, que é a graça. Todo discípulo de Cristo tem
necessariamente N. Sra. por mãe e a honra e recorre a ela como a uma boa
mãe, Mãe doce e misericordiosa. E NS nos entrega Maria por mãe quando
já está pregado na cruz, quer dizer, no momento mais capital da história
da salvação. Precisamos honrar Maria, ter verdadeira devoção a ela!
É evidente, caros católicos, que a
finalidade da devoção a Nossa Senhora, como de qualquer devoção, é a
união a Cristo, é a devoção a Cristo. O anjo a saúda porque ela vai se
tornar Mãe de Deus. Santa Isabel a saúda porque ela já Mãe de Deus. A
mulher do povo honra Nossa Senhora porque ela carregou Deus em seu
ventre e o nutriu. A devoção a Nossa Senhora nos é necessária para
sermos devotos de Cristo porque Cristo quis assim, como já dissemos. Ele
quis que fôssemos até Ele pelo mesmo caminho que Ele utilizou para vir
até nós. Nossa Senhora direciona e apresenta a Deus toda a honra que
recebe de nós e alcança para nós as graças que precisamos. Quando Santa
Isabel honra Maria, N. Sra. imediatamente honra Deus recitando o
Magnificat, louva a Deus reconhecendo que é Ele a fonte de todo o bem, e
que ela é uma pobre escrava do Altíssimo: “Minha alma engradece o
Senhor, (…) pois olhou para a humildade de sua serva e fez em mim
maravilhas.” Honrar Nossa Senhora é, portanto, honrar Cristo, honrar a
Santíssima Trindade. Onde está Maria, lá está Cristo. Onde está Cristo,
lá está Maria! Quem honra a Mãe, honra o Filho.
É evidente que a devoção a Nossa Senhora
deve ser sólida e verdadeira, sincera. A devoção não é simplesmente usar
algumas medalhas ou escapulários, ou dizer algumas orações. Tudo isso é
bom, excelente, necessário, mas a verdadeira devoção consiste em
recorrer a Maria para que ela nos converta, para que mudemos de vida. A
verdadeira devoção consiste em buscar imitar as virtudes de Nossa
Senhora.
Alegremo-nos, caros católicos, pois
Cristo nos deu na devoção a Maria o caminho mais fácil, curto, perfeito e
seguro para nos unir a Ele, união a Cristo que é a finalidade de nossas
vidas. É um caminho também necessário para nos unir a Cristo. Maria é,
diante de Deus e de seu Filho, uma criatura, infinitamente inferior. Mas
para nós, ela é a criatura escolhida por Deus para nos levar a Cristo,
para que possamos conhecê-lo e servi-lo melhor. Ela é o caminho para que
os frutos da redenção operada por Cristo nos sejam aplicados. Ela nos
dirige para Cristo dizendo o que disse aos servos nas bodas de Caná:
“Fazei tudo o que Ele vos disser”. A devoção a Maria é ir a Jesus por
Maria: ad Iesum, per Mariam. Recorramos a Nossa Senhora sempre, em todas
as nossas necessidades. Recorramos a ela, para que, por ela, cheguemos a
Cristo: ad Iesum, per Mariam. Maria, Mãe de misericórdia, vida, doçura e
esperança nossa. Para chegar ao céu, precisamos nos vestir do sol, que é
Cristo, devemos esmagar a lua que é o pecado e devemos ser devotos de
Nossa Senhora, nossa Rainha e nossa mãe dulcíssima.
Em nome do pai, e do Filho, e do espírito Santo. Amém.
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