11 de agosto de 2013

DÉCIMO SEGUNDO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES.

O Papa na História

Bem-aventurados os olhos que vêem o que vós vedes, exclamou o divino Mestre.

Que viram os discípulos?

Viram a grande obra começada por Jesus Cristo: a fundação da Igreja, as virtudes divinas que dela já se irradiavam; a transformação que estava realizando.

Esta Igreja imortal combatida em sua origem, como é combatida todos os dias sem nunca vacilar sob a sua base divina, ensinando a verdade a todas as criaturas: eis a grande maravilha que os discípulos podiam presenciar e cuja contemplação os faz bem-aventurados.

Eles podiam apenas contemplar o início, a fundação; nós podemos contemplar a sua irradiação através do mundo.

Os discípulos só viram Pedro, feito pedra fundamental da Igreja: nós podemos estender as nossas vistas sobre os 263 sucessores de São Pedro. Eles só podiam ver o Papa na pessoa de Pedro, nós podemos vê-lo na História: o que é a Grande e perpétua maravilha do mundo.

Examinemos hoje, de perto, a dinastia do Papado.

1. Em si mesma;
2. Em sua ação social.

Este duplo aspecto do Papado revela horizontes por muitos desconhecidos, e que, entretanto, sendo mais sensíveis, são facilmente compreendidos pelo povo.

I. O Papado em si mesmo

A origem do Papado é diferente das origens de qualquer governo, porque vem diretamente de Deus.

Não são, nem os reis, nem o povo, nem os Bispos, nem os concílios, que dão ao Papa a sua autoridade: ela vem diretamente de Deus.

A dinastia dos Papas tem, sobretudo, dois caracteres que a distinguem das dinastias da terra: ela é acessível a todos, ela é uma fonte de santidade.

Não é rei quem o quer ser; é uma herança, uma conseqüência de hereditariedade. É o sangue que faz os reis: e é a escolha de Deus que fez os Papas.

Nenhum homem fica excluído do Papado: todos podem sê-lo.

Encontrando em vosso caminho um pobre pequeno pastor de rebanho, esfarrapado e comendo um pedaço de pão preto, ninguém pode dizer-lhe: Meu amigo, nunca tu serás Papa; pois ele poderia responder-vos que um dia um homem da sua condição sentou-se na cátedra de Pedro e operou ali grandes coisas, chama-se o Papa Sixto V. E não há só este.

O Papa Adriano IV era filho de uma mãe que pedia esmola.

Urbano IV era filho de um tropeiro, Benedito VI era filho de uma lavadeira, Benedito XII, filho de um padeiro, Sixto IV, filho de um pescador, Adriano VI, filho de um marinheiro, Pio X, filho de modestos agricultores.

Há, pois, no número dos Papas, filhos de pobres operários, como há filhos de príncipes, de generais e de homens ilustres.

O que voga aí não é o sangue, é a escolha divina: Não sois vós que me escolhestes, disse o Salvador aos Apóstolos, mas sou eu que vos escolhi.

Eis uma primeira particularidade da dinastia dos Papas: a sua acessibilidade para todos; a segunda particularidade é a sua santidade.

Os inimigos da religião procuram, nas épocas perturbadas e obscuras da História, figuras de Papas menos dignos da sublimidade da sua missão e imaginam que envergonham os católicos citando estes seus chefes; mas enganam-se.

A História verdadeira imparcial mostra as calúnias assacadas à memória destes Pontífices e com documentos na mão, prova que tais e tais Papas acusados de uma vida menos austera, são muitas vezes homens de extraordinárias virtudes. (1)

Mas, mesmo admitindo que um ou outro Papa tenha sido menos digno da autoridade suprema, que provaria isto?

Provaria que as defecções pessoais de um Papa nada tem com a indestrutibilidade da Igreja, que é independente das pessoas que a governam.

Provaria ainda que tais Papas, nunca ensinaram na Igreja, nem falsos dogmas nem moral perversa.

Provaria ainda que tais pretensas manchas do Papado, como as do sol, são excepcionais e afogadas no esplendor do conjunto.

Provaria enfim que nenhum trono do universo brilhou com tanta sabedoria, ciência e virtude, e que em sua quase totalidade, a dinastia dos Papas se nos aparece imaculada, radiante de santidade.

II. O Papado em sua ação social

Uma dupla irradiação desprende-se do Papado: nas almas e no mundo.

O Papado comunica às almas a verdade, a graça divina, a santificação.

Comparai o Papado às demais dinastias e ficareis espantados pelo contraste: a maior parte dos soberanos não pensa senão em seus interesses pessoais, em sua raça; os melhores entre eles pensam em seu país.

Quais são estes que pensam na humanidade?

Quem olha mais alto que os interesses que passam?

O cume dos mais nobres é de cuidar da civilização. Mas quem pensa nas almas? Quem pensa em Deus? Quem pensa na eternidade?

Só o Papado!...

Há dezenove séculos que cuida e trabalha nisto.

Fazei as reservas que quiserdes, nomeai tal ou tal Papa que cuidava em outra coisa.

Mesmo tratando de outras coisas, ele pensava nisso, e a imensa maioria dos Papas não cuidava senão nisso.

Isto seria o bastante para que um homem sincero se prostrasse de joelhos diante desta dinastia, que durante 19 séculos tem apenas um objetivo: as almas; uma finalidade: a instrução, a purificação e a transfiguração sobrenatural da raça humana.

Acusar-nos-ão talvez de colocarmos o Papado nas nuvens!

Não! A alma é uma realidade e não uma palavra vã; e ocupar-se das almas não é uma obra estéril, mas sublime.

Desde que se admite que nos homens há outra coisa que uma poeira organizada, é uma obra esplêndida tratar da parte mais nobre do homem: da sua alma.

Ora, é o que os Papas fazem desde S. Pedro até Pio XII.

Uma, segunda irradiação do Papado encobre o mundo Inteiro.

Todos concordam que a lei moral é a saúde das nações e que povos corrompidos são povos acabados.

Ora, o que fazem os Papas? O que fizerem durante os 19 séculos de seu reino?

Conservam, pregam, protegem, aplicam a lei moral. São infalíveis, intolerantes, dizem inimigos, sobre o Decálogo, como sobre o Símbolo, e isto é a sua glória insuperável.

Nunca os Papas sacrificam uma sílaba do dogma, nem da moral.

O mundo atual geme sob o triunfo da injustiça e sobre a derrota do direito, que constituem o grande escândalo da história.

Ora, que fizeram os Papas durante estes 19 séculos, senão fulminar a iniqüidade e vingar a justiça oprimida?

Os homens exaltam o progresso das letras; das ciências e das artes. Ora, o que fazem os Papas, senão trabalhar para a difusão das luzes? Eles são os inimigos irreconciliáveis da ignorância: compõem livros, fundam Universidades, Seminários, constroem monumentos, encorajam a pintura, a música, as artes.

Nós, apenas ensaiamos o que eles nunca deixam de fazer, o que fizeram antes de nós, e melhor do que nós.

Ide a Roma e computai as suas riquezas artísticas: sereis obrigados a proclamar que os Papas têm sido grandes artistas da civilização no que ela tem de mais elevado e delicado.

Ah, sem o Papado, não teríamos nem estes príncipes, reis, imperadores cristãos, não teríamos estas belas nações cristãs, esta civilização cristã; este mundo cristão; seríamos apenas o que é a China, a África, a Ásia, e tantos outros países, que não souberam progredir nem na civilização, nem na justiça, nem na virtude.

É preciso rasgar a história ou proclamar a influência benfazeja e civilizadora da dinastia dos Papas!

III. Conclusão

Eis o Papado considerado em si mesmo e considerado em sua influência social.

O homem sincero deve confessar que o Papado é uma força divina neste mundo, uma força sempre ativa e sempre conquistadora.

Pode se prender, exilar, matar o Papa; mas ele, prisioneiro, exilado, até morto, continua a falar com a mesma força e o mesmo poder. A razão é que o Papado não é simplesmente uma pessoa, é uma instituição divina, encarnada numa pessoa humana.

Há séculos que os maus bradam que vão sepultar o Papado; mas ele, calmo e sublime, representado por um ancião sem armas e sem exércitos continua a abençoar a virtude, a civilizar os povos, a condenar o vício; e quando a impiedade julga lançar a pá de cal sobre o túmulo do Papado, os próprios perseguidores caem na sepultura que tinham aberto, exclamando como Julião o Apóstata: Galileu, tu venceste!

O Papado é eterno, porque é divino, e por ser divino, ele domina o mundo, subjuga os séculos e estende a todos os náufragos da vida a sua mão paternal que segura o farol da verdade, a palma da virtude e a corda do triunfo.

EXEMPLOS

1. Palavra de Guizot

Guizot escreveu: “Ao considerar as coisas, deve-se confessar que o Papado, e só ele, tem sido o poder medianeiro conciliador. É ele que pôs a pedra fundamental do direito internacional, levantando-se contra as pretensões, as paixões e a força brutal”.

2. O rei de Siam

O rei de Siam, em 1906, narrando a sua viagem à Europa, escreveu:

- Em toda parte tenho sido esplendidamente recebido; tudo isso, porém, era oficial. É somente no Vaticano que tenho visto a alma de um pai. Sente-se que em seu coração há qualquer coisa de divino.

3. Lamoriciere


A causa do Papa é a causa da liberdade do mundo.

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1) Cfr. A este respeito o nosso livro: “O Cristo, o Papa e a Igreja”, cap. V, “Os maus Papas”, onde tais calúnias estão refutadas.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 323 - 330)

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