Algumas questões sobre o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo
Algumas questões sobre o Escapulário de Nossa Senhora do Carmo (excertos do opúsculo Le Scapulaire du Mont Carmel, Editions Traditions Monastiques, 2007)
O PRIVILÉGIO SABATINO
Entre os numerosos favores espirituais
concedidos pela Igreja àqueles que carregam o escapulário, o mais
insigne é o “privilégio sabatino”. Sua origem teria sido a “Bula
sabatina” que o Papa João XXII teria publicado em 1317 após ter sido
favorecido por uma visão da Bem-aventurada Rainha do Carmelo. A
Santíssima Virgem prometia ao Santo Padre libertar do purgatório, no
sábado após a morte, aqueles que carregassem seu escapulário. Duas
condições foram fixadas para se beneficiar desta nova promessa: a
observação da castidade pelos confrades segundo seu estado (completa no
celibato e conjugal no matrimônio) e a recitação das horas canônicas (ou
do Ofício Parvo da Santíssima Virgem).
Alguns historiadores modernos da Ordem do
Carmo forneceram sérias razões para colocar em dúvida a autenticidade
da bula sabatina. Tal questão histórica, na qual não entraremos, pouco
importa do ponto de vista em que nos colocamos. A autoridade da Igreja,
com efeito, várias vezes confirmou da forma mais formal o conteúdo desta
bula, isto é, o “privilégio sabatino”. Há, de fato, poucas indulgências que tenham tido tão numerosas e tão solenes aprovações pontifícias. Seja-nos suficiente citar os atos dos papas Clemente VII (Bula Ex clementis, de 12 de agosto de 1530), Paulo III (em 1530 e 1549), Pio IV (1561), São Pio V (Bula Superna dispositione,
de 18 de fevereiro de 1566), e, mais recentemente, as aprovações de São
Pio X em 1910, de Bento XV em 1916, e de Pio XII em 1950[1].
Com efeito, como bem frisa o Pe. José de Santa Maria[2],
este privilégio “constitui uma espécie de indulgência plenária”,
efetivando-se, no mais tardar, no sábado seguinte à morte. Prossegue
ele: “a Igreja possui o poder de conceder uma tal indulgência ao aceitar
e ao fazer suas as condições requeridas pela tradição para isto. E a
Virgem, de sua parte, respondeu várias vezes à esta confiança…”.
Pode-se, mesmo se se detém uma pesada
cultura teológica, mesmo se se professa uma espiritualidade bem
despojada, imitar a atitude de São João da Cruz, o qual, na véspera de
morrer, lembrava com comprazimento “como a Mãe de Deus do Monte Carmelo,
no dia de sábado, acorreria com seu socorro e com seu favor ao
purgatório e como ela tiraria de lá as almas dos religiosos e das
pessoas que portaram seu santo Escapulário”[3]. A confiança do santo não foi enganada: ele morreu naquele mesmo sábado à meia-noite!
Santa Teresa de Ávila, na sua Vida
escrita por ela mesma, relata, no capítulo 38: “Outro frade da nossa
Ordem, muito bom religioso, estava muito mal. Estando eu à missa,
veio-me um recolhimento e vi que tinha morrido e subia ao Céu sem passar
pelo Purgatório. Morreu naquela mesma hora em que o vi, segundo soube
depois. Eu me espantei de não ter entrado no Purgatório. Entendi que,
por ter sido frade e ter guardado bem a sua profissão, lhe tinham
aproveitado as Bulas da Ordem para não entrar no Purgatório.”[4].
O Pe. José de Santa Maria nota o espanto
de Santa Teresa. “Este espanto dá todo valor à esta visão. O que ele
significa, com efeito, é que, mesmo estimando aquele padre como
religioso fervoroso, a santa não notara nele os sinais de uma santidade
que justificasse o imediato acesso ao Céu. Provavelmente havia mesmo
nele notado traços da miséria humana. É tudo isto que significa seu
espanto. E é nisto que a visão é significativa, pois que ela lembra e
confirma a Santa Teresa o valor do privilégio sabatino”.
Este autor faz a mesma reflexão
judiciosa: “O privilégio sabatino, certamente deveras apreciável, não
deve rejeitar a primeira, principal e mais preciosa promessa de Nossa
Senhora: a liberação do perigo da danação eterna”.
A MENSAGEM DO ESCAPULÁRIO E SUA SIGNIFICAÇÃO
A substância desta mensagem foi bem
compreendida por São Simão Stock. Ela trata de ajudar as almas a atingir
a vida eterna, de salvá-las do inferno, por meio de sua união à Ordem
do Monte Carmelo, da qual a Virgem é a Rainha.
O Papa Pio XII, em sua carta Neminem profecto
de 11 de fevereiro de 1950, escreveu sobre essa questão: “Não se trata
de algo de pouca importância, mas de adquirir a vida eterna em virtude
desta promessa da Bem-aventurada Virgem que a tradição relata; trata-se,
pois, de um assunto que é o mais importante de todos e de conduzi-lo
seguramente ao seu termo. O Escapulário como veste da Virgem é o sinal e
o penhor da proteção da Mãe de Deus”. Em 06 de agosto de 1950 este
mesmo Papa acrescentava: “Quantas almas, em circunstâncias humanamente
desesperadas, devem sua suprema conversão e sua salvação eterna ao
Escapulário do qual estavam revestidos! Quantas também, nos perigos do
corpo e da alma, sentiram, graças a ele, a proteção maternal de Maria!”.
Não estaria o Escapulário lá para lembrar
à nossa época os fins últimos, que ela tanto esquece? Sua Santidade o
Papa João Paulo II, a esse respeito, ensina na Exortação Apostólica Reconciliatio et pænitentia,
de 02 de dezembro de 1984: “E a Igreja não pode omitir, ainda, sem
grave mutilação da sua mensagem essencial, uma constante catequese sobre
as realidades que a linguagem cristã tradicional designa como os quatro
novíssimos do homem: morte, juízo (particular e universal),
inferno e paraíso. Numa cultura que tende a encerrar o homem nas suas
vicissitudes terrestres, mais ou menos bem sucedidas, aos Pastores da
Igreja é solicitada uma catequese que abra e ilumine, com as certezas da
fé, o além da vida presente: para lá das misteriosas portas da morte,
delineia-se uma eternidade de alegria na comunhão com Deus, ou de pena
no afastamento d’Ele. Somente nesta visão escatológica é possível ter a
medida exata do pecado e sentir-se resolutamente impelido para a
penitência e a reconciliação”.
No Catecismo da Igreja Católica,
publicado em 1992 pela Santa Sé, pode-se ler: “A doutrina da Igreja
afirma a existência do Inferno e a sua eternidade. As almas dos que
morrem em estado de pecado mortal descem imediatamente, após a morte,
aos infernos, onde sofrem as penas do Inferno, ‘o fogo eterno’. A
principal pena do inferno consiste na separação eterna de Deus, o único
em Quem o homem pode ter a vida e a felicidade para que foi criado e a
que aspira. As afirmações da Sagrada Escritura e os ensinamentos da
Igreja a respeito do Inferno são um apelo ao sentido de responsabilidade com que o homem deve usar da sua liberdade, tendo em vista o destino eterno. Constituem, ao mesmo tempo, um apelo urgente à conversão: ‘Entrai
pela porta estreita, pois larga é a porta e espaçoso o caminho que
levam à perdição e muitos são os que seguem por eles. Que estreita é a
porta e apertado o caminho que levam à vida e como são poucos aqueles
que os encontram!’ (Mt. VII, 13-14): ‘Como não sabemos o dia nem a hora,
é preciso que, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos
continuamente, a fim de que, no termo da nossa vida terrena, que é só
uma, mereçamos entrar com Ele para o banquete de núpcias e ser contados
entre os benditos, e não sejamos lançados, como servos maus e
preguiçosos, no fogo eterno, nas trevas exteriores, onde ‘haverá choro e
ranger de dentes’”[5].
A Virgem Maria fez uma promessa
excepcional à São Simão Stock. Ela se engajou a abrir a porta do céu, “o
fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o
estado de felicidade suprema e definitiva”[6],
àqueles que morrerão revestidos de seu escapulário. Eles serão
preservados do fogo eterno, não permitindo a Santíssima Virgem que
morram eles em estado de pecado grave. Este “seguro” da salvação eterna é
uma benfeitoria incomparável. Nosso Senhor Jesus Cristo nos mostra a
sua importância quando diz: “Que serve ao homem ganhar o mundo inteiro
se ele vier a perder sua alma?” (Mc. VIII, 36).
A fé na retribuição eterna das boas e das
más obras, a consciência de nossa fragilidade, uma invencível confiança
na graça de Deus e na proteção todo-poderosa de Maria, constituem o
fundamento da devoção ao Escapulário.
UMA VESTE DE SALVAÇÃO
O Escapulário é uma veste, é o hábito da
Virgem. Nas Sagradas Escrituras a veste é sinal de duas coisas:
simboliza a queda original do homem decaído da graça e a possibilidade
para ele de revestir uma glória perdida (Gen. III). Por isso mesmo a
veste é o sinal da natureza espiritual do homem e de seu destino
sobrenatural. O profeta Isaías (Is. LXI, 10) canta em sua ação de
graças: “Estou cheio de alegria no Senhor; minha alma exulta em meu
Deus, pois que ele me revestiu de vestes de salvação, ele me cobriu de
um manto de justiça, como o esposo que se cinge de um diadema, como a
noiva que se adorna de suas joias”. O filho pródigo, por sua vez, foi
revestido por seu pai da mais bela túnica, sinal de perdão (Lc. XV, 22).
O apóstolo São Paulo nos mostra quais são
as vestes do bom soldado de Cristo: “Coloqueis todos os vossos cuidados
para vos revestir da armadura de Deus… Cingis vossos rins do cinto da
castidade… Revesti a couraça da justiça… Pegueis o escudo da fé… Cobris
vossas cabeças com o capacete da salvação” (Ef. VI). O Apocalipse de São
João nos mostra no juízo final “uma multidão imensa diante do Cordeiro,
vestida de túnicas brancas” (Ap. VII, 14).
O Escapulário é ele também uma veste de
salvação, uma couraça e um escudo espiritual, uma túnica de inocência da
qual nos reveste a Mãe de Deus. O hábito é um sinal de pertença daquele
que o porta à pessoa de quem ele o recebeu, e, em retorno, da proteção
desta pessoa. O Escapulário manifesta, assim, da parte daquele que o
porta, a consagração e a pertença voluntária a Maria, e da parte de
Nossa Senhora, o engajamento a socorrer aquele que o porte em toda
ocasião, particularmente na hora da morte.
São Luís Maria Grignion de Montfort, em
seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, dá aos devotos
servidores de Maria (no número dos quais aqueles que carregam o
Escapulário serão contados) um programa de vida em honra da Mãe de Deus:
“Fazer todas nossas ações por Maria, com Maria, em Maria e para Maria’,
a fim de fazê-las mais perfeitamente por Jesus Cristo, com Jesus
Cristo, em Jesus e para Jesus” (n. 43). Um programa que pode levar longe
as almas generosas!
RESPOSTA A UMA OBJEÇÃO CORRENTE
Objetou-se contra a devoção do
Escapulário seu carácter “supersticioso” e o fato de que a salvação do
portador deste hábito dever-se-ia a uma observância puramente exterior,
independente das disposições da alma (estado de graça, virtudes, etc.).
Respondamos primeiramente com São Luís de
Montfort: “as práticas exteriores bem feitas ajudam as interiores
porque lembram ao homem – que sempre se guia pelos sentidos – o que está
fazendo ou o que deve fazer. Também podem edificar os que as veem, o
que não sucede com as puramente interiores. Portanto, que nenhum mundano
critique, nem aqui meta o nariz, para dizer que a Verdadeira Devoção
reside no coração, que é preciso evitar as exterioridades, que pode
haver nisso vaidade, que é preciso ocultar a devoção, etc. Respondo-lhes
com o meu Mestre: ‘Que os homens vejam as vossas obras boas, e
glorifiquem o vosso Pai que está nos céus’ (Mt. V, 16). Não que se devem
fazer as ações e devoções exteriores, como diz São Gregório, para
agradar aos homens e tirar daí algum motivo de louvor, pois isso seria
vaidade. Mas por vezes fazem-se diante dos homens com o fim de agradar a
Deus e de, por este meio, o fazer glorificar, sem a preocupação do
desprezo ou louvor dos homens.” Mais tarde assevera o mesmo santo: “uma
das razões porque tão poucos cristãos pensam em seus votos do santo
batismo e vivem com tanta libertinagem como se eles nada tivessem
prometido a Deus, como os pagãos, é que ele não portam nenhuma marca
exterior que lhes faça relembrar”.
Entretanto, insiste-se: o Escapulário,
diz-se, é um “seguro-salvação” bem barato que dispensa seu portador de
se santificar e de obedecer aos mandamentos de Deus. Em outras palavras,
o pecador, depois de ter recebido o Escapulário, poderia se livrar com
perfeita segurança a todos os pecados dizendo para si mesmo: “Uma vez
que porto o Escapulário, estou seguro de não ser condenado”.
Deve-se responder que aquele que assim
abusaria da devoção à Santíssima Virgem, seria indigno de seus favores. É
por isso que seria com grande engano que ele contaria com seu
Escapulário para pecar mais livremente, uma vez que “não se zomba de
Deus” (Gal. VI, 7).
Provavelmente, enquanto ele guardasse seu
Escapulário, nunca o demônio poderia se amparar definitivamente de sua
alma. Mas o que poderá acontecer, é que a morte o surpreenderá em um
momento em que ele tê-lo-á perdido, ou mesmo após que seus próximos
tê-lo-ão arrancado; ou ainda, não mais tendo a fé, ele mesmo o tirará,
com desprezo. Tem-se, infelizmente, relatado casos desse gênero. São
Cláudio de la Colombière conta a história de um pecador empedernido, o
qual, vencido pelo desespero, “tentara várias vezes se afogar sem
sucesso. Não sabendo a que atribuir um acontecimento tão prodigioso, ele
percebeu que portava um Escapulário, e ficou tão persuadido que era
este o obstáculo que se opunha à seu funesto plano, que ele o arrancou;
e, se jogando, em seguida, pela quarta ou quinta vez, as mesmas ondas
que o haviam poupado até então sufocaram-no em um instante. Morreu ele
em seu pecado; mas não pôde ele morrer senão após ter-se despojado deste
hábito de salvação sob o qual não se pode expirar sem ter a regalia de
evitar os fogos eternos”. O santo jesuíta conclui: “se tu queres morrer
em teus pecados, tu morrerás; mas tu não morrerás sob o Escapulário”[7].
São Luís Maria Grignion de Montfort, que
muito recomendava o Escapulário do Monte Carmelo, insistia, no entanto, a
respeito da retidão necessária às pessoas que o recebiam: a utilização
do Escapulário necessita “que a pessoa esteja com a resolução de sair do
pecado”, senão “estar-se-á no número dos falsos devotos da Santíssima
Virgem e dos devotos presunçosos e impenitentes, os quais, sob o manto
da Santíssima Virgem, com o Escapulário em seus corpos ou o rosário em
suas mãos, gritam: ‘Santíssima Virgem…’ e, no entanto, crucificam e
ferem cruelmente Jesus Cristo por seus pecados”[8].
Podemos, pois, colocar como princípio que
o hipócrita que revestisse o Escapulário na intenção de continuar a
pecar desafiando livremente a justiça de Deus, encontrar-se-ia excluído
das promessas da Santíssima Virgem. Deve-se, entretanto, apreciar
diferentemente o caso daquele que, por fraqueza ou influência,
deixasse-se levar pouco a pouco a ter uma vida desordenada enquanto
portasse o Escapulário carmelitano e conservasse a firme esperança que a
Santíssima Virgem o ajudará um dia a mudar de vida e a atingir sua
salvação. Quanto a esse, é perfeitamente permitido crer que Maria
trabalhará para convertê-lo, e que ela fará com que ele não morra
subitamente sem o socorro da religião, ou, ao menos, sem ter podido se
arrepender. Fosse-lhe necessário retardar a morte iminente, a fim de dar
ao moribundo o tempo de se reconciliar com Deus, de receber os
sacramentos ou de fazer ao menos um ato de contrição perfeita, Maria
estenderá certamente até esse ponto a sua solicitude maternal. Isso
porque o engajamento que a liga aos seus confrades do Escapulário é um
desses pactos sagrados cuja duração é sem limites e cujo teor é
inviolável. A Bem-aventurada Virgem do Monte Carmelo obterá, sobretudo,
aos seus filhos as graças de prevenção que lhes preservarão do pecado
mortal, que lhes protegerão nas ocasiões de perigo e que lhes
santificarão. É neste sentido que ela disse a São Simão Stock que o
Escapulário seria “um sinal de salvação, uma salvaguarda nos perigos, um
penhor de paz e de aliança eterna”.
QUESTÕES PRÁTICAS CONCERNINDO AO ESCAPULÁRIO
I- Torna-se membro da Confraria do Escapulário de Nossa Senhora do Monte Carmelo pela recepção do Escapulário, o qual deve ser obrigatoriamente “imposto” (isto é, colocado em torno dos ombros), utilizando-se do ritual previsto
para tal efeito. Em caso de urgência (perigo de morte) e se for
impossível achar um sacerdote, um leigo poderia impor um escapulário que
tenha sido anteriormente abençoado por um padre, em si mesmo ou em
outra pessoa, recitando uma oração à Santíssima Virgem[9].
II- Todo padre ou diácono (este segundo o Código de Direito Canônico de 1983) pode doravante fazer a imposição do Escapulário
(não mais é necessário, como no passado, de uma autorização especial da
Ordem dos Carmelitas Descalços). Para tal, é necessário utilizar uma
das fórmulas de bênção previstas pelo Ritual Romano.
III- O Escapulário do Monte
Carmelo é composto de dois pedaços de lã marrom, de forma retangular ou
quadrada, não tricotadas mas tecidas, ligadas entre elas por dois fios
de maneira que possa ser ele portado em torno dos ombros, um pedaço
sobre o peito e o outro às costas. A imagem da Santíssima Virgem não é
necessária, mas é um piedoso e louvável costume que ela seja colocada.
IV- O Escapulário deve ser
portado de forma moralmente contínua (logo, também durante a noite);
claro, pode-se tirá-lo para se lavar, continuando a se beneficiar da
promessa. Pode ele ser escondido sob as vestes. Quando da imposição, ele
é abençoado para sempre. Quando um escapulário é sujo ou está muito
gasto, pode-se, pois, substituí-lo sem necessidade de uma nova cerimônia
de bênção ou de imposição (a benção do primeiro escapulário passa aos
seguintes).
V- A medalha do Escapulário.
O Papa São Pio X concedeu a faculdade de
se substituir o Escapulário de tecido por uma medalha, sobretudo em
razão da rápida corrupção da estofa nos países quentes (Decreto Cum Sacra
de 16 de dezembro de 1910). Esta concessão foi depois estendida ao
mundo inteiro. Pode-se, assim, com a medalha do Escapulário,
beneficiar-se das três promessas da Santíssima Virgem: a preservação das
chamas eternas, a liberação do purgatório (privilégio sabatino) e a
proteção contra os perigos da alma e do corpo. Deve-se, no entanto,
notar que a medalha não pode ser imposta. É, pois, indispensável
receber, segundo as normas mencionadas supra, um primeiro Escapulário de
pano: somente depois, pode-se substituí-lo pela medalha (anteriormente abençoada com a fórmula de bênção do Escapulário, ou por um simples sinal da cruz). A medalha deve representar em um lado Nosso Senhor mostrando seu Coração e do outro a Santíssima Virgem.
Pode-se portar a medalha do Escapulário ao redor do pescoço ou sobre si
de uma outra maneira. Caso se troque de medalha, não é necessário que a
nova seja abençoada.
Entretanto, deve-se insistir no fato que a Igreja prefere o Escapulário em tecido,
uma vez que ele melhor representa a veste dada pela Santíssima Virgem a
São Simão Stock. A concessão da medalha não é senão uma dispensa, e os
papas São Pio X e Bento XV, que a concederam, asseveraram que queriam
que os fiéis continuassem a portar, se possível, o Escapulário em lã.
Pode-se, inclusive, contornar o
inconveniente desgaste do tecido protegendo o Escapulário com um
envelope plástico, ou simplesmente trocando com frequência de
Escapulário. O Escapulário usado, por sua vez, deve ser queimado ou
descartado com um embrulho, para que não haja o perigo de ser profanado.
VI- Condições para ser beneficiado pelas promessas.
a) Para a promessa principal da preservação do inferno, não há nenhuma condição particular, senão aquela de receber o Escapulário com uma reta intenção e de portá-lo no momento da morte
(caso seja ele tirado de um doente no hospital contra a sua vontade,
considera-se que ele continuou a portá-lo. Pode-se também, nesse caso,
pedir que ele seja amarrado à mesa de cabeceira do doente).
O Escapulário pode ser imposto em pessoas
acatólicas, desde que compreendam elas a sua significação. Foram
relatados casos de conversões miraculosas de protestantes e mesmo de
pagãos que receberam o Escapulário.
b) Para se beneficiar do privilégio
sabatino (liberação do purgatório pela Santíssima Virgem no sábado
seguinte à morte) são necessárias três condições:
i. Portar habitualmente o Escapulário;
ii. Conservar a castidade de seu estado (completa no celibato e
conjugal no matrimônio); deve-se notar que esta obrigação nada adiciona
aos deveres de todo cristão naquilo que tange à castidade;
iii. Recitar diariamente o Ofício Parvo da Santíssima Virgem. Os
sacerdotes, ao imporem o Escapulário, têm o poder de comutar esta
obrigação um tanto difícil, prescrevendo, por exemplo, em seu lugar, a
recitação quotidiana do terço do Santo Rosário. Que os leigos não
hesitem em pedi-la.
iv. A utilização do Escapulário não obriga sob pena de pecado.
Pode-se, pois, depois de tê-lo recebido, parar de usá-lo sem cometer
nenhuma falta moral; mas não mais se beneficia de suas promessas. Aquele
que voltasse a utilizar o Escapulário após ter tê-lo abandonado por
algum tempo, mesmo por vários anos, não precisa novamente da sua
imposição.
c) Não parece de forma alguma ser
prudente impor o Escapulário sem antes explicar à pessoa de que se
trata, nem sem se assegurar de sua reta intenção. É mesmo conveniente
lhe fazer ler algum documento sobre o Escapulário, e, se possível, de
envolver a cerimônia de imposição de uma certa solenidade (é desejável
que seja ela feita em uma Igreja).
VII- Indulgências anexadas ao porte do Escapulário.
- Uma indulgência parcial (remissão de uma parte das penas que deveríamos sofrer no purgatório) é dada àqueles que portarem piedosamente o Escapulário ou a medalha, cada vez que renovarem sua união à Santíssima Virgem ou a Deus pelo Escapulário ao beijá-lo, ou ao formular interiormente um desejo, uma inspiração ou uma invocação.
- Uma indulgência plenária (remissão da totalidade das penas do purgatório) é concedida no dia em que se recebe pela primeira vez o Escapulário, bem como nas seguintes festas[10]:
i. De Nossa Senhora do Carmo, no dia 16 de julho;
ii. Do Santo profeta Elias, no dia 20 de julho;
iii. De Santa Teresa do Menino Jesus, no dia 1º de outubro;
iv. De Todos os Santos da Ordem do Monte Carmelo, no dia 14 de novembro;
v. De Santa Teresa de Jesus, no dia 15 de outubro;
vi. De São João da Cruz, no dia 14 de dezembro;
vii. De São Simão Stock no dia 16 de maio.
Esta indulgência é concedida sob as seguintes condições:
i. Confissão, comunhão, exclusão de toda ligação ao pecado,
mesmo venial (isto quer dizer que se preferiria morrer a cometer deliberadamente um pecado venial), oração pelo Papa (por exemplo, um Pai Nosso e uma Ave Maria).
ii. Vontade de observar os engajamentos da Associação do
Escapulário: aos confrades do Santo Escapulário, é insistentemente
recomendado uma integridade de vida e uma pureza de costumes que os
tornem dignos da proteção maternal e das promessas da Santíssima Virgem.
[1] Cf. Pe. Élisée de la Nativité, OCD. Le Scapulaire, étude historique, Ed. du Carmel. Tarascon, 1958.
[2] Cf. Pe. Joseph de Sainte-Marie, OCD. La Vierge du Mont-Carmel, Lethielleux, 1985.
[3] Cf. Pe. Bruno de Jesus-Marie, OCD. Vida de São João da Cruz. Librairie Plon, Paris, 1929.
[4] Santa Teresa de Ávila. Livro da Vida. Capítulo 38, número 31. [N. do T.]
[5] Catecismo da Igreja Católica, n. 1035 e 1036.
[6] Idem, n. 1024.
[7] Opera Omnia do Venerável Padre Cláudio de la Colombière, Imprimerie Notre-Dame. Grenoble, 1901, tomo II, 35º sermão.
[8] O Segredo do Rosário, n. 117.
[9] São Pio X, 04 de janeiro e 30 de março de 1908.
[10] Calendário carmelita atual (N. do T.)
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