18 de agosto de 2013

DÉCIMO TERCEIRO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

A palavra do Papa

O Evangelho de hoje nos ensina o grande dever da gratidão.

O divino Mestre, tendo curado dez leprosos, queixa-se de que só um lhe venha agradecer, glorificando a Deus.

A gratidão é uma virtude tão rara, porque rara é a humildade que sabe reconhecer os dons que recebe.

Nós católicos temos milhares de razões de agradecermos a Deus os benefícios recebidos; há, porém, um benefício, do qual nos esquecemos facilmente e não agradecemos bastante: é a felicidade de possuirmos o dom da fé na palavra de Deus, na palavra caída diretamente dos lábios do Divino Mestre e indiretamente pelos lábios do Soberano Pontífice.

Para excitar em nós esta gratidão, vamos contemplar hoje a palavra de Jesus Cristo passando pelos lábios do Papa, palavra infalível porque é divina.

A infalibilidade deve ser bem conhecida para que se dissipem preconceitos acumulados contra este dogma, tão simples quanto evangélico.

Vejamos, pois:

1º. Em que consiste a infalibilidade;
2º. Como o Papa é infalível.

No primeiro ponto formaremos uma idéia certa da infalibilidade e no segundo mostraremos que o Papa é verdadeiramente infalível.

I. Em que consiste a infalibilidade

A palavra do Papa é infalível. Qual é o sentido desta asserção?

Será que o Papa possui ciência universal?

Não; Jesus Cristo disse aos apóstolos: Ide, ensinai todas as gentes... ensinado-as a observar todas as coisas que eu vos mandei. (Math. XXVIII. 19)

Ora, Jesus Cristo não ensinou a seus Apóstolos, nem química, nem zoologia, nem botânica, nem medicina, nem métodos contingentes da política e da economia social; ensinou-lhes a religião, que é a regra das nossas relações para com Deus e com próximo e que compreende o dogma para o espírito e a moral para o coração. Eis o que é claro.

A palavra do Papa é, pois, infalível; não em todas as ciências, mas unicamente na ciência da religião.

Aqui ainda é necessária uma explicação. A palavra do Papa é infalível.

Quer dizer isto que ele pode à vontade criar ou modificar dogmas?

Absolutamente não! O Papa nada cria, nada inventa, nada muda.

Jesus Cristo ensinou aos Apóstolos tudo o que deviam dizer e o Papa não tem outra função senão a de conservar e ensinar a doutrina recebida, sem nada ajuntar, sem nada suprimir. Tal função é já bastante nobre por si mesma.

Quererá dizer isto que o Papa está preservado de todo perigo de erro no ensino da religião?

A infalibilidade compreende tudo o que diz respeito ao depósito da revelação, a todas as coisas da fé e da moral; é este o seu domínio próprio.

A infalibilidade estende-se a tudo o que se deve crer, isto é, a todo o ensinamento dogmático.

Jesus disse a seus discípulos: O Espírito Santo vos ensinará todas as coisas e vos relembrará tudo o que vos tenho dito. (João XIV. 26)

Esta infalibilidade estende-se também a tudo o que se de fazer, isto é, ao ensino moral, pois Jesus Cristo disse ainda:

Ensinai-lhes... a observar todas as coisas que vos mandei (Math. XXVIII. 19)

No ensino dogmático como no ensino moral, o Espírito Santo não sugere e não ensina senão o que Jesus Cristo já dissera e ensinara aos Apóstolos.

A fé e os costumes, o dogma e a moral, eis, pois, o objeto próprio da infalibilidade.

Nada mais, nada menos.

II. Como o Papa é infalível

As próprias necessidades da Igreja supõem e exigem a infalibilidade de seu Chefe.

Porque a supõem?

Porque há 19 séculos que os cristãos sofrem, lutam e derramam o seu sangue para não renunciarem a um só ponto da sua religião! Isso é heróico, sem dúvida, é, porém, antes de tudo, o cumprimento de um dever.

A Igreja exige uma fé completa, absoluta. Para ficarmos filhos da Igreja temos de crer com uma firmeza tal que nem os tormentos, nem o medo da morte nos possam abater.

Ora, para se submeter a tais exigências, é preciso que o católico tenha absoluta certeza de que dizendo: creio, adere à verdade, sem possibilidade de errar.

Como admitir que alguém sacrifique a vida por causa de uma palavra que pode ser talvez errada? É impossível, seria a mais tremenda tirania!

As nossas necessidades exigem seja o Papa infalível.

O homem quer ter certeza em questão tão importante de que depende a salvação da sua alma.

Dante, o grande poeta italiano, fugindo de um inimigo poderoso e cruel, foi de noite bater à porta de um convento:

- Que deseja o Sr.? Perguntou o Irmão porteiro.
- Desejo e procuro a paz – respondeu o grande proscrito.

Pois bem, todos nós, em certas horas da vida ouvimos, no fundo da consciência, estas perguntas capitais:

- Donde vens tu? Para onde vais? Porque sofres? Que será de ti? Enquanto não obtivermos resposta certa a este terrível questionário não podemos possuir a paz: vivemos na inquietação e na ansiedade!

E quem nos dará a resposta certa? Os livros? Mas, quantas pessoas há que nem sabem ler! E quantos outros não têm o tempo de ler! E quantos livros errados, mentirosos, perversos, andam por este mundo afora!

E, depois supondo que encontremos as respostas nos livros, ou sobre lábios amigos, mesmo assim, serão sempre um “talvez” e nunca darão a certeza absoluta.

Ora, quem arrisca a vida por causa de um “talvez”?

Queremos a certeza, e esta certeza nos é dada pela palavra do representante de Cristo na terra, o Papa; sua palavra infalível nos dá a certeza do que pedimos e do que nos diz.

O Papa fala; a fé me diz que a sua palavra é o eco certo da palavra divina: toda a dúvida se dissipa... eis que na alegria da certeza, me prostro, pronunciando o meu: “creio”!

Tenho a certeza e a paz!

A infalibilidade é pois uma necessidade e tanto as almas como a Igreja exigem esta infalibilidade.

III. Conclusão

Como disse no começo, esta grande e consoladora verdade exige, da nossa parte, um imenso brado e gratidão.

Os mais ilustres espíritos da antiguidade reconheciam que, com toda a sua ciência e filosofia, não chegariam em questão de fé e de moral, senão ao ridículo e, muitas vezes, à podridão mais abjeta.

Platão dizia: “Não pensamos em reformar os costumes dos homens antes de Deus nos mandar alguém que nos ensine em seu nome”.

E Cícero confessava: “O único meio de reconstituir a verdade religiosa é recorrer aos ensinamentos divinos”.

Este ensino divino, esta doutrina certa que os sábios antigos reclamavam tão ansiosamente, nós o possuímos graças à infalível palavra do Papa.

Enquanto fora da Igreja as almas, os sábios e os sensatos reclamam esta infalibilidade sem encontrá-la, nós a possuímos na palavra de Deus infalível representada pelo seu substituto infalível, o Papa.

Fora da Igreja, as almas andam às palpadelas na obscuridade e na noite, em busca do caminho certo da verdade e da virtude, enquanto nós católicos ouvimos ressoar a nossos ouvidos a afirmação clara e positiva do Salvador: Quem vos escuta, escuta a mim – Pedro... confirma os teus irmãos - Pedro roguei por ti para que a tua fé não desfaleça...

EXEMPLO

A palavra de Cristo

É no Papa que o Cristo depositou a sua palavra. Se o ruído das doutrinas opostas vos inquieta; se um livro novo, aplaudido pelo mundo, vos perturba a fé, se os continuadores de Ário, de Lutero, de Jansênio lançarem o seu brado de revolta contra a divindade de Cristo, contra a confissão, a graça, etc.; se, atormentados na hora presente pela questão social, procurais, com boa fé, uma luz, uma solução, uma palavra decisiva... ide ao Papa!

Economistas, não cristãos, até são obrigados a reconhecer que lá no alto do Vaticano há lampejos, há iluminações admiráveis, que tudo põem em plena luz!

É no Papa que Jesus Cristo depositou a sua palavra! (Mons. Gibier)

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 331 - 337)

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