29 de agosto de 2013

Tesouro de Exemplos - Parte 377

ULTRAJE CASTIGADO

O doutor Favas narrou a Luís Veuillot o seguinte: "Um dia apresentou-se-me um indivíduo com uma chaga na perna direita, causada por uma bala de fuzil. A ferida era de um caráter todo especial. Depois de deixar-se examinar, disse-me o paciente em tom resoluto e seguro:
- Senhor doutor, todo o remédio será inútil: esta chaga me acompanhará até à sepultura.
- Por quê? - perguntei-lhe.
- E' o seguinte: "Em 1793 o meu regimento recebeu ordem de participar da campanha da Espanha. Tendo transposto os Pirineus, encontramo-nos numa pequena aldeia. Eu estava em companhia de outros dois soldados, Francisco e Tomás; tínhamos as idéias daqueles tempos, isto é, éramos incrédulos ou, melhor, ímpios, como era a moda então. Tomás, vendo uma estátua de Nossa Senhora sôbre a porta de uma casa, disse: "Vejamos quem acerta melhor naquele infame objeto de superstição".
Dispara e a bala fere a estátua na fronte. Francisco, por sua vez, aponta o fuzil e fere-a no peito. Eu não queria seguir o exemplo dos companheiros: lembrava-me de minha mãe, que era muito religiosa; não pude, porém, resistir às zombarias dos companheiros: tremendo, encostei o fuzil ao ombro, fechei os olhos
quase involuntàriamente e feri a estátua. . .
- Na perna? indaguei.
- Sim, exatamente onde recebi esta ferida. Uma velha que nos observava exclamou: "Os senhores vão à guerra, e o que acabam de fazer não lhes trará felicidade!" E a profecia realizou-se. Tomás foi o primeiro ferido, e precisamente na testa, como êle ferira a estátua.
Reconhecemos logo que era uma lição do céu. No outro dia bem cedo, Francisco, prevendo o que ia acontecer, apertou-me a mão e disse-me: "Hoje é a minha vez!" E não se enganou.
Meu Deus! Não me esquecerei nunca do que vi: Uma bala atravessou-lhe o peito de um lado ao outro. Êle rolava no pó, chamando um padre que naquele momento foi impossível encontrar. Eu não tinha mais dúvida, e esperava o que ia me acontecer. Realmente: fui ferido na perna; aí está o meu caso. Não sararei nunca, mas dou graças a Deus e a Nossa Senhora que me concederam tempo para reparar o mal que fiz".

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