4 de agosto de 2013

DÉCIMO PRIMEIRO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

O Papado no Evangelho

O Evangelho termina com uma destas frases que o Espírito Santo lança, vez ou outra, como um relâmpago sobre a vida de Jesus Cristo.

Resumindo a sua vida escondida em Nazaré o Espírito Santo diz tudo numa frase: Era-lhes submisso.

Resumindo a sua vida pública é o mesmo relâmpago, curto, mas de uma extensão deslumbrante: Ele fez bem todas as coisas.

Jesus veio neste mundo para salvar a humanidade, comunicar-lhe a sua doutrina divina e estabelecer meios para que esta doutrina se conservasse imutável através dos séculos.

Para conseguir esta imutabilidade, duas coisas eram necessárias: possuir uma autoridade suprema e a sobrevivência desta autoridade.

São estes dois pontos que vamos meditar hoje, vendo pelo Evangelho, como Jesus transmite a Pedro:

1. A autoridade no governo.
2. A imortalidade na existência.

Estas duas prerrogativas vão mostrar-nos em todo o seu esplendor a glória do Papado de Pedro e de seus sucessores através dos séculos.

I. A autoridade no governo

Há duas fases nesta autoridade: a promessa e a realização.

Um dia Jesus Cristo pergunta a seus discípulos. Que dizem os homens do Filho do Homem?

Os discípulos respondem: Uns dizem que é João Batista, outros que é Elias e outros que é Jeremias ou algum dos Profetas.

E vós, continua o divino Mestre, que dizeis de mim?

Então, Pedro tomando a palavra, exclama com este acento de fé que lhe era peculiar: - Tu és o Cristo Filho de Deus vivo (Mat. XVI. 16).

A exclamação de Pedro é um relâmpago de fé; a resposta do Mestre é um relâmpago de autoridade.

Bem-aventurado és tu Simão, filho de João, diz Ele, porque não foi a carne, nem o sangue que te revelou isso, mas meu Pai que está no Céu; e Eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra (kephas significa: Pedro e pedra, como a palavra francesa Pierre significa Pedro e pedra) edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra Ela.

Além disso: Eu te darei as chaves do reino dos céus: e tudo o que ligares na terra será ligado também nos céus e tudo o que desatares na terra, será também desatado nos céus. (Math. XVI. 19)

Tal é a promessa: Notem bem que é apenas a promessa. É depois da ressurreição que o divino Mestre cumprirá a sua promessa.

A cena é de um encanto sem par, de uma ternura sem medida e de um vigor sem réplica.

Era na ocasião da terceira aparição de Jesus ressuscitado.

Os Apóstolos, depois da pesca milagrosa, tinham terminado a modesta ceia, à qual o próprio Jesus quis participar.

Tendo eles pois jantado, narra o Evangelho, Jesus disse a Simão Pedro:

Simão, filho de João (Bar Jona) tu me amas mais do que estes?

Ele disse-lhe: Sim Senhor: tu sabes que eu te amo.

Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros.

Há uma pausa, repleta de um silêncio misterioso. Então Jesus disse-lhes outra vez: Simão, filho de João, amas-me?

Ele disse-lhe: Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo.

Disse-lhe Jesus: Apascenta os meus cordeiros.

Novo silêncio misterioso, repleto de uma expectativa torturante para Pedro. Jesus pala terceira vez fez a mesma pergunta:

Simão, filho de João, amas-me?

Pedro ficou triste, porque pela terceira vez o Mestre lhe perguntou: Tu amas-me? E disse-lhe: Senhor, tu conheces tudo: tu sabes que eu te amo!

Disse-lhe Jesus: apascenta as minhas ovelhas. (João XXI. 15)

Jesus pergunta três vezes a Pedro se o ama, como para obrigá-lo a reparar com uma tríplice afirmação a tríplice negação no átrio de Caifás (Math. XXVI. 74)

E a medida que Pedro vai afirmando o seu amor, Jesus dá-lhe a investidura da autoridade suprema sobre a Igreja inteira.

De fato, notamos na Igreja três categorias distintas: os fiéis, os sacerdotes, os Bispos.

E todos estes estão sob a autoridade de Pedro.

É como se o divino Mestre dissesse:

- Pedro, tu amas-me mais do que estes?
- Sim; Senhor!
- Pois bem, sê o Pastor dos Bispos da Igreja.
- Pedro, amas-me?
- Sim, Senhor.
- Pois bem, sê o Pastor dos meus sacerdotes.
- Pedro, amas-me?
- Senhor, tu sabes que eu te amo.
- Pois bem, sê o Pastor supremo de todos os fiéis.

Eis Pedro, revestido da autoridade suprema da Igreja inteira: da Igreja docente e discente, dos Bispos, sacerdotes e fiéis.

É a realização do que o divino Mestre havia prometido: haverá um único rebanho e um único Pastor (João X. 16).

II. A imortalidade da existência

Jesus Cristo disse a Pedro: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja.

Ora, o fundamento de uma Igreja imortal deve ser igualmente imortal.

As portas do inferno nunca prevalecerão contra a Igreja; logo não prevalecerão tão pouco contra o fundamento desta Igreja: e este fundamento é Pedro, é o Papado.

A Igreja é, pois, imortal, embora os Apóstolos sejam mortais.

A morte ceifa todas as gerações, e não poupa nem os reis, nem os Papas.

O Papa morre, porém, notai bem: a sua primazia não é um privilégio pessoal. Ela sobrevive ao homem que desaparece e passa inteiramente a seu sucessor.

O Papa morreu!

Viva o Papa! diziam os antigos.

Quem sucede a Pedro, sucede a sua autoridade. Ceifado pela morte, Pedro persevera e vive naqueles que lhe sucedem sobre o seu trono.

O homem dura pouco: é uma nuvem que passa.

A verdade e a virtude devem permanecer sempre no mundo: a Igreja não pode morrer.

Logo, é preciso que haja um Papa... que haja cem Papas... duzentos... mil, até chegar ao fim dos tempos. É preciso que o último dos Papas, no fim do mundo, esteja ligado por uma corrente ininterrupta ao primeiro Papa: São Pedro.

Entretanto, o Papa é homem. Tudo pode conspirar contra ele: o tempo, as paixões, os poderes, as baixezas, o inferno.

Estes poderes unir-se-ão para abafar a verdade sobre seus lábios... quebrar-lhe-ão os dentes... cortar-lhe-ão a língua, para que não fale.

Pouco importa: ele falará sempre.

Este ancião idoso, vergado sob a idade e a responsabilidade, sob o ódio e as ameaças, falará sempre e nenhum poder acorrentará a verdade sobre os seus lábios: o Papa é imortal.

A história está repleta das agressões brutais de todos os poderes humanos e, continuadamente, temos sob os olhos o triste espetáculo das conspirações contra o trono de Pedro.

Trono do Papa, tantas vezes ameaçado e batido, acabarás tu por ruir? É o brado angustiado de muitos católicos fracos na fé, ouvindo os ruídos sinistros do passado e as imprecações selvagens do presente.

Abram o Evangelho, a resposta está ali:

Tu és Pedro... feito pedra e eu edificarei sobre ti a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.

É a dupla auréola da autoridade e da imortalidade.

III. Conclusão

A mudança do nome de Pedro em Pedra encerra o seu título de imortalidade.

Tu eras Pedro: Pedro é mortal.
Tu serás Pedra: a pedra é imortal.

Tu eras Simão, filho de João, disse-lhe o divino Mestre, tu serás doravante Pedro, a pedra fundamental.

E a mesma cena se renova através dos séculos. A cada Papa Jesus Cristo repete:

Tu eras Joaquim Pecci: tu serás Leão XIII.
Tu eras José Sarto: tu serás Pio X.
Tu eras Giacomo della Chiesa: tu serás Bento XV.
Tu eras Achilles Rati: tu serás Pio XI.
Tu eras Eugênio Pacelli: tu serás Pio XII.

E a lista seguir-se-á; de São Pedro até ao último Papa. Cada um deles deixará o seu primeiro nome para tomar o nome da sua transformação em Pedro.

Eis como se nos apresenta Pedro e com ele seus 263 sucessores.

É a mesma autoridade... é a imortalidade através dos séculos...

Pedro recebeu de Jesus Cristo: a autoridade do governo e a imortalidade na existência!

EXEMPLOS

1. Com 1800 anos de idade

Um jovem Padre de Paris foi assistir a uma execução musical do Conservatório. Entrou ali também o grande compositor Gounod, que encontrou todas as cadeiras ocupadas.

O Padre se levanta e apresenta a sua cadeira, dizendo:

- Mestre, faça o favor de tomar o meu lugar.
- Isto não farei, responde Gounod.
- Mas em consideração da sua idade, retorquiu o Padre.
- V. Rvma. me desculpe, respondeu Gounod, mas permita-me citar-lhe uma palavra de Gregório XVI.

Não me lembro qual foi a personagem que disse ao Papa por ocasião de uma audiência: Santo Padre, sou mais velho do que V. Santidade!

- Mais velho do que eu? replicou o Papa, sorrindo. Olhe lá: eu estou com 1800 anos de idade!...

- Senhor Padre, concluiu Gounod, conserve V. Rvma. o seu lugar... é mais velho do que eu... está com 1800 anos, enquanto eu tenho apenas os meus 60 anos.

2. Palavra de Barbaroxa

Barbaroxa era um imperador perverso.

Estando no Oriente, exclamou um dia: “Como o sultão Árabe é feliz!... não tem um Papa para reprimir as suas desordens!”

3. O Papa Pio V

Os médicos aconselharam ao Papa Pio V de cuidar mais da sua saúde e que não trabalhasse tanto.

O santo respondeu: A Santa Sé não é um leito de dormir, mas um trono de trabalho. A saúde, a prolongação da vida, é a última coisa de que um Papa deve ocupar-se! Ele é, antes de tudo, o servo dos servos de Deus!

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 314 - 321)

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