III
Jesus cai pela primeira vez
«Será um homem de dores e conhecerá a fraqueza»: Vir dolorum sciens infirmitatem. Esta profecia de Isaías cumpriu-se à risca. Jesus, exausto pelos sofrimentos da alma e do corpo, sucumbe sob o peso da cruz. A omnipotência cai de fraqueza. Esta fraqueza de Jesus honra o seu poder divino. Por ela, satisfaz pelos nossos pecados, repara as revoltas do nosso orgulho e "levanta o mundo, incapaz de se salvar»: Deus qui in Fillii tui humilitate jacentem mundum erexisti ... Além disso, naquele momento merecia-nos a graça de nos humilharmos pelos nossos pecados, de reconhecermos as nossas faltas, de as confessarmos sinceramente; merecia-nos a graça da força que sustenta a nossa fraqueza.
Com Jesus Cristo, prostrado diante do Pai, detestemos as exaltações da nossa vaidade e ambição; reconheçamos a extensão da nossa fraqueza. Deus abate os soberbos; a humilde confissão da nossa fraqueza atrai a Sua misericórdia: Quomodo miseretur pater filiorum ... quoniam ipse cognovit figmentum nostrum. Nos momentos em que nos sentirmos fracos diante da cruz, da tentação, do cumprimento da vontade divina, imploremos a misericórdia de Deus: Miserere mei, Domine, quoniam infirmus sum. Proclamemos humildemente as nossas enfermidades, e então brilhará em nós o triunfo da graça, só a qual nos poderá salvar: Virtus in infirmitate perficitur.
Ó Jesus, caído sob o peso da cruz, eu Vos adoro. «Força de Deus», mostrais-Vos acabrunhado de fraqueza para nos ensinardes a humildade e confundirdes o nosso orgulho. "Ó Pontífice, cheio de santidade, que quisestes passar pelos nossos sofrimentos para Vos tornardes semelhante a nós e compartilhardes das nossas enfermidades, não me abandoneis a mim mesmo, pois de mim não sou mais que fraqueza: «que habite em mim a Vossa força», para não sucumbir à tentação: Ut inhabitet in me virtus Christi.
V
Jesus ajudado pelo Cireneu a levar a cruz
«Ao saírem encontraram um homem de Cirene, chamado Simão, ao qual obrigaram a levar a cruz de Jesus». Jesus está exausto; conquanto seja o Todo Poderoso, quer que a Sua santa Humanidade, carregada com todos os pecados do mundo, sinta o peso da justiça e da expiação. Mas quer que O ajudemos a levar a cruz. Simão representa-nos a todos, e é a todos nós que Jesus Cristo pede que compartilhemos dos Seus sofrimentos. Só assim seremos Seus discípulos. "Se alguém quiser vir após mim, tome a sua cruz e siga-me». O Pai decretou que uma parte das dores fosse deixada ao corpo místico de Seu Filho, que uma parte da satisfação fosse suportada pelos seus membros: Adímpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea pro corpore ejus, quod est Eclesia. Jesus assim o quer, e foi par manifestar este decreto divino que aceitou a ajuda de Simão.
Mas ao mesmo tempo mereceu-nos a graça da fortaleza para suportarmos generosamente as provações; comunicou à Sua cruz o lenitivo que torna tolerável a nossa; porque, levando a nossa cruz, é bem a d"Ele que aceitamos. Une os nossos sofrimentos aos Seus e, por esta união, confere-lhes um valor inestimável, fonte de grandes merecimentos. «Assim como a minha Divindade, dizia Nosso Senhor a Santa Matilde, atraiu a Si os sofrimentos da minha Humanidade, fazendo-os Seus (é o dote da esposa), assim Eu transportarei as tuas dores para a minha Divindade, uni-las-ei à minha Paixão e far-te-ei participar daquela glória que o meu Pai conferiu à minha santa Humanidade por todos os Seus sofrimentos.
É o que S. Paulo nos dá a entender na sua carta aos Hebreus, com o fim de nos animar a tudo suportarmos por amor de Cristo: "Sigamos com perseverança a carreira que nos está aberta, com os olhos fixos em Jesus, o mais perfeito guia da fé. Em lugar da alegria que Lhe era oferecida, desprezando a ignomínia, aceitou a cruz e, desde então, mereceu sentar-se à direita do trono de Deus. Considerai Aquele que sofreu em Sua pessoa tão grande contradição da parte dos pecadores a fim de vos não deixardes sucumbir de desânimo».
Meu Jesus, aceito os bocadinhos que da Vossa cruz tirais para mim. Aceito todas as contrariedades, contradições, sofrimentos, dores que permitis ou me enviais; aceito-os como parte de expiação. Uni este pouco que faço aos Vossos indizíveis sofrimentos, pois é deles que os meus tirarão todo o seu merecimento.
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