15 de abril de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

XV
SI CONSURREXISTIS CUM CHRISTO ...

Todo o mistério de Jesus Cristo durante os dias da Sua Paixão se pode resumir nesta frase de S. Paulo: Humiliavit semetipsum, factus obediens usque ad mortem. "Humilhou-se, fazendo-se obediente até à morte». Vimos até que ponto Jesus Cristo se abaixou; tocou o abismo da humilhação, escolheu «a morte dum maldito», como estava escrito: Maledictus omnis qui pendet in ligno. 
Mas estes abismos de ignomínias e sofrimentos a que Nosso Senhor quis descer eram também abismos de amor; e este amor mereceu-nos a misericórdia do Pai, todas as graças para nos salvarmos e santificarmos.
 Se a palavra humilhação resume o mistério da Paixão, há igualmente uma frase de S. Paulo que resume, quanto a Jesus Cristo, o mistério da. Sua Ressurreição: Vivit Deo: Vive para Deus». Vivit; doravante não há para Ele senão a vida perfeita e gloriosa, sem enfermidade nem «perspectiva de morte»: Jam non moritur, mors illi ultra non dominabitur; vida toda para Deus, dedicada mais do que nunca ao Pai e à Sua glória.
Nas suas ladainhas, a Igreja aplica certas denominações a alguns mistérios de Jesus. Da Sua Ressurreição diz que é «santa»: Per sanctam ressurrectionem tuam. Que quer isto dizer? Não são porventura santos todos os mistérios de Jesus Cristo? Está claro que sim. É Ele em primeiro lugar «o santo por excelência": Tu solus sanctus, canta-se na Missa, no hino Glória. E todos os Seus mistérios são santos. «É santo o Seu nascimento»: Quod nascetur ex te Sanctum. A Sua vida é inteiramente santa: "fez sempre tudo o que era do agrado do Pai»; e sabeis que ninguém o pôde arguir de pecado.  É santa a Sua Paixão; é certo que morre pelos pecados dos homens; mas a Vítima é imaculada, é o cordeiro sem mancha: o Pontífice que a Si mesmo se imola é «santo, inocente, justo, separado dos pecadores».
 Por que é então que a Ressurreição, de preferência a qualquer outro mistério de Jesus, é pela Igreja chamada "santa»?
 Porque é neste mistério que Jesus Cristo realiza de modo particular as condições da santidade; porque este mistério põe sobretudo em evidência os elementos que constituem formalmente a santidade humana, cujo modelo e fonte é Jesus Cristo;  porque, se em toda a Sua vida Ele é o caminho, a «luz»,  se dá o exemplo de todas as virtudes compatíveis com a Sua Divindade, na Ressurreição, Jesus Cristo é sobretudo o modelo da santidade.
 Quais são, pois, os elementos constitutivos da santidade? Para nós, a santidade pode reduzir-se a dois elementos: afastamento de todo o pecado e desapego da criatura, e doação total e estável de nós mesmos a Deus.
 Ora estes dois caracteres encontram-se particularmente, como vamos ver, na Ressurreição de Cristo, no mais alto grau de perfeição, que se não manifestou antes da Sua saída do túmulo. Embora o Verbo Incarnado tenha sido, durante toda a Sua vida, o «santo» por excelência, revela-se-nos sobretudo debaixo deste aspecto, com deslumbrante claridade, na Sua Ressurreição. E eis por que a Igreja canta: Per sanctam resurrectionem tuam.
 Contemplemos, pois, este mistério de Jesus que sai vivo e glorioso do sepulcro. Veremos como a Ressurreição é o triunfo da vida sobre a morte, do celestial sobre o terreno, do divino sobre o humano, e como realiza eminentemente o ideal da santidade ...

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