12 de abril de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

VI
Uma mulher limpa o rosto de Jesus
 A tradição conta que uma mulher movida de compaixão se aproximou de Jesus e Lhe estendeu um
lenço para enxugar o Seu rosto adorável. 
Isaías predissera de Jesus padecente que «chegaria a não ter forma nem beleza e se tornaria irreconhecível: Non est species ei, neque decor, nec reputavimus eum. O Evangelho diz-nos que os soldados Lhe davam insolentes bofetadas e Lhe cuspiam no rosto; a coroação de espinhos fizera.-·lhe correr o sangue pelas faces sagradas. Jesus Cristo quis sofrer tudo aquilo par a expiação dos nossos pecados; "quis curar-nos com as contusões» recebidas em Sua face divina.: Livore ejus sanati sumas. Como nosso irmão mais velho, substitui-nos na Sua Paixão para nos restituir a graça que faz de nós filhos do Seu Pai. "Devemos ser semelhantes a Ele, pois é essa a verdadeira forma da nossa predestinação» ; Conformes fieri imaginis Filii sui. Como? Embora desfigurado pelos nossos pecados, Jesus Cristo continua a ser, na Paixão, o Filho querido, objeto de todas as complacências do Pai. Somos semelhantes a Ele, se conservarmos a graça santificante, que é o princípio da nossa semelhança divina. Somos ainda semelhantes a Ele, se praticarmos as virtudes de que dá provas durante a Paixão, se participarmos do amor que dedica ao Pai e às almas, da Sua paciência, força, mansidão e doçura. 
O Pai celeste. em paga dos maus tratos que Vosso Filho Jesus quis sofrer por nosso amor.
 glorificai-O, exaltai-O, dai-Lhe aquele esplendor que mereceu, quando o Seu rosto adorável foi desfigurado para nossa salvação. 



 VII.

 Jesus cai pela segunda vez
 Consideremos o nosso divino Salvador caído mais uma vez sob o peso da Cruz. «Deus colocou sobre os Seus ombros todos os pecados do mundo: Posuit Dominus in eo iniquitatem omnium nostrum. São os nossos pecados que O esmagam. Vê-os todos no seu conjunto e nas suas particularidades;
 aceita-os como Seus a ponto de parecer, como diz S. Paulo um pecado vivo : Pro nobis peccatum fecit. Como Verbo eterno, Jesus é todo-poderoso; mas quer sentir toda a fraqueza da humanidade esmagada. Esta fraqueza inteiramente voluntária honra a justiça do Pai e merece-nos a força.
 Não esqueçamos nunca as nossas enfermidades; não deixemos o orgulho apossar-se de nós. Por maiores progressos que pensemos ter feito, continuamos sempre fracos para levar a nossa cruz em seguimento de Jesus: Sine me nihil potestis facere. Só a virtude divina que vem dela será a nossa força: Omnia possum in co qui me confortat. Esta força, porém, não nos é concedida, se a não pedirmos com instância. 
Ó Jesus, que por meu amor Vos tornastes fraco, esmagado sob o peso dos meus pecados, dai-me a Vossa força para Vós serdes glorificado pelas minhas obras! 



VIII
Jesus fala às mulheres de Jerusalém
«Grande multidão de povo e de mulheres seguiam a Jesus batendo no peito e lastimando-O. Voltando-se para elas, disse Jesus: "Filhas de Jerusalém não choreis por mim, mas por vós mesmas e por vossos filhos, pois dias virão em que hão de dizer: Bem aventuradas aquelas que foram estéreis... E os homens clamarão às montanhas: caí sobre nós... Porque se a lenha verde é tratada deste modo. o que será da seca? »
 Jesus conhece as inefáveis exigências da justiça e santidade do Pai. Lembra às filhas de Jerusalém que essa justiça e santidade são perfeições adoráveis do Ser divino. Quanto a Ele, é um "Pontífice santo, inocente, puro, separado dos pecadores» ; apenas os substitui a eles. No entanto, vede com que rigor a justiça divina O castiga! Se esta justiça reclama d'Ele tão rigorosa expiação, com que rigor não castigará os culpados que obstinadamente. até ao último dia, tiverem recusado unir a sua parte de expiação aos sofrimentos de Jesus Cristo? Horrendum est incidere in rnanus Dei viventis. Naquele dia será tão profunda a confusão de orgulho humano, tão terrível o suplício daqueles que não tiverem querido a Deus, que esses desgraçados, repelidos para sempre para longe de Deus, rangerão os dentes de desespero; pedirão "às colinas que os cubram», como se estas pudessem defendê-los dos dardos inflamados duma justiça cuja absoluta equidade reconhecem com evidência.
 Imploremos a misericórdia de Jesus para o dia terrível em que há  de vir, não já como Vítima, vergada sob o peso dos nossos pecados, mas como juiz soberano "a quem o Pai entregou todo o poder».
 Ó meu Jesus, tende compaixão de mim ! Vós, que sois a videira, fazei que eu permaneça unido a Vós pela graça e boas obras para produzir frutos dignos de Vós. Que eu não venha a ser, por meus pecados, "um ramo morto, que só serve para ser arrancado e lançado ao logo».

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