1 de abril de 2017

Dom Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

XIII

JESUS CRISTO AMOU A IGREJA E ENTREGOU-SE A SI MESMO POR AMOR DELA PARA A SANTIFICAR 
(Tempo da Paixão) 

 Ao narrar a Transfiguração, S. Lucas revela-nos esta particularidade: «Moisés e Elias conversavam com Jesus acerca da Sua morte». Assim, pois, no momento em que Jesus Cristo levanta aos discípulos prediletos uma ponta do véu que oculta à multidão os esplendores da Sua Divindade,
entretem-se a falar da Sua Paixão e morte. Isto pode parecer estranho; e, no entanto, tudo tem fácil explicação.
 A Paixão marca o ponto culminante da obra que vem realizar neste mundo. Para Jesus, é a hora em que consuma o sacrifício que deve dar ao Pai glória infinita, redimir a humanidade e reabrir aos homens as fontes da vida eterna. Por isso, Nosso Senhor, que, desde o primeiro momento da Incarnação, se entregou inteiramente à vontade do Pai, deseja ardentemente ver chegar o que chama «a Sua hora», a hora por excelência. Baptismo habeo baptizari, et quomodo coarctor usquedum perficiatur. «Devo ser batizado com um batismo - o batismo de sangue -, e quanto anseio por o ver realizado»! Jesus está ansioso por ver chegada a hora em que poderá abismar-se no sofrimento e sofrer a morte para nos dar a vida.
 É certo que não quer adiantar-se a essa hora; submete-se plenamente à vontade do Pai. Mais duma vez nota S. João que os judeus tentam deitar-Lhe a mão e matá-Lo; Nosso Senhor escapa sempre, mesmo por milagre, «porque não é chegada a Sua hora»: Nondun venerat hora ejus. Mas, logo que chega essa hora, Jesus Cristo entrega-se com o maior ardor, apesar de conhecer de antemão todos os sofrimentos que devem despedaçar-Lhe o corpo e a alma: Desiderio desideravi hoc Pascha manducate vobiscum antequam patiar: «Desejei com o maior ardor comer esta Páscoa convosco, antes de sofrer a minha Paixão». Chegou finalmente a hora de há tanto esperada.
 Contemplemos a Jesus nessa hora. Este mistério da Paixão é inefável; tudo nele é grande, até nos mais pequenos pormenores, como tudo, aliás, é grande na vida do Homem-Deus. Aqui sobretudo estamos no limiar dum santuário onde não podemos entrar senão com fé viva e profundo respeito. Um texto da epístola de S. Paulo aos Efésios resume os pontos essenciais que devemos considerar neste mistério. «Jesus Cristo, diz, amou a Igreja, - entregou-se a Si mesmo por amor dela - para a santificar e fazer aparecer diante de Si uma sociedade gloriosa, sem mancha nem ruga nem coisa semelhante, mas toda santa e imaculada».
 Nestas palavras está indicado o próprio mistério da Paixão: "Jesus entregou-se a Si mesmo»: Seipsum tradidit. E o que é que O levou a entregar-se? O amor; é esta  a razão profunda do mistério: Dilexit Ecclesiam. E o fruto desta oblação de Si mesmo por amor é a santificação da Igreja: Ut illam sanctificaret ... ut sit sancta et immaculata.
 Cada uma destas verdades reveladas pelo Apóstolo encerra para as nossas almas tesouros de luz e frutos de vida. Contemplemo-las por alguns instantes. Veremos em seguida como devemos participar da Paixão de Jesus para aproveitarmos esses tesouros e colhermos esses frutos.

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