Conferência XIII
Parte 6/11
B - Ao contrário onde não há senão um só filho, os pais incessantemente o incomodam ou sem cessar o lisonjeiam. Todo o amor e todo o instinto educativo que a natureza depositou em seu coração de pais, eles o empregam agora para seu filho único; ao infeliz não lhe fica sequer uma ocasião para afirmar sua personalidade, para exercer suas faculdades de iniciativa, e eis por que, crescendo, ele se torna um desajeitado, inepto, tímido, afeminado, sem expediente.
Mas se ordinariamente as famílias numerosas dão filhos mais bem educados que as famílias de filho único, há ainda uma outra causa. É principalmente que não são só os pais que educam os filhos, mas também os irmãos e as irmãs reciprocamente.
a - É um fato muito conhecido que a criança gosta de brincar, e para isto necessita de companheiros. Ora os melhores companheiros de brinquedos para a criança são seus próprios irmãos e irmãs. A criança que cresceu sem irmãos e sem irmãs nunca foi verdadeiramente uma criança, nunca pode viver plenamente a sua infância; sempre no meio dos grandes torna-se uma criança precoce, ao princípio um pouco arrogante, mais tarde pretensiosa, um insensível e desiludido, velho antes da idade.
O filho único, que cresce só, esta pois privado dos mais felizes momentos da vida, a idade dos brinquedos, e eis por que ele se torna uma criança que se aborrece, um ser retraído, triste, invejoso, sem alegria. Ao contrário, onde há vários irmãos e irmãs, há alegres brincadeiras e saltos, barulho, lutas, desordens, brigas, reconciliações, eles vivem seus momentos mais felizes, a sua infância.
b - Acrescentemos que os irmãos e irmãs são uns para com os outros não só companheiros de brinquedos, mas, também, são, entre si, os melhores educadores. Enquanto juntos eles se divertem, são obrigados a tomar conta um dos outros, a portarem-se com inteligência, a dominarem-se e a se privarem de alguma coisa. Assim cada um compreende que não é o centro do mundo, mas que o segundo, o terceiro, o quarto de seus irmãos e irmãs, tem tanto direito como eles.
Onde vivem juntos vários irmãos e irmãs, eles se equilibram mutuamente, se refreiam e se educam.
Há, sem dúvida, choques entre si, mas é assim que se aviva o caráter, como os seixos do riacho, que se tornam polidos e luzidios, batendo uns aos outros, incessantemente.
Onde, juntos vivem vários irmãos e irmãs, cada um deles é obrigado a aprender a dominar-se, a amar seu próximo, a perdoar, a abster-se, e a praticar o desinteresse.
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