16 de maio de 2016

Sermão para a Festa de São José Artesão – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A doutrina social da Igreja: socialismo ou liberalismo econômico?


Em nome do Pai…
Ave Maria…
A festa de São José Artesão foi instituída no ano de 1955 pelo Papa Pio XII. Foi uma tentativa do Sumo Pontífice de inculcar a doutrina social católica na inteligência dos fiéis, reconhecendo a grande importância da liturgia na transmissão das verdades cristãs.
A doutrina social da Igreja, caros católicos, é contrária ao socialismo/comunismo e contrária também ao liberalismo econômico. O socialismo/comunismo é contra a lei natural ao se opor à propriedade privada. Tal teoria, em virtude de seu materialismo visceral – que não considera nada além dos bens materiais e da matéria – se opõe, por princípio, a Deus, à religião em geral e à verdadeira religião, a católica, em particular. O socialismo/comunismo é também eivado de relativismo quanto à verdade e quanto à moral, afirmando o evolucionismo tanto de uma coisa quanto de outra. Tal teoria opõe os diferentes membros da sociedade, plantando entre eles a inimizade. Inimizade pela velha luta de classes, pela oposição, por exemplo, entre homem e mulher, pela oposição a qualquer hierarquia: nas famílias, entre marido e esposa, e entre pais e filhos; nas escolas, entre alunos e professores, para citar alguns casos. Tal teoria favorece o igualitarismo, que pode apenas prejudicar a sociedade, pois há certas desigualdades legítimas e mesmo necessárias, que são para o bem da sociedade, que é como um corpo que necessita de seus diferentes membros e órgãos para se desenvolver bem. Como afirmou claramente Pio XI, em sua Encíclica Divini Redemptoris, sobre o tema: “O comunismo é intrinsecamente perverso e não se pode admitir em campo nenhum a colaboração com ele, da parte de quem quer que deseje salvar a civilização cristã. E, se alguns, induzidos em erro, cooperassem para a vitória do comunismo no seu país, seriam os primeiros a cair como vítimas do seu erro; e quanto mais se distinguem pela antiguidade e grandeza da sua civilização cristã as regiões onde o comunismo consegue penetrar, tanto mais devastador lá se manifesta o ódio dos sem-Deus.” Vendo a crescente expansão dessa perversa doutrina por meio de intensa propganda, muitas vezes sob roupagens que a disfarçam e com uso abusivo da noção de justiça social, o papa Pio XII quis instituir essa festa de São José Artesão como meio de propagar a doutrina social da Igreja, tal como sempre ensinada por ela.
Por outro lado, a doutrina social católica também se opõe ao liberalismo econômico. O mesmo Pio XI, para citar o mesmo Papa que tão veementemente se opôs ao comunismo – e poderíamos citar outros anteriores e posteriores -, mostra como o liberalismo econômico preparou o caminho para o comunismo/socialismo. O Papa diz na EncíclicaDivini Redemptoris que “para mais facilmente se compreender como é que os socialistas puderam conseguir que tantos operários tenham abraçado, sem o menor exame, os seus sofismas, será conveniente recordar que os mesmos operários, em virtude dos princípios do liberalismo econômico, tinham sido lamentavelmente reduzidos ao abandono da religião e da moral cristãs.” Diz ainda o Papa Pio XI na mesma Encíclica que “não haveria nem socialismo nem comunismo, se os que governam os povos não tivessem desprezado os ensinamentos e as maternais advertências da Igreja; eles, porém, quiseram, sobre as bases do liberalismo e do laicismo, levantar outros edifícios sociais que à primeira vista pareciam poderosas e magníficas construções, mas bem depressa se viu que careciam de sólidos fundamentos, e se vão miseravelmente desmoronando, um após outro, como tem que desmoronar tudo quanto não se apoia sobre a única pedra angular, que é Jesus Cristo.”
O liberalismo econômico, que separa a economia da lei moral, é pai do socialismo. Baseando-se na avidez do lucro, o liberalismo econômico é visceralmente materialista, em última instância. Esse materialismo conduz ao socialismo. A base de ambos é a mesma: o materialismo. O liberalismo é pai do socialismo em diferentes âmbitos, não só no econômico. Pio XI, em outra Encíclica, a Quadragesimo Anno, afirma que todos devem se lembrar que do socialismo na educação foi pai o liberalismo, e que o herdeiro legítimo será o bolchevismo. Combater o socialismo/comunismo com o liberalismo é preparar nova gestação do socialismo para daqui a alguns anos. Não se pode combater um erro com outro erro. É preciso evitar todo erro.
É evidente que a Igreja defende a propriedade privada, a livre iniciativa, e defende o princípio da subsidiariedade, de forma que o Estado não seja o dono de tudo nem intervenha em tudo, mas que aja na medida necessária para assegurar o bem comum e a moral. A propriedade privada, a livre iniciativa e o princípio da subsidiariedade devem levar em conta, assim, a lei natural e a moral cristã. E devem levar em conta, igualmente, o bem comum, do qual não se pode tampouco fazer abstração. Não se pode separar a economia da moral. Nem da lei de Cristo. Como todo ato humano, a economia se ordena e se subordina ao fim superior do homem, que é a sua salvação. Portanto, a economia está submetida à lei moral. Assim como afirmou o Papa João Paulo II na EncíclicaCentesimus Annus: “A Rerum novarum (Encíclica de Leão XIII sobre a questão social) critica os dois sistemas sociais e econômicos: o socialismo e o liberalismo.”
A Igreja tem direito e mesmo o dever de tratar dessas coisas. E os católicos têm a obrigação de professar a doutrina social da Igreja, ensinada constantemente. Alguns não aceitam a doutrina social da Igreja porque aderem ao falso messianismo das doutrinas socialistas. Outros, seguindo falsos profetas, não querem aderir à doutrina social da Igreja por professarem o liberalismo na economia. Não se pode ser católico e recusar a doutrina social da Igreja. Falamos da doutrina social da Igreja tal como Ela sempre a ensinou e tal como expomos hoje aqui, ainda que em pouco e breves traços. A essa doutrina é preciso aderir, se quisermos guardar o nome de católicos. Devemos lembrar, caros católicos, que julgar das questões sociais e econômicas é dever e direito da autoridade suprema na Igreja. Assim dizia Pio XI, na Quadragesimo Anno: “Não foi, é certo, confiada à Igreja, a missão de encaminhar os homens à conquista de uma felicidade apenas transitória e caduca, mas da eterna; antes « a Igreja crê não dever intrometer-se sem motivo nos negócios terrenos ». O que não pode, é renunciar ao ofício de que Deus a investiu, de interpor a sua autoridade não em assuntos técnicos, para os quais lhe faltam competência e meios, mas em tudo o que se refere à moral. Dentro deste campo, o depósito da verdade que Deus Nos confiou e o gravíssimo encargo de divulgar toda a lei moral, interpretá-la e urgir o seu cumprimento oportuna e importunamente, sujeitam e subordinam ao Nosso juízo a ordem social e as mesmas questões econômicas.”
Uma sociedade que não se apóia nos fundamentos da doutrina social da Igreja, ruirá. É preciso aderir à doutrina católica em todos os seus pontos, se queremos ser verdadeiramente católicos e se queremos reerguer a sociedade. É preciso que Cristo reine pelas suas leis nas almas e nas sociedades.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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