20 de novembro de 2015

Casamento e Família - Dom Tihamer Toth.

Conferência VI


IMPEDIMENTOS DE MISTA RELIGIÃO


Parte 5/6

Continuemos, agora, cuidadosamente o nosso exame. "Por que a Igreja adotou uma atitude rigorosa?" 
a - A Igreja opõe-se aos casamentos mistos, primeiramente, porque dificilmente eles realizarão aquela união perfeita das almas como exige a harmonia do casamento.
As raízes mais profundas da harmonia e da felicidade da vida conjugal alimentam-se na comunidade perfeita de almas. Se esta comunidade não penetra perfeitamente toda a vida espiritual de ambos os esposos, se estes "esponsais espirituais" não se realizam, os "esponsais físicos" não podem trazer felicidade.
Ora, é impossível não se perceber que nos casamentos mistos esses "esponsais espirituais" são bem difíceis, senão completamente impossíveis. Porque formalmente se exclui a união dos esposos, no terreno mais importante e sagrado, o terreno da alma: Não lhes basta estar unidos em toda as demais questões. Homem e mulher, juntos, fazem suas visitas, juntos passeiam, vão ao teatro, juntos estão em toda parte, só na casa de Deus não podem estar juntos, aí seus caminhos se separam. Muito se poderia dizer da amargura que prova a alma da parte católica. E esta separação durará a vida inteira, embora eles queiram fazer acreditar um ao outro que nada os poderá separar.
b - Demais, os esposos devem se educar mutuamente, e exercer recíproca influência.
Não vos admireis de me ouvir falar em educação do homem e da mulher, já em idade adulta, mas realmente é assim. Os esposos exercem, um sobre o outro, uma força educadora poderosa. Aqueles que vivem juntos dezenas de anos, num casamento feliz e único, assemelham-se na velhice não só nas qualidades morais, mas até muitas vezes nos traços do semblante. A primeira condição, porém, desta educação moral recíproca, é que eles estejam unidos nas questões religiosas. Os esposos deveriam se encorajar reciprocamente nas práticas religiosas. Mas como poderá um deles animar-se a confessar-se, a comungar, a guardar a abstinência, a ir à missa aos domingos, a receber os sacramentos dos enfermos, enquanto o outro não observa nada disto, ou mesmo olha-o como inútil?
c - Realizando aquilo que eles prometem, de ordinário, antes do casamento misto, não haverá conflito, porque estamos de acordo, para que não haja questão religiosa entre nós. Afirmo-lhes, porém, que se eles puserem em prática esta resolução, tristes consequências daí advirão!
A ideia religiosa não é um acessório supérfluo da alma humana, que se possa impunemente deixar de lado. "Eliminaremos completamente de nossa vida as questões religiosas". Bem! "Suprimo eu inteiramente o uso de meus joelhos..." e alguns meses depois estou paralitico. "Renuncio completamente ao uso das minhas mãos..." alguns anos depois elas estarão atrofiadas. O mesmo se dá se eu elimino toda a questão religiosa. Inevitavelmente chego à indiferença e à tibieza religiosas.
Com as questões religiosas, é-lhes preciso excluir todos os problemas da vida espiritual, pois em grande parte estão ligadas entre si. Mas se os esposos os eliminam também, que lhes resta senão apenas o laço da vida puramente sensual? Mas não será preciso dizer como será instável uma felicidade que se fundamenta em semelhante alicerce.
Ainda que duas pessoas pudessem, por um domínio imenso de si mesmos, chegar a não trocar entre si uma palavra sobre religião, os filhos não podem. São eles sempre muito intransigentes, ardentes, exaltados, e defendem suas convicções até o extremo. Que acontecerá quando os rapazes voltarem de uma aula de religião, diversa da das meninas, e explodir a guerra de religião entre irmãos e irmãs?
E que não se diga que tudo quanto afirmo seja alucinação, perigo imaginário. Escutai o que me escreveu ultimamente uma infeliz mulher. Creio que bastará ler algumas linhas desta carta dolorosa:
"É uma mulher bem infeliz que vos fala, Monsenhor. Estou casada há 14 anos, com um reformado incrédulo, e grande inimigo dos católicos... Quando vou à Igreja, ele se encoleriza tanto que quase adoece, não posso rezar em casa diante dele porque se zanga. Não me deixa ir a parte alguma, não tenho conhecimento algum porque ele foge da sociedade. Faço minhas orações às escondidas, no meu quarto, ou então trabalhando. Muitas vezes tomo um livro, mas, em lugar de lê-lo, recito ocultamente o meu terço. Poderia ler algum livro frívolo, com isto ele não se incomoda; não quer, porém, ouvir falar de coisas religiosas. Leio, escondida, a revista "O Sagrado Coração", e depois, a queimo ou dou para alguém. Monsenhor, dizei-me o que devo fazer. Devo eu abandonar a Igreja para o interesse da paz, renunciar a frequentá-la, justamente isto que é a minha única consolação, a minha única alegria, e o meu conforto na tristeza de minha vida? Que devo eu fazer?" Eis a carta: ela diz mais sobre a questão que muitos sermões.
d - Mas ainda não disse tudo. A nossa santa Igreja opõe-se ainda aos casamentos mistos, no interesse da boa educação dos filhos. Sem dúvida, se a parte não católica assinou o juramento de educar no catolicismo todos os seus filhos, a Igreja consente neste matrimônio misto. Não dá, porém, este consentimento com alegria, e sim por necessidade. Porque ela sabe, mesmo neste caso, faltará um fator precioso: o piedoso exemplo de ambos os esposos. Quem não vê como é difícil a tarefa dos atuais educadores, quando uma multidão de influências contrárias vêm destruir na alma dos filhos o efeito educativo. É, pois, muito necessário, que o piedoso exemplo dos dois esposos venha reforçar as convicções religiosas dos filhos. No casamento misto pode introduzir-se facilmente um outro perigo. Se a parte não católica, assinando o juramento, permanece fiel e nada faz contra a educação religiosa dos filhos, são os avós que muitas vezes agem. Estes se esforçam muitas vezes até abertamente para ganhar à sua religião os pequeninos. Não é raro o caso que morrendo a parte católica, conforme a lei, os filhos católicos fiquem confiados à educação do pai não católico.
É impossível, refletindo tranquilamente em tudo isto, que não se veja quanto é justo o desejo da Igreja: um católico não deve desposar senão uma católica, e uma católica, um católico.
Porque no matrimônio misto a religião da parte católica, apesar de toda boa vontade, esta exposta a sérios perigos, e é preciso uma força imensa de alma, disposições de um confessor da fé, convicções religiosas inabaláveis, para superar estes perigos. E infelizmente, em muitos casos, realizam-se os temores da Igreja, porque geralmente, no matrimônio misto, é a parte católica que perde. Muitas vezes perde não só a piedade, mas até a própria religião.



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