5 de outubro de 2016

Tesouro de Exemplos - Parte 188

DESPENHA-SE O TREM

Os viajantes daquele trem nunca se esquecerão dos instantes de horrível angustia...
Descia o Expresso... Descia de Alterosa e lançava-se em busca da planície para chegar quanto antes às praias de N. A diferença de nível era de centenas de metros... A locomotiva e os carros precipitaram-se montanha abaixo numa velocidade aterradora... Apitava desesperadamente, pedindo freios... mas os freios não funcionavam.
Os passageiros choravam, gritavam, apareciam temerosos às janelas e pediam socorro... E os freios não funcionavam. Aquela imensa mole de madeira e ferro despenhava-se com horrenda loucura pelos trilhos... E ao lado um abismo... a morte... Enfim, o trem saltou do leito e deu contra as rochas da montanha. Houve feridos, houve mortos... Uma dezena de carros reduzidos a um montão de ferros e escombros. Dali saíam gemidos lastimosos... Era a catástrofe que todos esperavam e temiam...
Não funcionaram os freios!!! Brilhou a luz da razão nos olhos e na mente daqueles meninos... Iam à missa, rezavam, comungavam... Iam à escola e colégios religiosos... Ali, que piedade! que freqüência de sacramentos! que vigilância, que bons exemplos continuamente diante dos olhos!
São almas inocentes... Deslizam pelas planícies de amplos horizontes. Por isso, cantam e jogam e divertem-se... Não sabem o que é temer e chorar. Agora, porém, saem do colégio. Estão nos dezesseis anos e já despertam as paixões, e a concupiscência abrasa, e os maus exemplos seduzem, e a carne se rebela, e o mundo atrai, e os demônios atiçam o fogo de todas as paixões. E eles lançam-se pelo declive, pelo declive do vicio com vertiginosa rapidez. A locomotiva da fé apita... A consciência dá gritos de terror... Jesus Cristo chora. E todos dizem a uma voz: Freios! Freios!... E é então que os freios não funcionam: — já não se confessam com freqüência, já não comungam, já não os vigiam, já ninguém se atreve a repreendê-los. Saltam de barranco em barranco e, afinal, a catástrofe, o descarrilhamento. E ali ficam almas juvenis nadando em sangue de impurezas, e enterradas nos entulhos das diversões e loucuras do mundo.
Não funcionam os freios!...
São essas as catástrofes de todos os dias. E nós as vemos sem que nossos olhos chorem e sem que uma palavra de protesto assome aos nossos lábios. Pereceram essas ovelhas do rebanho de Cristo, caíram nos barrancos da libertinagem, e isso foi porque os freios não funcionaram. Nós o confessamos, os pais o reconhecem; mas nós continuamos na indolência, e os pais, ah! os pais continuam falando com entusiasmo da piedade e das virtudes de seus filhos!

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