22 de outubro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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E quais são, para nós, as  consequências práticas desta doutrina?
Se o Pai Eterno decretou que seríamos Seus filhos, mas que o seríamos só em Seu Filho - Praedestinavit nos in adoptionem filiorum  PER JESUM CHRISTUM - , se decidiu que não participaríamos da herança da Sua beatitude senão pelo Filho, não podemos realizar o plano divino a nosso respeito e, por  conseguinte,  assegurar a nossa salvação, senão permanecendo unidos ao Filho, ao Verbo. Nunca o esqueçamos: não há para nós outro caminho para ir ao Pai:  Nemo venit ad Patrem nisi per me. Ninguém - nemo - conseguirá chegar ao Pai senão pelo Filho. E ir ao Pai, chegar até Ele,  não é isto toda a salvação, toda a santidade?
Ora, como permaneceremos nós unidos ao  Verbo  ao Filho?
Primeiramente  pela fé.  - «No principio era  o Verbo e o Verbo era Deus. Todas as coisas foram feitas por Ele. Veio ao mundo que foi feito por Ele, e os Seus não O receberam. Mas aos que O receberam, deu­- lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, àqueles que crêem no Seu nome, e assim nasceram de Deus».
O Pai Eterno apresenta o Seu Verbo ao mundo: «Eis aqui o meu Filho ... ouvi-o». Se o recebermos pela fé, quer dizer, se crermos  que  Ele é o Filho de Deus, o Verbo faz-nos participar do que Ele tem de melhor: a filiação divina : partilha conosco a Sua qualidade de Filho, dá-nos a graça da adoção:  Dedít eis potestatem fílios Dei fieri:  dá-nos o direito de chamarmos a Deus Pai.
Toda a nossa perfeição consiste em imitar fielmente o Filho de Deus. Ora, S. Paulo diz-nos que «toda a paternidade deriva do Pai>> :  Ex  quo omnis paternitas nominatur.  Pode também dizer-se do Filho:  Ex quo omnis fíliatio ncminatur.  Só o Filho, pelo Seu Espírito, nos ensina como devemos ser filhos:  Quoniam estis filii misit Deus Spiritum  FILII SUI  in corda vetra clamantem:
ABBA  PATER.
Devemos, pois, receber o Filho tal qual, ver n'Ele sempre, seja qual for o estado  em  que O contemplarmos, o Verbo co-eterno do Pai. Depois, devemos receber os Seus ensinamentos e a Sua doutrina. - Cristo está no seio do Pai ; e, pelas Suas palavras, revela-nos o que sabe:  lpse enarravit. A  fé é o conhecimento que temos, pelo Verbo, dos mistérios divinos. Seja. pois, qual for a página do Evangelho que lermos. ou a Igreja nos apresentar na celebração dos mistérios do seu Esposo, digamos a nós mesmos que essas palavras são do Verbo ­-verba Verbi -  d"Aquele que exprime os pensamentos, os desejos, a vontade do nosso Pai dos céus:  lpsum audite.  Cantemos  Amém  a tudo quanto o Verbo nos disser, em cada página que a Igreja, na sua Liturgia, destaca do Evangelho. para a propôr  à  nossa fé. Digamos a Deus: «Pai. eu não Vos conheço. pois nunca Vos
vi : mas aceito tudo o que o Vosso divino Filho. o Vosso Verbo. de Vós me revelou». Esta oração é excelente, e muitas vezes, quando feita com fé e humildade. «desce do alto um raio de luz» que esclarece os textos que lemos  e  nos faz penetrar a sua profundeza para neles encontrarmos princípios de vida.
Porque o Verbo não é só a expressão das perfeições do Pai. mas também de todas as Suas vontades. ­
Tudo o que  o  Verbo nos ordena e prescreve no Evangelho ou pela voz da Igreja é a expressão da adorável vontade do nosso Pai celeste. E se cumprirmos, sobre tudo por amor, os preceitos que Jesus nos dá, permaneceremos unidos a Ele e, por Ele. ao Pai:  Si  praecepta mea servaveritis.  MANEBITIS  in dilectione mea. .. Qui autem diligit me díligetur a Patre.
Toda a perfeição da santidade está nisto: aderir ao Verbo. à Sua doutrina, aos Seus preceitos e. por Ele, ao Pai que O envia e Lhe «dá as palavras que devemos receber».
Finalmente, permaneçamos unidos ao Verbo principalmente pelo sacramento da união, a Eucaristia. ­
É  o pão da vida, «o pão dos filhos» .  Sob as espécies eucarísticas está realmente oculto o Verbo. Aquele que nasce eternamente no seio da Divindade. Que mistério este! Aquele que eu recebo na Comunhão é o Filho gerado desde toda a eternidade, o Filho muito amado a quem o Pai comunica a Sua vida divina, a plenitude do Seu ser e a Sua infinita beatitude. Com quanta razão não pode Nosso Senhor dizer: «O Pai deu- me a vida; como eu vivo pelo Pai,  assim  aquele que de mim se ali­menta viverá por mim»  :  Et qui manducat  me,  et ipse vivet  propter  me  ...  «ele permanece em mim  e  eu nele: In me manet et ego  in  illo! 
Se perguntarmos a Nosso Senhor o que podemos fazer de mais agradável ao Seu sagrado Coração, dir­-nos-á certamente que, antes de tudo, devemos, como Ele, ser filhos de Deus. Se quisermos, portanto, ser-Lhe agradáveis, receba-mo-Lo todos os dias na Comunhão eucarística e digamos-Lhe   «Ó  Jesus, Vós sois o Filho de Deus, imagem perfeita do Pai, Vós conheceis o Pai,
pertenceis . Lhe inteiramente, vedes a Sua face ; aumentai em mim a graça de adoção que me torna filho de Deus ; ensinai-me a ser, pela  Vossa  graça e pelas minhas virtudes, como Vós, e em  Vós, digno Filho do Pai celes­te». Podemos ter a certeza que, se solicitarmos esta graça com fé, o Verbo no-la concederá.
Foi Ele mesmo quem nos disse: «O Filho não quer outra coisa senão o que quer o Pai». Por conseguinte, o Filho entra plenamente nos desígnios do Pai :  e quando se dá, é para estabelecer, conservar e aumentar em  nós a graça da adoção. Toda a Sua vida divina
pessoal é ser  ad Patrem;  dando-se a nós, dá-se tal qual é, todo «orientado» para o Pai e para a Sua glória; por isso, quando O recebemos com fé, confiança e amor, rea­liza  em  nós a nossa orientação para o Pai.  É  isto o que devemos pedir e procurar incessantemente: que todos os nossos pensamentos, todas as nossas aspirações, todos os nossos desejos, toda a nossa atividade se dirijam, pela graça da filiação e pelo amor, para o nosso Pai dos céus, em Seu Filho Jesus:  Viventes Deo in Chrísto Jesu.

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