27 de junho de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

8/14  -  Como devemos perseverar na paciência.

"Em vossa paciência, diz o Filho de Deus, possuíreis as vossas almas". Possuir pois bem a sua alma é um efeito de paciência, e à medida que a paciência é perfeita, a posse da alma se torna mais completa e excelente.
Ora a paciência é tanto mais perfeita, quanto menos mistura tem de inquietação e pressa. Queira pois Deus livrar-nos desta duas últimas incomodidades e em breve estareis livres do vosso mal.
Tende animo, eu vô-lo peço. Só por três anos sofrestes o incômodo do caminho e já quereis repousar; mas lembrai-vos de duas coisas: uma é que os filhos de Israel estiveram quarenta anos no deserto antes de chegarem à terra de promissão, e contudo bastavam seis semanas para lá chegar; e não lhes foi permitido perguntar, porque lhes fazia Deus dar tantas voltas, e os conduziu por caminhos tão ásperos; porque todos os que murmuravam morreram antes de chegar à terra prometida; lembrai-vos em segundo lugar de Moisés, o maior amigo de Deus que então havia, morreu ao chegar às fronteiras da terra do descanso, contemplando-a com a vista, mas não podendo gozar dela.
Prouvera Deus que nós notássemos o caminho que seguimos, e que tivéssemos os olhos fitos naquele que nos conduz e no bem aventurado país para onde nos leva! Que nos importa se é pelos desertos ou pelos campos que vamos, contanto que Deus esteja conosco e que nós vamos para o paraíso? Crede-me eu vô-lo peço; enganai o mais que puderdes o vosso mal, e se sentis pelo menos não lhe deis atenção; porque a sua vista ainda vos dará mais apreensões do que o sentimento e a dor.
É assim que se costumam vendar os olhos aqueles a quem se quer operar. Parece-me que vós vos demorais bastante a considerar os vossos males.
Quando ao que me dizeis, que é um grande trabalho querer e não poder, não vos digo que devemos querer o que não podemos, mas diante de Deus é um grande poder, poder querer.
Não presteis a isto atenção e lembrai-vos da grande angústia que o nosso divino Mestre sofreu no jardim das Oliveiras, e notai que este precioso Filho, tendo pedido consolação a seu bom Pai, e conhecendo que lhe não queria dar, não pensa mais nisso, não se inquieta, não a procura; mas, como se nunca a pretendesse, executa com valor e coragem a obra da nossa redenção.
Depois de terdes pedido ao Pai que vos console, se lhe não agrada fazê-lo, não penseis nisso e empregai a vossa coragem em praticar a obra de salvação na cruz, como dela nunca descesses e nunca tivesses de ver o ar desta vida calmo e sereno. Quereis? É preciso saber falar a Deus entre os trovões e os turbilhões de vento; convém contemplá-lo na força, no fogo e nos espinhos e para fazer isto convém descalçarmo-nos e fazer uma grande abnegação dos nossos afetos e vontade.
Mas a vontade de Deus não vos chamou no estado em que vos achais sem vos fortificar nele. A Deus é que cumpre completar a obra.
É verdade que isto leva tempo, porque a matéria o requer; mas tende paciência.
Conformai-vos plenamente com a vontade de Deus e não julgueis que o servireis melhor por outra forma; porque nunca o servimos melhor do que quando o servimos como Ele quer. Imaginai que não vos tirásseis das vossas angústias: que fareis? Diríeis  a Deus; Eu sou vosso: se as minhas misérias vos agradam, acrescentai-lhe o número e a duração. Confio em Nosso Senhor que direis isso e não pensareis mais neste assunto.
Fazei pois agora da mesma forma e trabalhai como se devesses viver sempre entre os trabalhos; e notai que quando não pensardes em vos livrardes deles. Deus nisso pensará, e quando vos apressardes, Deus acorrerá.

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