16 de junho de 2014

Pensamentos Consoladores de São Francisco de Sales.

5/14  -  Dos doentes que não podem orar.

Tudo tem o seu tempo. "Há tempo de sofrer e tempo de orar". Não é na primavera, nem no inverno que se deve procurar o fruto nas árvores. Seria preciso ter um corpo de bronze para trabalhar sofrendo e sofrer trabalhando. Quando Deus nos convida ao sofrimento, dispensa-nos da ação.
Há doentes que vendo-se de cama, não se queixam tanto das suas dores como da sua impotência em prestar a Nosso Senhor os serviços que lhe prestaram quando gozaram saúde; mais nisto se enganam muito, porque uma hora de sofrimento, por amor e submissão à vontade de Deus, vale mais do que muitos dias de trabalhos feitos com menos amor.
Mas eis a verdade; é que nós sempre queremos servir a Deus à nossa vontade e não à sua: e só amamos sua vontade, quando ela é semelhante à nossa, em vez de devermos amar a nossa por ela ser conforme à sua.
Quando Deus quer estejamos doentes, queremos estar sãos. Quando quer que o sirvamos por meio do sofrimento, desejamos servi-lo por meio da ação. Quando quer que exerçamos a paciência, queremos exercer a humildade, a devoção, a oração ou outra qualquer virtude, não por ela ser mais a seu gosto, mas ao nosso. Amamos a virtude, misturada com doçura, mas não com fel e vinagre. O Calvário não nos agrada tanto como o Tabor; não é naquela montanha mas nesta que desejaríamos construir os nossos tabernáculos.
É, em uma palavra, que amamos mais a saúde de que a doença, e assim amamos a Deus diversamente na doença e na saúde. Amamo-lo mas quando nos fere, e assim, em vez de Deus estimamos o amor; porque quem não ama senão a Deus, ama-o em todo o tempo, na saúde e na doença, na prosperidade e na adversidade, no sofrimento e no gozo; porque sendo Deus igual a si mesmo a desigualdade do nosso amor para com Ele não pode provir senão d'Ele próprio.
E quando os nossos corpos sofrem, é custoso elevar os nossos corações à consideração perfeita da bondade do Senhor; isto pertence unicamente aos que por um longo hábito têm sempre o seu espírito voltado para o céu. Mas nós somos ainda muito fracos temos almas que se distraem facilmente com o sentimento dos trabalhos e dores do corpo. É por isso que não nos devemos admirar se das enfermidades omitimos o uso da oração interior; nesse tempo convém também empregar as jaculatórias e inspirações sagradas; porque já que a doença nos faz suspirar muitas vezes nada custa suspirar por Deus antes do que lamentarmo-nos inutilmente. Mas quando Deus nos  devolva a saúde, convém voltardes à oração pelo menos meia hora de manhã.

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