19 de janeiro de 2014

SEGUNDO DOMINGO DEPOIS DA EPIFANIA.

O destino do homem

Lendo o Evangelho de hoje, ficamos encantados pelo desvelo da Santíssima Virgem, a sua atenção carinhosa com os recém-casados.

Tudo isso converge admiravelmente para a grande finalidade que Jesus tinha em vista: manifestar a sua glória e robustecer a fé de seus discípulos, como diz o Evangelista na última frase de sua narração.

 Jesus deu início a seus milagres e manifestou a sua glória.

Manifestar a glória de Deus era, de fato, o resumo da vida de Jesus como deveria ser o resumo de nossa própria vida.

Jesus veio neste mundo para glorificar o seu Pai; e nós estamos neste mundo para esta mesma glorificação.

Deus nos deu um destino conforme a nossa natureza, nossas faculdades e tendências, o qual devemos prosseguir durante a nossa vida inteira.

Meditemos hoje este belo assunto, mostrando:

1º Qual é o nosso destino.
2º Como devemos alcançá-lo.

Estas considerações complementarão o que já vimos anteriormente da imortalidade e da liberdade da nossa alma.

I. Qual é o nosso destino

O destino do homem é a glorificação de Deus e a possessão do soberano bem, que é Deus.

O homem, pela sua alma imortal e livre, tende irresistivelmente a esta felicidade perfeita e não encontra pleno repouso senão depois de tê-la encontrado, diz Santo Agostinho.

Notemos bem que o homem não foi criado para um fim natural. Se o fosse, ele deveria encontrar no cumprimento dos preceitos da lei natural uma beatitude natural.

Ora, tal beatitude não existe, porque o homem foi elevado por Deus à ordem sobrenatural.

É, pois, unicamente nesta ordem sobrenatural que está o seu destino e sua felicidade.

A vida presente pode oferecer ao homem satisfações que agradam ao corpo, como saúde, força, honras e fortuna; pode até dar um certo contentamento à sua alma pela ciência e pela virtude; pode apresentar a seu coração as afeições da amizade e da gratidão, porém nenhum destes bens passageiros pode saciá-lo completamente.

Somente Deus pode plenamente satisfazê-lo, porque só Ele possui tudo o que corresponde às aspirações do homem.

Estas aspirações são: conhecer, amar e servir a Deus neste mundo, e possuí-lo no outro.

Conhecer a Deus é aplicar a nossa inteligência a estudar suas obras e perfeições.

Amar a Deus é dar-lhe o primeiro lugar em nosso coração e não admitir nenhuma afeição reprovada por Ele.

Servir a Deus é obedecer a seus mandamentos com prontidão e constância.

Tal é o fim do homem; é para conseguir este fim que Deus lhe deu o nobre destino sobrenatural de possuí-Lo um dia na glória do Céu.

II. Como devemos alcançá-lo

Para realizar este destino o homem não pode ficar entregue a si mesmo; ele precisa de uma orientação: tal orientação está claramente indicada pela lei de Deus.

Do mesmo modo que Deus não podia criar o homem sem dar-lhe um destino de acordo com a sua natureza, assim o seu poder criador deveria orientar o homem pelas leis, cujo cumprimento deveria recompensar e cuja violação devia castigar.

Deus, como criador, tem este direito, e o homem, como criatura, tem o dever de seguir estas leis.

A ordem da divina sabedoria, diz Santo Tomás, dirige tudo para um fim conveniente por meio de leis.

E quando Deus nos deu estas leis?

A primeira lei foi dada no momento da criação e chama-se lei natural, fazendo, por assim dizer, parte da natureza do ser racional.

É chamada lei natural em oposição à lei sobrenatural ou revelada, de que já tratamos precedentemente.

A lei natural refere-se a Deus, ao próximo e a si mesmo.

Para com Deus nos ensina o dever de adoração, do respeito, da submissão e da dependência absoluta.

Para com o próximo nos impõe o dever de tratá-lo, como queremos ser tratados por ele.

Para conosco, nos obriga a conservar a nossa vida e a nossa dignidade.

O homem conhece estas leis pela consciência e pela razão.

Há no homem um duplo instinto: um instinto físico que lhe faz conhecer o que é agradável ou desagradável aos sentidos; e um instinto moral, que lhe faz experimentar alegria ou tristeza. É este instinto moral que chamamos: consciência.

O que a consciência nos faz perceber, a razão no-lo mostra com clareza.

A razão nos mostra a obrigação de seguir a consciência, sob pena de sermos castigados por Deus.

III. Conclusão

A conclusão a tirar destas considerações é a necessidade de deixar-nos guiar pela nossa consciência, no caminho do bem, para evitar dois excessos: o escrúpulo que estreita exageradamente o caminho do céu e o relaxamento que o alarga além da medida, arrastando pouco a pouco ao pecado formal.

A nossa alma imortal tem um destino certo e imperioso. Deus lhe deu três faculdades essenciais que devem convergir para Ele:

a inteligência, que deve conhecê-lo;
o coração, que deve amá-lo,
a vontade, que deve servi-lo.

Estas faculdades para não deslizarem no erro e no vício devem seguir a lei marcada por Deus, lei que se manifesta pela consciência e pela razão, quanto à parte natural, e pela submissão a Deus, quanto à parte sobrenatural.

Assim fazendo, conseguiremos o nosso eterno destino, que é glorificar a Deus e salvar a nossa alma.

EXEMPLOS

1. Os diversos reinos

Num exame escolar, um professor perguntou aos alunos a que reino pertencia a pedra!

- Ao reino mineral, foi a resposta.
- E as plantas?
- Ao reino vegetal.
- E os animais?
- Ao reino animal.
- E o homem?

Silêncio completo. Os alunos entreolharam-se... De repente um pequenito levantou-se e respondeu: - Ao reino de Deus.

Não podia ser mais exato.

2. Salvar a alma

Um soberano pediu ao Santo Padre Bento XII uma decisão contra a sua consciência.

O pontífice respondeu:

-Sim, se tivesse duas almas, eu podia sacrificar uma para servi-lo; mas como tenho somente uma, não posso perdê-la para lhe agradar.

3. Representação da alma

É difícil representar uma coisa invisível... Os primeiros cristãos procuraram fazê-lo, entretanto.

Para figurar a presença da alma no corpo, representavam um pássaro numa gaiola. A gaiola era o corpo; o pássaro era a alma; no dia da morte o pássaro escapa da gaiola.

Geralmente este pássaro era uma pomba: símbolo da pureza que a alma deve conservar, depois de tê-la adquirido pelo Batismo.

Outras vezes, a alma era figurada por um cavalo em plena carreira, para conquistar o prêmio destinado ao vencedor.

O prêmio destinado à alma cristã é o Céu!

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 74 - 79)

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