9 de janeiro de 2014

Sermão para o Domingo dentro da Oitava de Natal – Padre Daniel Pinheiro IBP

[Sermão] Os bens do matrimônio: filhos, indissolubilidade e fidelidade

Sermão para o Domingo dentro da Oitava de Natal
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Estamos hoje no domingo dentro da oitava de Natal. A Igreja prolonga a festa de Natal durante oito dias, para que possamos receber adequadamente as graças abundantes relativas ao maravilhoso fato do nascimento do Menino Deus.
“José e Maria, Mãe de Jesus, estavam admirados das coisas que dEle se diziam.”
Caros Católicos, na liturgia tradicional, a festa da Sagrada Família se celebra em janeiro somente. Todavia, tendo em vista o modelo da Sagrada Família, que nós acompanhamos incessantemente nesse tempo de Natal, convém que tratemos, desde já, de alguns pontos relativos à família.
A família é a base da sociedade. Mais do que a base da sociedade, ela é a primeira sociedade, pois é pela associação de famílias que se forma a sociedade civil. Portanto, se a família vai bem, a sociedade vai bem. Se a família vai mal, a sociedade vai mal, extremamente mal. O demônio e seus asseclas, isto é, os inimigos da lei natural e da lei divina, compreendem bem a importância da família para o bem do indivíduo, para o bem da sociedade e para o bem da Igreja. Compreendendo isso, eles atacam veementemente a família, eles atacam o matrimônio e os bens do matrimônio. Diante desse ataque fulminante e poderosíssimo a que assistimos em nossos dias, devemos resistir fortes, com o auxílio da graça. Para tanto, é preciso compreender o que é o matrimônio, quais são os seus bens e os meios mais básicos para perseverar neles. É o que faremos hoje.
A Sagrada Escritura nos mostra, caros católicos, que foi o próprio Deus que instituiu o matrimônio, logo depois da criação de Adão e Eva. Foi Deus que estabeleceu as leis do matrimônio, dizendo ao primeiro casal: “crescei e multiplicai-vos”. Deus, Nosso Senhor, conferiu ao casal unido em matrimônio a missão de perpetuar o gênero humano sobre a terra, educando seus filhos para a vida presente e para a glória eterna. É comum ouvirmos que o matrimônio é algo sagrado por sua importância. Mas não é só isso. Ele é sagrado, mesmo no plano puramente natural, porque foi instituído diretamente por Deus com leis próprias e precisas, logo após a criação de Adão e Eva.
Deus criou o matrimônio entre um homem e uma mulher, e um só homem e uma só mulher, unindo-os com um vínculo perpétuo e indissolúvel. Em decorrência do pecado original e da dureza do coração do homem, a instituição do matrimônio decaiu de sua primitiva constituição e perfeição: foi permitido em certos casos que um cônjuge repudiasse o outro e o homem podia ter mais de uma mulher. Todavia, Nosso Senhor Jesus Cristo, que veio nos dar a nova lei, a lei perfeita da caridade e da graça, restituiu – para todos e não só para os cristãos -  o matrimônio em sua excelência primitiva, com a indissolubilidade, com a fidelidade e exclusividade. O casamento é um contrato entre um só homem e uma só mulher até que a morte os separe.
O matrimônio é, antes de tudo, um contrato entre os cônjuges, contrato pelo qual eles passam a ter direito mútuo sobre o corpo do outro com relação aos atos aptos à geração da prole. E são três os maiores bens desse contrato que fazem entre si os que se casam. Os três bens são a prole, a fidelidade e a indissolubilidade.
O primeiro desses três bens são os filhos. Os pais, ao gerarem e educarem os filhos fisicamente e espiritualmente, participam da obra criadora de Deus. São os filhos, bem educados para Deus, quer dizer, batizados, recebendo os sacramentos, seguindo os mandamentos, são os filhos educados dessa maneira a maior glória e felicidade dos pais. Nada deve trazer maior felicidade para um casal do que um filho que se dirige, pelo caminho da virtude, para o céu. Somos todos criados para conhecer, amar e servir a Deus. É essa a nossa finalidade e felicidade aqui na terra. Os pais devem, então, educar os filhos para isso. E devem ter muitos filhos, como manda a Santa Madre Igreja, fidelíssima às palavras de Deus: “crescei e multiplicai-vos.” Não pode ser separado pelos cônjuges aquilo que, em nossa natureza, foi unido por Deus: a união dos corpos e a procriação. A primeira finalidade e o primeiro bem do matrimônio são os filhos. Se opor aos filhos de modo artificial é começar a destruir o casamento e transformá-lo em união sem frutos, egoísta. Se opor aos filhos é começar a pavimentar o caminho do divórcio. E abandonada a primeira finalidade do matrimônio, que é a procriação, tornado o matrimônio algo puramente prazeroso, abre-se caminho para as uniões contra a natureza, para as uniões homossexuais. Se matrimônio não tem em vista a procriação, qualquer tipo de união se torna válida. É exatamente isso que vemos hoje.  Mesmo os chamados métodos naturais só devem ser usados quando há causa realmente séria/grave para tanto. Portanto, nunca devemos nos esquecer: o maior bem do matrimônio são os filhos. O maior bem não é a carreira, não é o emprego, não é a vida fácil: o maior bem são os filhos gerados e educados, educados para Deus, sobretudo.
O segundo desses bens do matrimônio é a indissolubilidade. Diante de Deus, os noivos unem as almas e os corpos até que a morte os separe. Essa união indissolúvel é um bem enorme. As duas finalidades do matrimônio são a geração dos filhos, com a educação deles, e a ajuda ou auxílio ou amor mútuo entre os cônjuges. É evidente que a separação voluntária do pai e da mãe prejudica enormemente a educação dos filhos. O filho precisa receber, ordinariamente, a educação do pai e da mãe, pois pai e mãe, homem e mulher, se complementam para formar um ser humano verdadeiramente equilibrado. Além disso, se homem e mulher podem se separar, como ter no outro um verdadeiro apoio, um verdadeiro auxílio, uma verdadeira ajuda? Como se apoiar no outro cônjuge, se na primeira dificuldade ou na segunda ou em qualquer dificuldade, pode ser abandonado? Como haver verdadeiro amor entre os cônjuges, como viver realmente para o bem do outro – pois isso é verdadeiramente amar, amar não é um sentimento, mas é desejar e fazer o bem para o outro, em última instância tendo em vista a salvação dele – como haver, então, uma profunda união entre os cônjuges, se de uma hora para a outra ou se por alguma razão, o vínculo matrimonial pode ser rompido? A indissolubilidade é necessária para o bem dos filhos, para o bem do casal, para fomentar o amor mútuo entre eles. A indissolubilidade está representada na aliança/anel, que não tem separação, mas que forma um círculo contínuo, sem fim.
O terceiro dos bens do matrimônio é a fidelidade e exclusividade. O marido tem uma única esposa. A esposa tem um único marido. E essa relação entre eles é exclusiva. Mais uma vez, essa fidelidade e exclusividade é para a boa educação dos filhos e para favorecer o amor mútuo e a ajuda mútua entre marido e mulher. A fidelidade, a confiança entre marido e mulher está simbolizada, na liturgia tradicional do matrimônio, nas mãos dadas dos noivos em determinado momento da cerimônia.
Da natureza do matrimônio e dos três bens do matrimônio (filhos, indissolubilidade, exclusividade) decorre a obrigação de habitarem sob o mesmo teto. A separação, sempre sem romper o vínculo matrimonial só é permitida por razão grave, por exemplo, quando um dos cônjuges coloca em perigo a alma do outro ou coloca em perigo a alma dos filhos, ou porque coloca em perigo a integridade física do outro.
Infelizmente, nossa sociedade moderna tem não só abandonado, mas verdadeiramente combatido esses três bens do matrimônio e o matrimônio como tal. Faz-se uma enorme campanha quanto aos filhos, cria-se um ambiente de terrorismo quanto à superpopulação do planeta – o que é uma grande bobagem – ou quanto à dificuldade de se criar vários filhos; faz-se uma grande propaganda contra os filhos, sobretudo contra os filhos numerosos, como se fossem um mal; existe a prática de uma esterilização quase automática depois do segundo ou terceiro filho, esterilização que é um pecado mortal, diga-se de passagem… Existe também o divórcio contra a indissolubilidade, que é uma catástrofe: vemos a consequência disso hoje em nossa sociedade, completamente destruída, tendo abandonado os primeiros princípios da vida moral, sem referência nenhuma, pois a educação dos filhos é extremamente prejudicada. Não somente os bens do matrimônio são atacados, mas o próprio matrimônio. Querem que a união matrimonial não tenha como finalidade a procriação, mas simplesmente o prazer ou um vago sentimento de amor. Consequentemente, se o matrimônio já não tem por finalidade a procriação, querem que o casamento vá além da união exclusiva entre um homem e uma mulher, para que haja uniões homossexuais ou para que haja a poligamia. Todos esses erros são erros gravíssimos – são abominações – das quais sofremos as consequências hoje. São erros gravíssimos não somente para os católicos, mas para todos. Aqui estamos falando do matrimônio como simples contrato natural, enquanto diz respeito a todos os homens e não somente aos católicos ou cristãos.
Eis, então, os elementos essenciais do contrato do matrimônio, celebrado diante de Deus: os filhos, a indissolubilidade, a fidelidade ou exclusividade. Essas três coisas são bens do matrimônio e devem ser entendidas e vividas nesse sentido – como bens – e não como um mal necessário. Aqueles que casam devem fazê-lo não para reunir a família, nem para fazer um evento social com a participação de parentes e amigos. Se querem, por dever de consciência, realizar o matrimônio, é porque compreendem que a única união legítima entre dois batizados católicos só pode ocorrer na Igreja Católica. Se querem realizar o matrimônio, é porque compreenderam os três bens do matrimônio (filhos, fidelidade, indissolubilidade) e se comprometem a aplicá-los.
Todavia, é preciso lembrar que nesse contrato, nessa união, há ainda uma terceira parte: além do marido e da esposa, tem Deus. É diante dEle que os noivos fazem a promessa um ao outro. Eles não devem, portanto, esquecer jamais, no matrimônio, dos direitos de Deus; é Ele a parte mais importante do contrato. O padre, como testemunha autorizada do matrimônio representa essa terceira parte na cerimônia do casamento. No rito tradicional, isso é simbolizado pela estola que envolve a mão dos noivos durante a cerimônia.
O matrimônio é, então, uma união sublime. Todavia, Deus quis elevar ainda mais essa união, fazendo dela um sacramento para os cristãos. Isso quer dizer que os noivos terão a ajuda divina para cumprir bem seus deveres matrimoniais, se buscarem ser fiéis às promessas feitas e se buscarem agradar a Deus em todas as coisas. Esse sacramento do matrimônio significa também que a união entre os noivos deve ser como a união entre Cristo e a Igreja, como diz São Paulo. Cristo, a cabeça, o chefe, é o homem. A Igreja é a mulher.  A união entre Cristo e a Igreja é uma união indissolúvel, nem Cristo pode abandonar a Igreja nem a Igreja pode abandonar Cristo. A união entre Cristo e a Igreja é uma união exclusiva entre os dois e de uma fidelidade absoluta. Cristo fundou uma só Igreja, a Igreja tem um só chefe. Cristo dá a vida pela Igreja, para o bem da Igreja. A Igreja obedece a Cristo, pois Cristo quer sempre o bem da Igreja. A união entre Cristo e a Igreja é fecunda, gerando filhos de Deus pela conversão das almas e levando-as para o céu. A união matrimonial do homem e da mulher deve espelhar necessariamente a união de Cristo com a Igreja.
É evidente, porém, que o matrimônio não será feito só de felicidades. Não será um mar de rosas, como alguns noivos e noivas desavisados podem pensar. O matrimônio, como todo estado de vida, terá também as suas cruzes, e muitas. Mas é perfeitamente possível carregá-las com a ajuda divina, se procurarem ser fiéis aos mandamentos, se buscarem o arrependimento dos pecados, se usarem bem dos direitos matrimoniais. Antes da graça abundante de Cristo, o matrimônio era como a água, sem gosto. Depois da vinda de Cristo, com a sua graça, o matrimônio é como o vinho, cheio de doçura, como vemos nas Bodas de Caná. Todavia, doçura com cruzes. O importante é que as cruzes sejam motivo de maior união para o casal e de maior união do casal com Deus.
Muitos casais entram bem dispostos no matrimônio, plenamente convictos desses três bens, mas com o tempo, com as dificuldades, com as cruzes vão pouco a pouco fraquejando. A primeira razão disso é, muitas vezes, a falta de oração em família, em particular a falta do Santo Terço em família. É preciso que o casal, que a família reze o Terço junto. É também muito útil que o casal faça o quanto antes a entronização do Sagrado Coração de Jesus e tenha devoção ao Sagrado Coração. É importante que procurem fazer a devoção das nove primeiras sextas-feiras em honra ao Sagrado Coração de Jesus. Essa é uma das promessas do Sagrado Coração de Jesus: colocarei paz nas famílias. Importantíssimas, portanto, a devoção do Terço e a devoção ao Sagrado Coração. O casal deve se lembrar constantemente de que a finalidade última do matrimônio é que cheguem ambos, junto com os filhos, ao céu. Devem se lembrar disso, deixando de lado os caprichos, as picuinhas, sabendo ceder quando necessário e buscando verdadeiramente o reino dos céus. Além disso, devem frequentar os sacramentos e se manter em estado de graça. E repito: devem usar bem do matrimônio, pois os pecados contra a pureza no matrimônio ou de contracepção abrem as portas para o demônio agir na família e, entre outras coisas, prejudicar o amor mútuo entre os cônjuges e a caridade entre pais e filhos.
O combate à família é verdadeiramente satânico. No fundo é um combate contra o ser. Deus é o Ser por excelência, e, consequentemente, Ele é a Verdade por excelência, o Bem por excelência e a Beleza por excelência. A verdadeira família gera seres, seres humanos para Deus. A verdadeira família é um bem para os indivíduos, para a sociedade e para a Igreja. A verdadeira família é um reflexo da beleza divina, pela sua ordem. O demônio e aqueles que, consciente ou inconscientemente, agem para servir o pai da mentira – odeiam tudo isso. Odeiam o ser, odeiam a verdade, odeiam o bem, odeiam a beleza. Odeia, então, a família. O combate é enorme. É preciso, então, buscar o modelo e a graça necessária diante da Sagrada Família, que é exemplo perfeitíssimo de família, em que cada um dos membros busca o bem do outro, quase esquecido de si mesmo. Rezemos para a Sagrada Família para que proteja as famílias, em particular as nossas. Viver bem o matrimônio é fazer um grande bem não só para a família, mas também para toda a sociedade. A família, a única família que existe – homem, mulher e filhos – é a base da sociedade. Hoje, a família, pela ausência de filhos ou baixo número deles, pelo divórcio, pela infidelidade, está destruída. É por isso que a sociedade está destruída. Viver bem o matrimônio é fazer também um grande bem ao próximo, à sociedade. Aproximemo-nos do presépio, nesse tempo do Natal, e peçamos a paz em nossas famílias, que consiste na união cada vez mais perfeita de seus membros com a Santíssima Trindade.
Em nome do Pai, e do Filho e do Espírito Santo. Amém.

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