24 de janeiro de 2014

Sermão para o 2º Domingo depois da Epifania – Padre Renato Coelho, IBP.


[Sermão] Bodas de Caná e a oração


          Em nome do Pai e do Filho e do Espírito-Santo. Amém.

Hoje lemos no Evangelho o milagre das bodas de Caná: “Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm vinho. Respondeu-lhe Jesus: Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não chegou.” (Jo 2, 3-4).” Essa passagem é importante para combater tanto os protestantes como os incrédulos.
Nesse milagre, vemos a intercessão de Maria, que toma a iniciativa de pedir o milagre. Jesus lhe responde que ainda não era a hora formalmente prevista para ele operar milagres, mas Maria, através do seu pedido, consegue obter um milagre como que “fora de hora”. E, segundo São João Crisóstomo (vide Catena Áurea), esse foi o primeiro milagre que Jesus fez, apesar do que dizem falsos videntes sobre Jesus ter feito milagres, sem necessidade, durante sua infância…
Há quem pense que rezar não adianta nada, pois Deus já saberia tudo de antemão, daquilo que precisamos ou não, por isso seria redundante rezar.
Ora, nesse episódio, Deus fala que não iria fazer o milagre, depois, com base no pedido de Maria, Deus opera o milagre. Deus mudou? Isso não vai contra toda a metafísica e toda a lógica?
De modo algum. Deus na sua eternidade continua sempre imutável. Mas no tempo, para os nossos olhos humanos, Deus apenas aparenta ter mudado.
Deus mostra nesse episódio que nossas ações influenciam o futuro, embora Deus já o conheça. Deus quer mostrar que o milagre está intimamente ligado ao pedido de Maria, não havia outra razão para fazê-lo, pois sua hora ainda não tinha chegado. Deus quer mostrar que há graças que ele concede para uma pessoa sob a condição necessária e imprescindível de ela pedir. Se ela não pedir, a graça não será dada e, no caso, se Maria não pedisse, o milagre não seria feito.
Outro episódio semelhante é o de Jonas no Antigo Testamento. Nínive iria ser destruída se não fizesse penitência. Os habitantes aceitaram fazer penitência. A cidade não foi destruída. Mais modernamente, Nossa Senhora de Fátima fez pedidos aos homens, em especial ao clero, para impedir que haja guerras. Os homens ignoraram o pedido de Nossa Senhora e tivemos duas guerras mundiais e os erros da Rússia, isto é, o Marxismo cultural, se espalham pelo mundo a todo vapor.
Deus já conhece o começo e o fim da história, mas nós não. Deus quer, com isso, nos ensinar a agir. Ele busca nos ensinar que podemos escolher entre dois futuros possíveis, o de deixar a “vida correr sozinha naturalmente”, ou o de mudar o futuro, de pedir uma graça. Deus quer que usemos o livre arbítrio para agirmos na história. A história depende das nossas ações, não somos robôs predestinados ao Céu ou ao Inferno como pensam certos protestantes. Deus já sabe quem vai ao Céu ou ao Inferno, mas isso não nos ajuda em nada, pois nós continuamos a não saber. Se deixarmos a “vida correr sozinha”, estamos todos condenados ao Inferno, que merecemos justamente por sermos “filhos da ira”. Mas Deus nos abre uma porta, um meio de chegar ao Céu,, entretanto ele não nos força, ele quer que usemos nossa liberdade.
O principal passo é o da conversão, sem ela não é possível agradar a Deus. Sem a fé as obras são mortas. Mas sem as obras não se chega ao Céu.
Entendam bem, com “obras” quero dizer “boas ações”, e pode ser algo meramente interior, uma contrição perfeita, por exemplo. Não consta que o bom ladrão, São Dimas, tenha dado comida aos pobres, que tenha feito pontes, que tenha feito qualquer uma dessas coisas que hoje entendemos por “obras” no sentido mais concreto e materialista do termo ou como pensam os adeptos da falsa Teologia da Libertação. Ele simplesmente reconheceu a Jesus como Salvador e a si mesmo como pecador. E ele foi canonizado pelo próprio Jesus!
Aprendemos então que é preciso rezar. Santo Afonso mesmo diz, “quem reza se salva, quem não reza se condena”. Se não temos ainda o costume de rezar o terço todos os dias, como pede Nossa Senhora de Fátima, comecemos ao menos com uma oração da manhã e da noite, antes de dormir. A Igreja não obriga sob pena de pecado mortal a oração privada (ao menos se essa falta de oração é por um tempo curto), mas a aconselha vivamente, pois dificilmente se pode permanecer em estado de graça sem a oração. Jesus mesmo diz, “vigiai e orai para não cairdes em tentação”, donde se conclui que quem não reza cairá em tentação. Precisamos da oração para combater a “gravidade” do pecado original e dos pecados que cometemos, que nos levam sempre para baixo.
Jesus nos ensinou a rezar, quando nos ensinou o Pai-Nosso, e mostrou por parábolas que devemos pedir se queremos receber, de onde se deduz que, se não pedimos, não receberemos. A oração é a prova de que somos animais racionais, pois Deus não pede aos animais para rezarem. Se vocês conhecem alguém que não reza, pode se perguntar no que ele se difere de um animal. Deus nos criou com inteligência, e quem tem inteligência sabe que é limitado e precisa pedir ajuda, sabe que precisa rezar.
Há vários tipos possíveis de oração: pode-se pedir um bem material ou espiritual para si ou para outros, pode-se agradecer bens recebidos, pode-se pedir perdão e luz para se corrigir, dentre outras possibilidades. Em todas as orações está implícito o ato de adoração, isto é, o ato de reconhecer que Deus é onipotente (capaz, portanto, do milagre) e que Ele é nosso Senhor.
Isso tudo não quer dizer que vamos receber exatamente o que pedimos. Deus sabe melhor o que nos fará bem do que nós mesmos. Podemos pedir para conseguir uma viagem para a França, por exemplo, mas numa dada viagem o avião pode cair e, embora pareça que Deus não tenha ouvido nossas orações, na verdade ele nos livrou de um perigo.
Tenham bem em mente que todas as orações são escutadas por Deus, mesmo aquela que é feita com imperfeições e sem muita atenção. Rezar não é perder tempo. Claro que quanto mais devoção aplicarmos à oração, melhor e mais eficaz ela será. Jesus mesmo nos diz que certos demônios não saem com poucas orações, mas que seus discípulos tinham que rezar mais e precisavam de jejum para removê-los.
Mas não esperemos estar em condição excelente de saúde e de atenção para rezarmos, mas rezemos a tempo e a contratempo. É bom rezar num oratório, diante do Santíssimo, mas se estamos no trânsito, se estamos numa fila de espera, ganhamos muito se rezarmos mentalmente ou labialmente.
Apesar de tudo o que possamos querer pedir na oração, tenhamos sempre em mente que o fim último a se buscar nelas é o Céu, e que cada oração é um reconhecimento de Deus como sendo superior e de nós como sendo inferiores.
Rezemos frequentemente, rezemos a Nossa Senhora, pois ela sabe pedir a Deus de um modo melhor que o nosso, e sabe pedir aquilo que precisamos e não aquilo que nós pensamos que precisamos.
Os protestantes, uns por ignorância, outros por malícia, ignoram a eficácia da intercessão de Nossa Senhora, que acabamos de ler na Bíblia. Rezemos por eles também para que saiam das trevas e que Nossa Senhora os conduza à posição humilde de católicos e que abandonem a soberba de se acharem “doutores da Bíblia”.

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito-Santo. Amém

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