A imortalidade da alma
Jesus havia nascido em Belém, numa gruta abandonada, deitado numa manjedoura de animais.
Ele esconde a sua majestade e abaixa a sua grandeza, enquanto os anjos o aclamaram e uma estrela resplandecente convida os Reis Magos a irem adorar este Rei recém-nascido.
Os Reis do Oriente, tendo encontrado este Rei misterioso, cujo trono é uma manjedoura e cuja púrpura são uns paninhos de pobres, prostram-se, adoram-No e Lhe oferecem os seus presentes: ouro, incenso e mirra.
O ouro exalta a realeza do Menino.
O incenso proclama a sua imortalidade.
A mirra significa a sua humanidade.
Deus é o grande, o supremo Imortal.
Os homens participam desta prerrogativa, pela sua alma, criada à imagem e semelhança de Deus. Consideremos esta prerrogativa de nossa alma, examinando.
1°. A natureza da imortalidade
2°. As provas desta imortalidade
Estas considerações nos farão compreender melhor a grandeza do homem e a sublimidade de seu destino.
Chama-se imortalidade da alma a prerrogativa de que é dotada de não morrer.
Tudo o que é material está sujeito à lei da desagregação ou decomposição.
A nossa alma, sendo simples, espiritual, sem nenhuma composição, não pode estar sujeita a esta lei; a sua espiritualidade conduz logicamente à idéia da sua permanência depois da morte natural.
O que chamamos morte, não é o aniquilamento, é uma decomposição ou dissolução, palavras que indicam uma separação de partes.
A alma não tendo partes, não está, pois, sujeita à morte.
Cícero, apesar de pagão, tem a este respeito uma frase, nos Tusculanos, 1. 1. 29.
“A alma”, diz ele, “é necessariamente uma substância muito simples, sem mistura, sem composição, sem elementos diversos. Segue-se daí que não se pode, nem dissolvê-la, nem dividi-la, nem rompê-la, nem quebrá-la. É pois imortal, porque a morte não é mais que a separação das partes que antes estavam ligadas.”
Na própria natureza da alma, encontramos já uma prova da sua imortalidade.
Todos nós experimentamos o desejo de uma felicidade que não podemos alcançar aqui na terra.
Ora, Deus não pode infundir na alma desejos irrealizáveis, senão seria uma oposição em sua própria obra.
É preciso, pois, que na outra vida, na sobrevivência possamos alcançar esta felicidade que não encontramos neste mundo.
O homem está em marcha para o infinito que prossegue sempre, mas que sempre lhe escapa.
Ele concebe, sente este infinito, trá-lo dentro de si: daí provem este instinto de imortalidade, esta esperança universal de uma outra vida, que exprimem todos os cultos, todas as poesias, todas as tradições.
Se assim não fosse, a maior das criaturas seria a mais maltratada: seria até um monstro eterno, pois nunca chegaria à perfeição de seu estado e de suas aspirações.
A alma não podendo ser decomposta, podia ser aniquilada. Isto, porém, não é concebível.
Aniquilar e criar são dois atos iguais.
Para aniquilar a alma, Deus deveria exercer um ato positivo da sua divindade.
Ora, na natureza inteira não encontramos um único exemplo de aniquilamento.
Nada é aniquilado, mas simplesmente transformado.
O corpo do homem, o dos animais, mesmo as plantas são simplesmente dissolvidos, transformados, mas não aniquilados.
Aliás, à semelhante aniquilação se opõem a sabedoria, a justiça e a veracidade divinas.
Deus, em sua sabedoria infinita, fez a nossa alma imortal em sua natureza, pois tudo o que é espiritual é eterno. Ele fez esta alma à sua imagem e semelhança, sendo Ele o Imortal.
A alma, sendo superior ao corpo, deve ter um destino que seja superior a este.
Ora, o nosso corpo não será aniquilado: nem um de seus elementos voltará para o nada, mas será apenas separado dos outros elementos.
Ora, se a alma morresse, a sua sorte seria menos nobre que o de seu inferior, o que repugna à sabedoria de Deus.
Deus é infinitamente justo, e esta justiça exige que o mal seja punido e o bem recompensado.
Ora, a alma não encontra neste mundo a sanção do bem que faz, nem do mal que comete.
É preciso, pois, que haja uma outra vida, onde triunfe a justiça divina... e esta outra vida exige a imortalidade da alma.
Deus é verdadeiro, e este Deus não somente nos faz aspirar à imortalidade, mas nos obriga a crer nela. A ressurreição da carne, a vida eterna, são dogmas sagrados da nossa fé.
Logo, tal imortalidade existe, claramente ensinada pelo próprio Deus.
As conseqüências práticas da crença na imortalidade da alma são o que mais fortifica e estimula na vida.
Esta crença nos consola no meio dos sofrimentos da vida.
Ela é um estímulo constante na aquisição de méritos e de virtudes.
Ela conserva o homem numa nobre dignidade, inspirando-lhe o respeito a si mesmo.
Com este dogma da imortalidade, a infelicidade é consolada, a virtude excitada, o vício reprimido, a providência justificada, o homem e o mundo moral estão explicados.
Basta deste dogma para formar grandes homens, elevar as grandes virtudes, aceitar grandes sacrifícios para Deus, para a religião e para a sociedade... enquanto que suprimir este dogma, seria suprimir toda a religião, toda virtude, todo dever!
Deus não morre, exclamava Garcia Moreno.
A alma também não morre, devemos ajuntar.
Ambos são imortais, porque a segunda é feita à imagem do primeiro.
1. A lição do tic-tac
Um professor católico de Belfort quis dar a seus alunos uma idéia da imortalidade da alma. Procurou um meio de tornar sensível à inteligência infantil esta verdade: que a morte do corpo não tira a vida da alma.
Tirou o seu relógio da algibeira e chamando os meninos, lhes disse: Escutem como o relógio faz tic-tac e como ele está numa caixa de ouro.
Todos escutaram e admiraram o relógio. Então o professor tirou o mecanismo da caixa e conservando uma das peças em mão diferente, perguntou: Qual dos dois é o relógio?
- É a parte que faz tic-tac, responderam estes.
- Pois bem, estão vendo que a caixa, separada do mecanismo, tornou-se muda, enquanto o relógio continua a andar, embora separado de seu invólucro, a caixa. Assim acontece conosco.
A morte separa a alma do corpo, então o corpo torna-se mudo, a alma, porém, privada de seu invólucro, o corpo, continua a existir e a agir.
A comparação, sem dúvida, é muito imperfeita, mas, os meninos compreenderam assim perfeitamente a verdade de tal modo provada.
2. O martírio do Anamita
Nas últimas perseguições que assolaram a cristandade de Tóquio, um jovem cristão de 17 anos, chamado Moï, excitou a admiração dos próprios pagãos pelo heroísmo da sua constância.
-Pisa este crucifixo e renega a tua religião, bradou-lhe o juiz, e te darei 100$000.
-Excelência, não basta.
-Pois bem, eu te darei 500$.
-Não basta ainda!
-O que?... pois bem, darei 1:000$000.
-É barato demais, Excelência!
O Juiz, estupefato pela calma do cristão, perguntou-lhe nervoso: mas, então, quanto queres?
- Excelência, se quereis que eu perca a minha alma, pisando o crucifixo e renegando a minha religião, dai-me bastante dinheiro para comprar uma outra alma imortal.
E o valente Anamita marchou para o suplício com o sorriso sobre os lábios, deixando juiz e algozes boquiabertos de tanta coragem.
É que o Anamita compreendia o que é uma alma imortal.
Ele esconde a sua majestade e abaixa a sua grandeza, enquanto os anjos o aclamaram e uma estrela resplandecente convida os Reis Magos a irem adorar este Rei recém-nascido.
Os Reis do Oriente, tendo encontrado este Rei misterioso, cujo trono é uma manjedoura e cuja púrpura são uns paninhos de pobres, prostram-se, adoram-No e Lhe oferecem os seus presentes: ouro, incenso e mirra.
O ouro exalta a realeza do Menino.
O incenso proclama a sua imortalidade.
A mirra significa a sua humanidade.
Deus é o grande, o supremo Imortal.
Os homens participam desta prerrogativa, pela sua alma, criada à imagem e semelhança de Deus. Consideremos esta prerrogativa de nossa alma, examinando.
1°. A natureza da imortalidade
2°. As provas desta imortalidade
Estas considerações nos farão compreender melhor a grandeza do homem e a sublimidade de seu destino.
I. A natureza da imortalidade
Chama-se imortalidade da alma a prerrogativa de que é dotada de não morrer.
Tudo o que é material está sujeito à lei da desagregação ou decomposição.
A nossa alma, sendo simples, espiritual, sem nenhuma composição, não pode estar sujeita a esta lei; a sua espiritualidade conduz logicamente à idéia da sua permanência depois da morte natural.
O que chamamos morte, não é o aniquilamento, é uma decomposição ou dissolução, palavras que indicam uma separação de partes.
A alma não tendo partes, não está, pois, sujeita à morte.
Cícero, apesar de pagão, tem a este respeito uma frase, nos Tusculanos, 1. 1. 29.
“A alma”, diz ele, “é necessariamente uma substância muito simples, sem mistura, sem composição, sem elementos diversos. Segue-se daí que não se pode, nem dissolvê-la, nem dividi-la, nem rompê-la, nem quebrá-la. É pois imortal, porque a morte não é mais que a separação das partes que antes estavam ligadas.”
Na própria natureza da alma, encontramos já uma prova da sua imortalidade.
Todos nós experimentamos o desejo de uma felicidade que não podemos alcançar aqui na terra.
Ora, Deus não pode infundir na alma desejos irrealizáveis, senão seria uma oposição em sua própria obra.
É preciso, pois, que na outra vida, na sobrevivência possamos alcançar esta felicidade que não encontramos neste mundo.
O homem está em marcha para o infinito que prossegue sempre, mas que sempre lhe escapa.
Ele concebe, sente este infinito, trá-lo dentro de si: daí provem este instinto de imortalidade, esta esperança universal de uma outra vida, que exprimem todos os cultos, todas as poesias, todas as tradições.
Se assim não fosse, a maior das criaturas seria a mais maltratada: seria até um monstro eterno, pois nunca chegaria à perfeição de seu estado e de suas aspirações.
II. Provas da sua imortalidade
A alma não podendo ser decomposta, podia ser aniquilada. Isto, porém, não é concebível.
Aniquilar e criar são dois atos iguais.
Para aniquilar a alma, Deus deveria exercer um ato positivo da sua divindade.
Ora, na natureza inteira não encontramos um único exemplo de aniquilamento.
Nada é aniquilado, mas simplesmente transformado.
O corpo do homem, o dos animais, mesmo as plantas são simplesmente dissolvidos, transformados, mas não aniquilados.
Aliás, à semelhante aniquilação se opõem a sabedoria, a justiça e a veracidade divinas.
Deus, em sua sabedoria infinita, fez a nossa alma imortal em sua natureza, pois tudo o que é espiritual é eterno. Ele fez esta alma à sua imagem e semelhança, sendo Ele o Imortal.
A alma, sendo superior ao corpo, deve ter um destino que seja superior a este.
Ora, o nosso corpo não será aniquilado: nem um de seus elementos voltará para o nada, mas será apenas separado dos outros elementos.
Ora, se a alma morresse, a sua sorte seria menos nobre que o de seu inferior, o que repugna à sabedoria de Deus.
Deus é infinitamente justo, e esta justiça exige que o mal seja punido e o bem recompensado.
Ora, a alma não encontra neste mundo a sanção do bem que faz, nem do mal que comete.
É preciso, pois, que haja uma outra vida, onde triunfe a justiça divina... e esta outra vida exige a imortalidade da alma.
Deus é verdadeiro, e este Deus não somente nos faz aspirar à imortalidade, mas nos obriga a crer nela. A ressurreição da carne, a vida eterna, são dogmas sagrados da nossa fé.
Logo, tal imortalidade existe, claramente ensinada pelo próprio Deus.
III. Conclusão
As conseqüências práticas da crença na imortalidade da alma são o que mais fortifica e estimula na vida.
Esta crença nos consola no meio dos sofrimentos da vida.
Ela é um estímulo constante na aquisição de méritos e de virtudes.
Ela conserva o homem numa nobre dignidade, inspirando-lhe o respeito a si mesmo.
Com este dogma da imortalidade, a infelicidade é consolada, a virtude excitada, o vício reprimido, a providência justificada, o homem e o mundo moral estão explicados.
Basta deste dogma para formar grandes homens, elevar as grandes virtudes, aceitar grandes sacrifícios para Deus, para a religião e para a sociedade... enquanto que suprimir este dogma, seria suprimir toda a religião, toda virtude, todo dever!
Deus não morre, exclamava Garcia Moreno.
A alma também não morre, devemos ajuntar.
Ambos são imortais, porque a segunda é feita à imagem do primeiro.
EXEMPLOS
1. A lição do tic-tac
Um professor católico de Belfort quis dar a seus alunos uma idéia da imortalidade da alma. Procurou um meio de tornar sensível à inteligência infantil esta verdade: que a morte do corpo não tira a vida da alma.
Tirou o seu relógio da algibeira e chamando os meninos, lhes disse: Escutem como o relógio faz tic-tac e como ele está numa caixa de ouro.
Todos escutaram e admiraram o relógio. Então o professor tirou o mecanismo da caixa e conservando uma das peças em mão diferente, perguntou: Qual dos dois é o relógio?
- É a parte que faz tic-tac, responderam estes.
- Pois bem, estão vendo que a caixa, separada do mecanismo, tornou-se muda, enquanto o relógio continua a andar, embora separado de seu invólucro, a caixa. Assim acontece conosco.
A morte separa a alma do corpo, então o corpo torna-se mudo, a alma, porém, privada de seu invólucro, o corpo, continua a existir e a agir.
A comparação, sem dúvida, é muito imperfeita, mas, os meninos compreenderam assim perfeitamente a verdade de tal modo provada.
2. O martírio do Anamita
Nas últimas perseguições que assolaram a cristandade de Tóquio, um jovem cristão de 17 anos, chamado Moï, excitou a admiração dos próprios pagãos pelo heroísmo da sua constância.
-Pisa este crucifixo e renega a tua religião, bradou-lhe o juiz, e te darei 100$000.
-Excelência, não basta.
-Pois bem, eu te darei 500$.
-Não basta ainda!
-O que?... pois bem, darei 1:000$000.
-É barato demais, Excelência!
O Juiz, estupefato pela calma do cristão, perguntou-lhe nervoso: mas, então, quanto queres?
- Excelência, se quereis que eu perca a minha alma, pisando o crucifixo e renegando a minha religião, dai-me bastante dinheiro para comprar uma outra alma imortal.
E o valente Anamita marchou para o suplício com o sorriso sobre os lábios, deixando juiz e algozes boquiabertos de tanta coragem.
É que o Anamita compreendia o que é uma alma imortal.
(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 60 - 65)
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