7 de setembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.



I


Como sabeis, logo a seguir à sua conversão, foi S. Paulo incumbido de tornar conhecido o nome de Jesus. Desde então, coisa alguma teve mais a peito do que desempenhar-se deste mandato. Se ·enceta numerosas via­gens cheias de perigos; se prega sem descanso nas sinagogas, no Areópago, perante os judeus, perante os sábios de Atenas, perante os procuradores romanos ; se, mesmo na prisão, escreve longas cartas aos fiéis ; se sofre mil perseguições , - é para poder « levar o nome de Cristo diante das nações, dos reis e dos filhos de Israel »
É sobretudo na sua pregação às nações pagãs, das quais foi constituído Apóstolo, que descobrimos quão profundamente S. Paulo vive este .mistério. Apresenta-se ao mundo pagão para o regenerar, para o renovar, para o salvar. E que traz ele a esta sociedade corrupta, cuja enorme depravação descreve em termos aterradores? Trará as regalias do nascimento, a sabedoria dos filó­sofos, a ciência dos doutos, a força dos conquistadores?
Nada disso o Apóstolo possui. Declara que não passa dum aborto; escreve aos Coríntios que foi < na fraqueza, cheio de temor e receio, que se apresen­tou no meio deles». Lembra aos Gálatas «que se sentia acabrunhado de enfermidades, quando, pela pri­meira vez, lhes pregou o Evangelho». Desta forma, nem a sedução da sua pessoa, nem o prestígio da ciência, nem a autoridade da sabedoria natural, nem o bri­lho da eloquência, nem o encanto da palavra humana; tudo isso despreza: Non in sublimitate sermonis aut sapientiae . . . non in persuasibilibus humanae sapientiae verbis ... non in sapientia hominum.
Que traz então? Apenas Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado: Non enim judicavi me scire aliquid inter vos nisi Jesum Christum., et hunc crucifixum. Toda a sua pregação se resume nesta ciência, toda a sua doutrina se encerra neste mistério.
E de tal modo está compenetrado deste mistério, que dele faz o objeto das suas orações pelos seus dis­cípulos: « Dobro o joelho diante do Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que vos dê em abundância a força do seu Espírito, para que se forme em vós o homem interior; de modo a vos tornardes capazes de compreender, como fazem os santos, a largueza e a extensão, a sublimidade e a profundeza (do mistério do
Seu Filho ); peço-lhe mais que chegueis a conhecer a caridade de Cristo, muito superior a toda a ciência, para que fiqueis repletos (por Cristo) da própria plenitude de Deus >>.
.Que oração esta! Como se reconhece através destas linhas a íntima convicção do Apóstolo e o ardor da sua alma em a comunicar aos outros!
E esta oração é incessante. « Não cessamos de orar por vós, de pedir a Deus que tenhais o pleno conhe­ cimento da Sua vontade, em toda a sapiência e inteligência espiritual »: In omni sapientia et intellectu spiritali.
Porque é que S. Paulo volta constantemente ao mesmo assunto, a ponto de fazer dele o único tema
doutrinal da sua pregação? Porque é que eleva a Deus, pelos seus cristãos, tão instantes e contínuas súplicas? Por que motivo deseja tão ardentemente ver o mistério de Cristo, não só conhecido, mas experimentado por todos os cristãos? ·Pois, notai-o bem, ele dirige as suas cartas, não a alguns raros iniciados, mas a todos os fiéis das igrejas por ele fundadas; cartas destinadas a ser lidas publicamente nas assembleias cristãs. Qual é então o motivo profundo desta maneira de proceder?
O Apóstolo expõe - no - lo na sua carta aos Colossenses: «Quero que saibas quão imenso é o cuidado que
tenho por vós, e quanto desejo que os vossos corações ... sejam enriquecidos duma perfeita convicção no
que se refere ao conhecimento do mistério de Deus Pai e de Jesus Cristo, em quem estão encerrados todos os tesouros da sabedoria e da ciência»
Esta última frase revela-nos o motivo de todo o proceder de S. Paulo. Ele está convencido de que «tudo
encontramos em Cristo»: Quomodo non etiam cum illo omnia nobis donavit?; que nele «nada nos falta»: lta ul nihil vobís desit in ulla gratia; Para renovar a sociedade pagã e levantar o mundo decaído, S. Paulo só conhece um meio: Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado. É verdade que este .mistério é « escândalo para os judeus, loucura para os sábios da Grécia» ; mas encerra «a virtude do Espírito divino, só ele pode «renovar a face da terra».
Só em Jesus reside «toda a sabedoria, toda a jus­tiça, toda a santificação, toda a redenção» de que têm necessidade as almas de todos os tempos. E aqui está por que S. Paulo reduz toda a formação do homem
interior ao conhecimento prático do ministério de Je­sus.

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