1 de setembro de 2016

Sermão para o 13º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] Gratidão a Deus – Lições de um curto Evangelho


Em nome do Pai, e Do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Um deles, ao ver-se curado, voltou, glorificando a Deus em alta voz.”
Eram dez leprosos, nove judeus e um samaritano, que vieram ao encontro de NSJC. Pararam a certa distância como prescrevia a lei mosaica (Lev. 13, 45-46). Prescrevia a lei essa distância para evitar o contágio de outras pessoas com a lepra. A lepra, significa espiritualmente, a alma em estado de pecado mortal. Se a lepra vai destruindo a carne, o pecado mata a alma e a devora, tirando-lhe as forças. O pecador fica, assim, distante de Deus, porque se afastou do Senhor pelo seu pecado.
Erguem, então, a voz. Erguem a voz porque estão à certa distância, prescrita pela lei, mas erguem a voz para mostrar também a grave necessidade em que se encontram. E erguem a voz unidos para mais facilmente mover a bondade e a compaixão de Jesus. É uma oração pública, pois Deus quer que rezemos não só individualmente, o que é essencial, mas também publicamente. Devemos rezar também em sociedade porque Deus é o criador não só dos indivíduos, mas também da sociedade, ao criar o homem como animal social, isto é, como um ser que precisa de seus semelhantes para poder viver adequadamente. Clamam: “Jesus, Mestre, tende compaixão de nós.” Clamam Jesus, porque é Ele a salvação deles, o nome Jesus significa Salvador, lembremos. Pedem ao Senhor misericórdia, para que Ele os tire da miséria dessa doença e desse sofrimento. Ao pedir misericórdia, reconhecem o poder de Cristo, homem e Deus. Chamam-no Mestre, pois Nosso Senhor veio nos salvar pelo seu sacrifício e pela sua doutrina, pelos seus ensinamentos. Erro comum hoje afirmar que Nosso Senhor nada veio afirmar, mas apenas começar um vago sentimento ou movimento religioso. Erro comum mesmo entre alguns que se denominam conservadores. Nosso Senhor Jesus Cristo veio ensinar uma doutrina clara.
Nosso Senhor responde: “Ide mostrar-vos aos sacerdotes.” Os leprosos, quando ficavam curados, deviam apresentar-se ao sacerdote para que esse declarasse a pureza deles. Nosso Senhor, ao dizer aos dez leprosos para que se mostrem aos sacerdotes, afirma que vai curá-los antes que cheguem lá. E eles foram prontamente, acreditando, então, que Nosso Senhor Jesus Cristo iria curá-los. Demonstraram uma fé sincera e uma pronta obediência, além de grande confiança no Mestre.
Ainda no caminho, ficaram curados. Os dez ficaram curados. Apenas um voltou. E foi justamente o samaritano. Voltou glorificando a Deus em alta voz e prostrou-se aos pés de Nosso Senhor, que aproveita a ocasião para manifestar a ingratidão dos outros nove que haviam sido curados. Ubi sunt? Onde estão os outros nove? Esse que voltou, ao agradecer a Deus, ao se prostrar diante de Nosso Senhor, ficou curado não somente de sua lepra, mas teve a sua alma curada: “levanta-te e vai, a tua fé te salvou.” Era esse o objetivo de Jesus Cristo ao curar os dez: que pudessem ter a alma purificada, que se convertessem a Deus. São inúmeras as lições dessa parte final do Evangelho. Vemos que a cura lhes foi dada para que se convertessem a Deus, assim como tudo o que Deus nos dá é para que melhor o sirvamos. Devemos usar tudo o que temos unicamente para melhor servir a Deus. O fato da cura dos leprosos e a volta do único estrangeiro, do único que não era judeu, mostra a difusão e aceitação do cristianismo entre os pagãos, enquanto a maior parte dos judeus recusou Nosso Senhor. Vemos que o samaritano volta glorificando a Deus em alta voz. Com alta voz tinha clamado pela cura. Com alta voz agradece. É preciso ter o mesmo fervor para pedir favores a Deus e para agradecer por tudo o que nos deu e dá. Quantas vezes existe grande fervor ao pedir, mas pequeno fervor ao agradecer a Deus.
A grande lição do Evangelho de hoje é a gratidão que devemos ter para com Deus. Devemos ser reconhecidos a Deus pelos inúmeros benefícios que nos dá. Muitas vezes, quando tudo vai bem, esquecemos de agradecer a Deus ou agradecemos muito pouco. Quando as coisas vão mal, esquecemos que também as cruzes vêm das mãos de Deus, esquecemos que também elas são graças, e esquecemos de tudo o que Deus já nos fez. E no lugar de glorificar a Deus, murmuramos. Quantas graças Deus nos dá e ficamos indiferentes, apenas nos lembrando de pedir mais graças, esquecidos de agradecer a Deus. Quantas graças de boa inspiração, de arrependimento. Quantos benefícios na ordem temporal e espiritual. Quantas vezes nos livrando de perigos e ciladas de todos os tipos, dando provas sem fim de sua bondade sem medida. Mas, em geral, somos dos nove que não voltaram. Onde estão as nossas ações de graças dirigidas a Deus por tudo que nos deu? Não está dito dos nove que a fé deles os salvou, apenas daquele que voltou agradecido. Devemos agradecer e glorificar a Deus, como fez o samaritano. Glorificar a Deus não tanto com as palavras quanto com as obras. Nossa gratidão a Deus deve ser mais efetiva do que afetiva. Nossa gratidão não pode ser um mero sentimento. A gratidão que deve encher a nossa alma – gratidão sobretudo pela misericórdia que até esse momento Deus tem exercido para conosco – deve ser uma gratidão manifestada também com as obras, observando e guardando as suas palavras e os seus mandamentos. Gratidão efetiva a Deus em nossas orações e em nossos obras. Gratidão a Deus com toda a nossa vida.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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