30 de setembro de 2016

Columba Marmion - Jesus Cristo nos seus mistérios.

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É  certo  que  na sua duração histórica, material, os mistérios da vida terrestre de Cristo já passaram ; mas a  sua virtude permanece. e a graça que nos faz participar deles opera e atua sempre.
No seu estado glorioso. Cristo já não merece : só pode merecer durante a Sua vida mortal, até à hora em  que, na Cruz, exalou o último suspiro. Mas os  méritos que adquiriu, não cessa de os fazer nossos. Cristo era ontem, permanece hoje, vive por todos os séculos: Christus heri. et hodie, ipse et in saecula. Não esqueçamos que Jesus quer a santidade do Seu Corpo Místico ; todos os seus mistérios têm por fim operar esta santidade :  Dílexit Ecclesiam et seipsum tradidit pro ea,  UT  illam sanctíficaret.  Mas que Igreja é esta? Será aquela pequenina porção de seres que tiveram o privilégio de ver em vida o Homem-Deus sobre a terra? Está claro que não. Nosso Senhor não incarnou apenas para os habitantes da Palestina que viveram no tempo d'Ele,  mas sim para todos os homens, de todos os séculos:  Pro omnibus mortuus est Christus.  O olhar de Jesus, .por isso que divino, atingia todas as almas : o Seu amor estendia-se a cada uma delas : a Sua vontade santificádora continua a ser tão soberana, tão eficaz, como no dia em que  o Seu sangue foi derramado pela salvação do mundo.
Se para Ele o tempo de merecer acabou, o tempo de comunicar o fruto dos Seus méritos continua e con­tinuará até  à  salvação do último dos eleitos : Cristo
continua sempre vivo!  Semper  vivens  ad  interpellandum  pro  nobis;
Elevemos o nosso pensamento para o céu, para o santuário para onde Cristo subiu, quarenta dias depois da Ressurreição; e vejamos Nosso Senhor sempre diante da face do Pai ;  Introivit  in caelum ut  appareat  NUNC vultui  Dei pro nobis.  Porque é que Jesus Cristo está constantemente diante da face do Pai?
Porque é seu Filho, o Filho único de Deus. «Para Ele não é injusta pretensão proclamar·se igual a
Deus», visto ser o verdadeiro Filho de Deus. O Pai Eterno contempla-O, e diz--lhe:  Filius  meus es tu ego hodie  genui te. Neste momento em que vos falo, Cristo está diante do Pai, e exclama:  Pater meus es tu:  «Tu és o meu Pai», eu sou verdadeiramente teu Filho. E, enquanto Filho de Deus, assiste·lhe o direito de contemplar o Pai face a face, de tratar com Ele de igual para igual, de reinar com Ele pm; todos  os  séculos.
Mas S. Paulo acrescenta que é  por  nós  que Jesus Cristo usa deste direito, que é por nós que Ele está diante do Pai. Quer isto dizer que Jesus Cristo está diante da face do Pai, não apenas a título de Filho único, objeto das complacências divinas, mas também na qualidade de Mediador. Chama-se Jesus, quer dizer, Salvador; este nome é divino, porque vem de Deus, foi imposto por Deus. Jesus Cristo está no céu,  à direita do Pai, como nosso representante, nosso Pon­tífice, nosso Mediador. Foi nesta qualidade que Ele cumpriu neste mundo, até ao último jota, a vontade do Pai ; que quis viver todos os Seus mistérios ; e é também nesta qualidade que vive agora  à  direita de Deus, para  Lhe apresentar os Seus méritos e comunicar inces­santemente às nossas almas, para as santificar, o fruto dos Seus mistérios:  Semper vivens ad interpellandum pro nobis.
Oh!  que poderoso motivo de confiança sabermos que Cristo, cuja vida lemos no Evangelho, cujos mistérios celebramos, está sempre vivo, sempre a interceder por nós : que a virtude da sua divindade está sempre operante ; que o poder que tinha a Sua santa Humanidade (como instrumento unido ao Verbo) de curar os doentes, de consolar os tristes, de vivificar as almas, é sempre o mesmo! Como outrora, Cristo é e continua a ser o caminho infalível que conduz a Deus, a verdade que ilumina todo o homem que vem a este mundo, a vida que salva da morte:  Christus herí et  HODIE.  ipse et in saecula.
Eu creio. Senhor Jesus, mas aumentai a minha fé! Tenho plena confiança na realidade e plenitude dos Vossos méritos. mas fortalecei esta confiança! Amo­-Vos, a Vós que em todos os Vossos mistérios nos manifestastes o Vosso amor,  in finem,  mas aumentai o meu amor ! ...

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