[Sermão] Fim do mundo? Sinais precursores.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Diz o Senhor: Eu tenho pensamentos de paz e não de aflição.” (Introito)
Prezados Católicos, estamos hoje no último domingo do ano litúrgico. Se o ano litúrgico revive, à sua maneira, toda a história da Salvação, o último domingo depois de Pentecostes trata do fim do mundo. Diante da situação do mundo hoje, diante da dissolução moral e do grande abandono da fé na sociedade civil e na Igreja, muitos ficam alarmados, aflitos, obcecados com o suposto fim do mundo. Cooperam muito para isso aparições ou “locuções” não aprovadas, não reconhecidas pela Igreja, mas às quais as pessoas se apegam erroneamente, muitas vezes por uma fraqueza na fé. Como nos dizem os autores de espiritualidade – São João da Cruz – em primeiro lugar, o apego excessivo a fenômenos extraordinários ou o basear a vida espiritual em fenômenos extraordinários é uma fraqueza na fé. Isso, mesmo para aparições aprovadas pela Igreja. O que dizer, então, daquelas que não o são? Alarmados, aflitos, cegos com a suposta proximidade do fim do mundo, as pessoas esquecem muitas vezes de fazer o bem que podem e devem fazer aqui e agora. Esquecem que o que mais importa é nos prepararmos para o fim do nosso mundo, que virá com a nossa morte.
O conhecimento preciso do fim do mundo ou do dia da volta de Cristo, para julgar os vivos e os mortos, a Parusia, não nos foi revelado. A ninguém foi dado conhecer nem o dia nem a hora, nos diz Nosso Senhor. Ele afirmou também que o dia virá de improviso, como um ladrão invisível na noite, como um relâmpago que brilha repentinamente, como o dilúvio, que surpreendeu os contemporâneos de Noé, como a chuva de fogo que caiu sobre Sodoma ou, ainda, como a armadilha feita aos pássaros. Só Deus conhece o momento preciso. Nosso Senhor, porém, nos anunciou sinais precursores, muitos deles genéricos. Podemos, junto com os teólogos, enumerar seis desses sinais :
- Um sinal: O anúncio universal do Evangelho. Perguntado sobre o fim do mundo, Nosso Senhor diz aos discípulos: “E será pregado esse Evangelho do reino por todo o mundo, em testemunho a todas as gentes; e então chegará o fim” (Mt. 24, 14). Não se trata aqui da conversão de todos, mas do fato de que o Evangelho seja pregado a todos os povos e em todas as regiões, e que seja praticado com maior ou menor proveito por eles. Já aconteceu isso? Difícil dizer com certeza. Parece haver ainda alguns povos, sobretudo na África, que ainda não conheceram o Evangelho, sobretudo porque muito cedo caíram sob o domínio do Islamismo.
- Outro sinal: A vinda do Anticristo. Anticristo em sentido largo é todo adversário de Cristo. Mas falamos aqui do anticristo em sentido estrito. Embora a Igreja não tenha definido nada a respeito, o mais provável, segundo a quase unanimidade dos Padres da Igreja, é que o anticristo seja realmente um indivíduo, um ser humano, um inimigo de Cristo, que se fará adorar como Deus e que poderá ser identificado com certa facilidade, pelo contexto, com o que diz a Sagrada Escritura. São Paulo, por exemplo, diz (2 Tessalonicenses, II, 3-4): “Ninguém de modo algum vos engane; porque isto (a vinda de Cristo) não será antes que venha a apostasia (quase geral dos fiéis), e sem que tenha aparecido o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se oporá a Deus e se elevará sobre tudo o que se chama Deus ou que é adorado como Deus, de sorte que se sentará no templo de Deus, apresentando-se como se fosse Deus.” Templo de Deus não é aqui a Igreja Católica, que não chama os edifícios sagrados de “templos”, mas de igrejas, como diz São Roberto Belarmino. Esse templo será provavelmente um templo em Jerusalém, tentativa de reconstrução do antigo templo judeu. A vinda do anticristo certamente não aconteceu ainda. Houve, isso sim, prefigurações do anticristo, como alguns imperadores romanos perseguidores da Igreja, ou como Hitler e Stalin, mas o anticristo ainda não veio.
- Outro sinal: A grande apostasia. Está no texto de São Paulo que acabamos de citar: “isto (a vinda de Cristo) não será antes que venha a apostasia.” A apostasia será um abandono suficientemente generalizado da fé, pelo ateísmo, pelo materialismo, pelo indiferentismo, ou por algum sopro de falsa doutrina ou religião. Nem todo mundo perderá a fé, até porque a Igreja continuará sempre a existir tal como fundada por Cristo e ensinando o que Cristo sempre ensinou. O Papa João Paulo II falou em uma ocasião que vivíamos uma apostasia silenciosa. Trata-se da apostasia que precede a vinda de Cristo e o fim do mundo. Não sabemos. Parece que não. Mais provavelmente, vivemos uma prefiguração dessa apostasia.
- Outro sinal: Conversão dos judeus. São Paulo escreve aos Romanos (XI, 25-26): “Não quero que ignoreis… este mistério, que uma parte de Israel caiu na cegueira até que tenha entrado na Igreja a plenitude dos gentios, e assim todo o Israel será salvo.” Haverá a conversão de uma grande quantidade de judeus antes do fim do mundo. Assim interpretam os dizeres de São Paulo os padres da Igreja. Isso evidentemente ainda não ocorreu e não parece estar tão próximo de ocorrer.
- Mais um sinal: A volta de Elias e Henoc. Os Padres da Igreja são também unânimes em afirmar a volta de Elias e de Henoc, embora a Igreja não tenha definido o sentido exato disso. Eles voltariam justamente para cooperar na conversão dos judeus.
- Outro sinal. Grandes tribulações e calamidades. Ora, tribulações e calamidades sempre existiram. E graves. Aquelas que precederão o fim do mundo poderão ser identificadas claramente? Talvez. Por enquanto, nada parece ter um caráter excepcional nessa ordem.
Como vemos, caros católicos, os sinais precursores nos foram dados por meio de profecias, e as profecias dificilmente são compreendidas perfeitamente até que ocorram. Mesmo no discurso de Nosso Senhor que hoje ouvimos no Evangelho não é fácil distinguir o que pertence à destruição de Jerusalém e o que pertence ao fim do mundo. Além disso, ao longo da história, há prefigurações do fim do mundo. Na época de São Gregório Magno, no século VI, muitos pensaram que era o fim do mundo. Não foi. Foi uma prefiguração. No tempo de São Vicente Ferrer, entre o século XIV e o XV, muitos pensaram que era o fim do mundo. Não foi. Foi uma prefiguração. Hoje, muitos, alarmados com a decadência moral e o esfriamento da fé e da caridade, pensam que será em breve o fim do mundo. Alguns sinais até parecem estar presentes. Outros certamente não estão. Parece-nos mais uma prefiguração. De toda forma, ninguém sabe nem o dia nem a hora, só Deus. A nós cabe não nos paralisarmos diante dos males que vemos, esperando um suposto fim do mundo. A nós cabe não cair em desânimo. A nós cabe, isso sim, crer no Evangelho e praticá-lo com alegria, entusiasmo e coragem. A nós cabe difundir o Evangelho nos ambientes em que vivemos, começando por dar o exemplo de bons católicos. A nós cabe preservar a nossas famílias da dissolução que o mundo quer impor e educar bem as nossas crianças. A nós cabe nos prepararmos para o fim do nosso mundo, que é a nossa morte.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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