MEDITAÇÃO VI
Ignomínias que Jesus sofreu na sua paixão
As maiores ignomínias que Jesus sofreu foram as que suportou na sua morte. Primeiramente sofreu a ignomínia de ver-se
abandonado por seus amados discípulos, dos quais um o traiu, outro o
renegou, e todos eles fugiram e abandonaram Jesus, quando ele foi
preso (Mc 14,50). Depois, foi apresentado a Pilatos como um
malfeitor que merecia ser crucificado (Jo 18,30). Em seguida, foi por
Herodes escarnecido como louco e revestido de uma túnica branca (Lc
23,11). Barrabás foi-lhe preferido, o ladrão homicida, tendo Pilatos
cedido aos gritos dos judeus (Jo 18,40). Foi flagelado como
escravo, pois esse castigo era reservado aos escravos (Jo 19,1). Foi
escarnecido como rei de burla, depois de haverem-no coroado de espinhos
por zombaria e saudado como rei, cuspindo-lhe no rosto (Mt
27,29). Finalmente, foi condenado a morrer no meio de dois celerados, como Isaías já o dissera (Is 53,12). Expirando na cruz, sujeitou-se
à morte mais ignominiosa, à qual só os malfeitores eram condenados
naqueles tempos, e por isso entre os judeus era tido por amaldiçoado
por Deus e pelos homens o que morria crucificado (Dt 21,23).
Assim escreve o Apóstolo: “Foi feito por nós maldição, porque está
escrito: Amaldiçoado é todo aquele que é suspenso no lenho”(Gl 3,13).
São Paulo diz que nosso Redentor, renunciando a uma vida
esplêndida e deliciosa que podia gozar nesta terra, preferiu levar uma
vida cheia de tribulações e sofrer uma morte repleta de ignomínias:
“Jesus, tendo diante de si o gozo, sustentou a cruz, desprezando a
ignomínia” (Hb 12,2). Dessa forma verificou-se em Jesus Cristo a
profecia de Jeremias de que havia de viver e morrer saciado de
opróbrios: “Dará suas faces ao que o ferir, será saturado de opróbrios”(Lm
3,30). Ao que exclama S. Bernardo: “Ó último e primeiro, ó opróbrios
dos homens e glória dos anjos! O mais alto de todos é feito o ínfimo de todos”. E conclui que tudo isso é obra do amor que Jesus
Cristo nos tem: “Ó força do amor! Quem fez isso? O amor!”
Ó meu Jesus, salvai-me, não permitais que eu, depois de ter
sido remido por vós com tantas dores e tanto amor, me condene e
vá para o inferno a odiar-vos e amaldiçoar o amor que me
demonstrastes. Muitas vezes eu mereci esse inferno, já que vós não podeis
fazer mais do que fizestes para obrigar-me a amar-vos e eu não
podia fazer mais do que fiz para obrigar-vos e castigar-se.
Mas, visto que me esperastes por bondade e ainda continuais
a convidar-me a vos amar, eu quero amar-vos e quero amar-vos
com todo o meu coração e sem reserva. Dai-me a graça de o fazer.
E vós, ó Maria, Mãe de Deus, socorrei-me com as vossas súplicas.
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