25 de novembro de 2014

Sermão para o 23º Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] Lições do Evangelho da hemorroíssa

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Sermão
 “Tem confiança, filha, a tua fé te salvou.”
No Evangelho de hoje, o Evangelho da ressurreição da filha de Jairo e da cura da hemorroíssa, Nosso Senhor nos mostra alguns traços interessantes de sua vida pública nessa terra, para salvação dos homens.
Nós podemos imaginar a cena, relatada com alguns detalhes a mais por São Marcos e São Lucas. Nosso Senhor se dirigia à casa de Jairo, onde a filha desse chefe da sinagoga acabara de morrer. Já está a multidão fora da casa, lamentando o falecimento da jovem. Havia também uma multidão de pessoas que seguiam Jesus. Eis, então, que uma mulher, que sofria de um fluxo de sangue toca a fímbria da veste de Cristo. Não só ela sofria dessa doença, nos diz São Marcos, mas ela estava também na miséria, tendo gastado tudo o que possuía com os médicos, que não conseguiram curá-la. Ao contrário, ela só piorava dessa doença que lhe causava vergonha. Tanta vergonha que ela não ousa falar com o Senhor para lhe pedir a cura. Conhecendo os relatos dos milagres anteriores de Nosso Senhor, ela considera que é suficiente tocar a fímbria, a borda das vestes de Cristo.
No meio dessa multidão que comprimia e apertava o Salvador, a hemorroíssa o tocou. Nosso Senhor se volta, então, para a multidão e pergunta, como nos dizem São Lucas e Marcos: “Quem me tocou?” São Pedro e outros que estavam com Ele dizem: “Mestre, as multidões apertam-te e oprimem-te e tu perguntas: Quem me tocou?” Os discípulos, São Pedro em primeiro lugar, ficam abismados com aquela pergunta do Mestre porque era uma multidão que tocava Jesus de todos os lados. Como pode o Salvador perguntar: “quem me tocou?” Todo mundo o tocava. O que os discípulos e a hemorroíssa não compreendiam ainda é que Cristo conhecia todas as coisas. Nosso Senhor sabia exatamente quem o tinha tocado e quem era a pessoa que tinha sido curada. A cura da hemorroíssa foi um ato voluntário da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo e não uma espécie de mágica pelo simples toque na roupa do Mestre. A virtude que saiu de Jesus para curá-la foi ato de misericórdia do seu Sacratíssimo Coração. Na verdade, então, Ele pergunta quem o tocou com verdadeira fé ao ponto de lhe alcançar a cura. Jesus aproveita essa demonstração de fé da doente, que acredita poder ser curada ao tocar as vestes do Senhor e opera o milagre. Nós veremos algo semelhante com os apóstolos depois de Pentecostes. Deus fez milagres até com a sombra deles.
O fato é que Nosso Senhor sabe exatamente quem o tocou e que Ele curou a hemorroíssa. A mulher resolve, então, cheia de medo e tremendo, prostar-se diante dele contando-lhe o ocorrido. Nosso Senhor quis que se tornasse pública a cura da hemorroíssa para corrigir o erro dela e dos discípulos, que pensavam que algo podia ser feito sem seu conhecimento ou às escondidas. Nosso Senhor mostra que conhece todas as coisas. No meio daquela multidão que o tocava de toda parte, ele sabe que uma mulher com grande fé o tocou e que ele a curou do seu fluxo de sangue. Nosso Senhor é onisciente e nada está escondido diante dos seus olhos. Ele quis tornar público esse milagre para nos propor como modelo a fé dessa doente. Quis também tornar público esse episódio a fim de preparar a multidão para o milagre maior da cura da filha de Jairo. Na verdade, “esse contratempo” (entre aspas) da cura da hemorroíssa é que permite a morte da filha de Jairo ou uma maior certeza quanto à sua morte. Aos olhos do pai da menina morta, esse contratempo deve ter sido incompreensível: minha filha morre enquanto Ele cura uma mulher de um fluxo de sangue no meio da multidão querendo saber quem o tocou. Mas Jesus, a sabedoria eterna encarnada, dispõe bem todas as coisas. Permite que a filha de Jairo morra e que passe um certo tempo para fazer um milagre ainda maior, para que as pessoas possam acreditar. Grande é a sabedoria e a bondade divinas, caros católicos, que muitas vezes não compreendemos ou não queremos compreender.
A hemorroíssa, nesse episódio, não somente foi curada de seu fluxo, mas encontrou a salvação. Como diz Nosso Senhor: “filha, a tua fé te salvou.” Salvou não do fluxo de sangue, mas a justificou, a santificou. A hemorroíssa demonstrou com sua ação que acreditava plenamente em Jesus Cristo e que agia em consequência: fé e obras. Saiu santificada.
A hemorroíssa que se antecipa ao milagre da ressurreição da filha de Lázaro representa os gentios, enquanto a filha de Lázaro simboliza os judeus. Nosso Senhor se dirigia à filha de Lázaro, mas foi a hemorroíssa curada em primeiro lugar. Nosso Senhor veio para os judeus, mas os primeiros a se converterem a Ele em grande número foram os pagãos. Os judeus, conforme nos diz São Paulo, se converterão no final dos tempos. A hemorroíssa simboliza também o pecador inveterado. Doze anos de doença vergonhosa e que a tirava do convívio da sociedade e que lhe diminuía as forças, como o pecado habitual que priva a alma da graça – sociedade com Deus – e vai lhe tirando as forças para tudo o que é sobrenatural. Nada mais difícil de ser curado, a não ser por um milagre espiritual, que tira a alma desse estado.
Devemos, então, caros católicos, saber que estamos sempre na presença de Deus. Ele conhece todas as coisas, mesmo os nossos mais recônditos pensamentos. Essa presença de Deus nos evitará muitos pecados, principalmente os ocultos, e nos levará a fazer muitas boas obras, mesmo pequenas e desconhecidas do mundo inteiro. Devemos recorrer a Jesus Cristo com confiança, para que ele cure as nossas doenças espirituais, por mais enraizadas que estejam na nossa alma e por mais vergonhosas que sejam. Devemos tocar Jesus nos seus sacramentos (não quer dizer tocar a Sagrada Hóstia com a mão, mas tocá-lo espiritualmente, com a recepção digna dos sacramentos). Já não temos a roupa de Cristo, mas temos seus sacramentos, principalmente a confissão e a comunhão.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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