MEDITAÇÃO PARA A QUARTA-FEIRA
Da flagelação de Jesus Cristo
1.Vendo Pilatos que os judeus não deixavam de exigir a morte
de Jesus, condenou-o aos flagelos. “Então Pilatos se apoderou
de Jesus e mandou açoitá-lo” (Jo 19,1). Julgou o juiz injusto que com
isso acalmaria seus inimigos. Esta saída teve um resultado
sumamente doloroso para Jesus. Os judeus supondo que Pilatos, depois
de tal suplício, o poria em liberdade, como o havia abertamente
declarado: “Depois de castigado o soltarei... Castigá-lo-ei e o
soltarei”(Lc 23,16 e 22), corromperam os carrascos para que o flagelassem de
tal modo que viesse a perder a vida no suplício. Entra, minha alma,
no pretório de Pilatos, transformado nesse dia em horrendo teatro de
dores e de ignomínias do Redentor, e vê como se despoja de suas vestes
(como foi revelado a S. Brígida) e abraça a coluna, dando com isso
aos homens uma evidentíssima prova de como se submetia
voluntariamente aos mais desumanos sofrimentos e de quanto os amava.
Contempla como esse cordeiro, com a cabeça baixa e todo envergonhado, espera por esse martírio. Eis que aqueles bárbaros como cães danados já se lançam sobre ele. Contempla aqueles impiedosos
carrascos, dos quais uns lhe batem no peito, outros lhe flagelam as
cosas, estes lhe retalham os flancos, aqueles outros as demais
partes de seu corpo: mesmo sua cabeça sagrada e sua bela face não
são poupadas. O sangue divino já corre de todas as partes: esse
sangue já cobre os azorragues e as mãos dos carrascos, a coluna e
até a terra. Ó Deus: já não encontrando mais esses bárbaros parte
sã para ferir, ajuntam chagas a chagas e dilaceram por completo seu
corpo sacrossanto. “E sobre a dor de minhas chagas acrescentaram
novas chagas”(Sl 68,27). Ó minha alma, como pudeste ofender um
Deus flagelado por ti? E vós, ó meu Jesus, como pudestes padecer
tanto por um ingrato? Ó chagas de Jesus, vós sois a minha
esperança. Ó meu Jesus, vós sois o único amor de minha alma.
2. Foi sumamente dolorosa aquela flagelação, pois, conforme
foi revelado a S. Maria Madalena de Pazzi, os verdugos foram
sessenta, sucedendo uns aos outros, e os instrumentos escolhidos para
esse fim foram tão desumanos que cada golpe fazia uma ferida. Os
golpes chegaram a vários milhares, pois que puseram a descoberto os
ossos das costas de nosso Redentor, como foi revelado a S.
Brígida. O certo é que fizeram tanto estrago que Pilatos julgou poder
mover à compaixão seus mesmos inimigos, razão por que, do alto de
seu palácio, lhes mostrou Jesus, dizendo: “Eis aqui o homem”(Jo 19,5). O profeta bem nos predisse o estado doloroso a que seria
reduzido nosso Salvador na sua flagelação, dizendo que sua carne
deveria ser toda pisada e seu corpo bendito se tornaria semelhante ao de
um leproso todo coberto de chagas: “Foi quebrantado pelos
nossos crimes e nós o reputamos como um leproso”(Is 53, 4-5).
Ah, meu Jesus, eu vos agradeço tão grande amor; desagrada-me muito haver-me unido aos que vos flagelavam. Detesto todos
os meus malditos prazeres, que vos custaram tantas dores. Fazei-me recordar constantemente do amor que me tendes, par que vos ame e não
vos ofenda mais. Mereceria um inferno à parte se, depois de
haver conhecido o vosso amor e depois de me haverdes perdoado tantas vezes, eu vos ofendesse novamente e me condenasse. Ah, esse amor e essa misericórdia seriam para mim no inferno um novo
inferno ainda mais tormentoso. Não, meu amor, não o permitais. Eu vos amo,
ó sumo bem, eu vos amo de todo o meu coração e quero amar-vos sempre.
3. Para pagar, pois, as nossas culpas e particularmente as
de impureza, quis Jesus suportar esse grande suplício em suas
carnes inocentes. Nós ofendemos a Deus, Senhor, e vós quisestes
pagar a pena. Seja para sempre bendita a vossa infinita caridade.
Que seria de mim, ó meu Jesus, se não tivésseis satisfeito por mim?
Oh! nunca vos tivesse eu ofendido. Mas, se, pecando, desprezei o vosso
amor, agora não desejo outra coisa que amar-vos e ser amado por
vós. Vós dissestes que amais a quem vos ama. Eu vos amo sobre todas
as coisas, vos amo com toda a minha alma; fazei-me digno de
vosso amor. Sim, espero que me tenhais perdoado e que
presentemente, por vossa bondade, me ameis. Ah, meu caro Redentor,
prendei-me cada vez mais estreitamente ao vosso amor, não permitais que
eu me separe jamais de vós. Eis-me aqui, inteiramente vosso,
castigai-me como quiserdes. mas não permitais que eu fique privado de
vosso amor. Fazei que vos ame e disponde de mim como vos aprouver. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.
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