MEDITAÇÃO VIII
Jesus morto na cruz
Cristão, levanta os olhos, e contempla Jesus morto sobre
aquele patíbulo com o corpo cheio de chagas que ainda correm
sangue. A fé ensina que ele é teu Criador, teu Salvador, a tua vida, teu
libertador, aquele que mais te ama que qualquer outro e o único que pode
fazer-te feliz. Sim, meu Jesus, eu o creio: vós sois aquele que me
amou desde toda a eternidade sem nenhum mérito meu; mesmo
prevendo as minhas ingratidões, me destes o ser unicamente por pura
bondade. Vós sois o meu Salvador, que me livrastes por vossa morte do inferno tantas vezes merecido. Vós sois a minha vida pela
graça que me estes, pois sem ela permaneceria morto para sempre. Vós
sois o meu Pai e Pai amoroso que me perdoou misericordiosamente
tantas injúrias que vos fiz. Vós sois o meu tesouro, que me
enriqueceu com tantas luzes e favores em vez e castigos que eu merecia. Vós
sois a minha esperança, já que eu não posso esperar bem algum de
quem quer que seja fora de vós. Vós sois, portanto, o meu
verdadeiro e único amante: basta dizer que chegastes a morrer por mim.
Vós, em suma, sois o meu Deus, o meu sumo bem, o meu tudo.
Ó homens, ó homens, amemos a Jesus Cristo, amemos um Deus que se sacrificou totalmente por nosso amor. Ele sacrificou
as honras que lhe competiam sobre a terra, sacrificou todas as
riquezas e as delícias que podia gozar e se contentou com levar uma vida
humilde, pobre e atribulada: finalmente, para pagar com seus
sofrimentos os nossos pecados, quis sacrificar todo o seu sangue e sua
vida, morrendo num mar de dores e de desprezos.
Filho, diz da cruz o Redentor a cada um de nós, filho, que
mais poderia eu fazer para ser amado por ti do que morrer por teu
amor?
Vê se se encontra no mundo quem te haja amado mais do que
eu, teu Senhor e Deus. Ama-me, pois, ao menos em reconhecimento
do amor que te demonstrei.
Ah, meu Jesus, como é possível não chorar sempre o mal que
fiz, desprezando o vosso amor, apesar de saber que os meus
pecados vos obrigaram a morrer de dor sobre um patíbulo infame? E
como poderei ver-vos pendente desse lenho por meu amor e não vos
amar com todas as minhas forças?
Como se explica, porém, Senhor, que vós, tendo morrido por
nós todos, para que ninguém mais viva para si mesmo (2Cor 5,15),
e eu tenha vivido unicamente para afligir-vos e desonrar-vos em
vez de viver exclusivamente para amar-vos e glorificar-vos? Ah, meu
Senhor crucificado, esquecei-vos das amarguras que vos causei, das
quais eu me arrependo de todo o meu coração, e atraí-me pela vossa
graça inteiramente a vós. Eu não quero mais viver para mim mesmo,
mas só agora vós que tanto me tendes amado e mereceis todo o meu amor. Eu me dou todo a vós e todas as coisas que me
pertencem, sem reserva. Renuncio a todas as honras e prazeres desta
terra e me prontifico a padecer por vosso amor tudo o que vos aprouver.
Vós, que me concedeis esta boa vontade, dai-me também a graça de
a pôr em prática. Ó Cordeiro de Deus, sacrificado sobre a
cruz, ó vítima de amor, ó Deus amoroso, pudesse eu morrer por vós como
morrestes por mim. Ó Mãe de Deus, Maria, obtende-me a graça de
sacrificar toda a vida que me resta ao amor do vosso amabilíssimo
Filho.
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