MEDITAÇÃO VII
Jesus na cruz
Jesus na cruz! Que espetáculo para os anjos do paraíso, ver
um Deus crucificado. E que impressão nos deve causar o rei do
céu pendente de um patíbulo, coberto de chagas, desprezado e amaldiçoado por todos, agonizando e morrendo de dores sem nenhum alívio.
Ó Deus, por que é que assim padece este divino Salvador
inocente e santo? Padece para pagar as culpas dos homens. E onde se viu um tal exemplo, o Senhor padecer por seus servos? O
pastor morrer por suas ovelhas? O Criador sacrificar-se
inteiramente por suas criaturas? Jesus na cruz! Eis o homem das dores, predito por Isaías.
Ei-lo nesse lenho infame e cheio de dores tanto externas como
internas. Exteriormente está dilacerado pelos açoites, pelos espinhos
e pelos cravos, o sangue escorre de todas as partes e cada um de
seus membros sofre uma dor particular. Interiormente é afligido pela
tristeza, está desolado e abandonado por todos e até por seu próprio
Pai. Mas o que mais o atormenta entre tantos sofrimentos é a vista
horrenda de todos os pecados que depois de sua morte cometeriam os
homens remidos por seu sangue.
Ah, meu Redentor, entre esses ingratos vós então me víeis e todos os meus pecados. Portanto eu também muito contribui
para vos afligir na cruz em que morríeis por mim. Oh, antes
tivesse eu morrido e não vos tivesse ofendido.
Meu Jesus e minha esperança, a morte me aterroriza, pois
então terei de vos dar conta de todas as injúrias que fiz ao amor
que me tivestes, mas a vossa morte me anima e me faz esperar o perdão.
Eu me arrependo de todo o coração de vos ter desprezado. Se, no
passado, não vos amei, eu quero amar-vos no resto de minha vida e quero fazer tudo e tudo sofrer para vos agradar. Ajudai-me,
meu Redentor, vós que morrestes na cruz por meu amor.
Senhor, vós dissestes que, quando estivésseis suspenso na
cruz, atrairíeis todos os corações para vós: “E eu, quando for
suspenso da terra, atrairei tudo a mim” (Jo 12,32). Vós, morrendo
crucificado por nós, arrebatastes tantos corações ao vosso amor, que por vós
deixaram tudo, bens, pátria, parentes e até a vida. Ah, arrebatai
também o meu pobre coração, que agora, por vossa graça, deseja vos
amar, e não mais permitais que eu ame o lodo como o fiz até agora. Ó
meu Redentor, pudesse eu ver-me despojado de todo o afeto
terreno, para esquecer-me de tudo e lembrar-me só de vós e a vós só amar!
Eu tudo espero da vossa graça. Vós conheceis a minha
incapacidade; ajudai-me, vos rogo, pelo amor que vos obrigou a sofrer por
mim uma morte tão acerba no monte Calvário. Ó morte de Jesus, ó amor
de Jesus, arrebatai todos os meus pensamentos, todos os meus
afetos e fazei que de hoje em diante eu não pense nem busque outra
coisa que agradar a Jesus. Amabilíssimo Senhor, ouvi-me pelos
merecimentos da vossa morte. E vós, também, ó Maria, atendei-me, já que sois a Mãe da misericórdia; rogai a Jesus por mim; vossas
súplicas podem tornar-me um santo e isso eu o espero.
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