CAPÍTULO LXI
Da trasladação do bem-aventurado Padre Santo Antônio e do milagre de sua língua
No ano da Encarnação do Senhor de mil e duzentos e sessenta e três, depois que, pelos méritos e intercessão de Santo Antônio, a Deus aprouve que a cidade de Pádua fosse livre do poder e jugo do tirano Ezzelino que por muitos anos a devastara, os Paduanos, em prova da sua muita devoção a Santo Antônio e em sinal de gratidão, levantaram em sua honra igreja grande e magnífica.
E porque resolveram trasladar seu bem-aventurado corpo para sepulcro novo, fizeram as precisas escavações no sítio onde ele por mais de vinte e sete anos estivera enterrado. E quando, no dia oitavo do Pentecostes, se procedia à trasladação, foi encontrada a sua língua fresca, rubicunda e formosa como se naquela mesma hora o bem-aventurado Padre tivesse morrido.
E o honrado varão Frei Boaventura que ao tempo era Ministro Geral da Ordem e depois foi cardeal e bispo albanense, assistindo à dita trasladação, com muita reverência pegou da língua do Santo em suas mãos, e banhado em lágrimas de alegria, começou de falar ao povo e pronunciou estas palavras dulcíssimas: “Ó língua bendita, que sempre a Deus louvaste e bendisseste, e aos outros ensinaste a louvar e bendizer, agora claramente se nos mostra quantos foram teus méritos junto de Deus!”
E enquanto assim falava, imprimia nela devotos e doces ósculos. E depois mandou colocá-la honradamente em lugar alto.
Para louvor de Deus e de seu servo Santo Antônio. Amém.
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