THESOURO DE PACIÊNCIA
DA PRISÃO DO SENHOR
MEDITAÇÃO II
Chegando a infame turba a Jesus Cristo, o ingrato discípulo, a quem n'aquela mesma tarde o Senhor lavara os pés e admitira a comer no seu mesmo prato, com atrevimento e aleivosia lhe deu um osculo na face: e este era o sinal que havia dado para a entrega de seu Mestre, que por dinheiro tinha vendido. Então o Senhor claramente lhe chamou amigo, e o tratou com todo o amor e benevolência. Aqui verás, alma minha, quão diversa é a amizade de Jesus e a do mundo ou demônio. Estes inimigos, com um ar lisonjeiro, tratam-te como Judas: na aparência tudo são obséquios, tudo amizades, tudo ósculos; e, na realidade, andas vendida, porque o que desejam é a tua eterna perdição, Desengana-te por uma vez, que só Deus é teu amigo verdadeiro: tudo fora de Deus é engano, é perdição, é falsidade. E já que tu agora, é ensinada pelos trabalhos, vás conhecendo por experiência a falsidade e aleivosia d'este mundo e do demônio, dá graças a Deus, que bem grande benefício te faz nesse desengano. Tem a certeza que, se tudo no mundo te sucedesse à medida do teu desejo, enganada andarias e perdida; por isso, o Senhor permitiu que nestes trabalhos conhecesses agora a tua falsidade e aleivosia, porque quer que, desenganada, te voltes para o teu Deus, que é teu amigo verdadeiro. Volta-te, pois, de coração para este bom amigo, que jamais te há de ser falso: este amigo, sim, que com sumo desinteresse só deseja o teu próprio bem e felicidade. Sofre com paciência o benefício que Deus te faz neste desengano, e louva ao Senhor por estes trabalhos com que te quer desapegar do mundo o coração, que tão cativo estava d'ele para tua perdição e ruína.
JACULATÔRIA -
Agora conheço, Ó meu Deus, que só Vós me amais deveras, e que o demônio me trazia enganado: bendito sejais.
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