CAPÍTULO LIV
Milagre que fez Santo Antônio a um homem de Pádua a quem os demônios arrancaram a língua e os olhos, e quiseram matar
Certo homem dos arredores de Pádua, a fim de desvendar uns segredos meteu-se uma noite na roda dos encantamentos em companhia de letrado sabedor das malas-artes de invocar os espíritos.
E estando já ambos dentro da roda, pôs-se o letrado a chamar os demônios, e ei-los que subitamente aparecem com grande alarido, estrépido e reboliço.
O homem de tão passado que ficou, nem atinava como responder aos demônios que por isso, enraivecidos, deitaram-se a ele e arrancaram-lhe a língua e vazaram-lhe os olhos. E quando, depois, o desgraçado abria a boca, nem sinal de língua se enxergava; e no sítio dos olhos era agora uma caverna funda.
Grande pesar lhe entrou no coração ao infeliz, tanto pelo pecado cometido como pelo castigo que sofreu. E porque não podia confessar a culpa, voltou-se para Santo Antônio.
Passou no convento, em oração, dias após dias, até que certa vez ao tempo em que os frades cantavam na missa o Benedictus qui venit in nomine Domini e o celebrante levanta a Deus, viu-se de repente com outros olhos novos na cara.
Correu notícia de milagre tamanho. Juntou-se muita gente e todos com o homem rezavam, a pedir a Deus, por intercessão de Santo Antônio, fosse servido dar-lhe também a língua assim como já lhe dera os olhos.
E, no coro acabava o canto de Agnus Dei com as palavras dona nobis pacem, quando ao homem, num instante, lhe cresceu a língua e começou de poder falar. E louvava a Deus, a apregoar as maravilhas do seu benfeitor Santo Antônio.
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