13 de outubro de 2017

Legitima Interpretação da Bíblia - Lúcio Navarro.

PRÓLOGO DO AUTOR

Prezado leitor protestante:
Era muito conceituado, em certa cidade, um professor que ensinava, havia 50 anos. As noções que ele ministrava sobre a matemática, a história, a geografia, a língua vernácula etc, as tinha recebido de outros mestres, ainda mais antigos e tão conceituados como ele, os quais por sua vez também já haviam aprendido de outros preceptores. Mas um dia apareceu um jovem aluno que se rebelou contra o ensino de seu mestre. Não lhe agradava o método usado naquelas aulas, nem concordava com
o que nelas se aprendia. Ao seu ver, estava tudo errado. E resolveu abrir uma nova escola, em oposição à do velho e ministrando uma instrução completamente diversa. Mas todo o mundo notou logo que o ensino do jovem revolucionário era completamente desordenado: o moço titubeava, confundia-se, caía em evidentes contradições. Isto serviu apenas para aumentar o prestígio do velho professor, que podia agora dizer com desdém ao seu antagonista: Vá estudar, menino, porque Você
ainda não está em condições para abrir uma escola!
O grande navio, pertencente a uma antiga empresa de navegação, singrava os mares em demanda do seu destino, quando o velho comandante foi surpreendido pela revolta de muitos dos passageiros, que o procuraram para protestar. O navio, segundo eles diziam, estava seguindo uma direção completamente errada. Pois eles entendiam também de navegação... Embora lhes falasse a longa experiência, tinham no entanto em mãos o mesmo livro, os mesmos mapas que serviam de guia
ao comandante e a seus auxiliares e tinham chegado à conclusão de que estes estavam redondamente enganados. E diante da recusa do comandante  a modificar a sua rota, resolveram em nome da liberdade abandonar o navio, construir, eles próprios, suas embarcações e seguir o caminho que lhes parecia mais acertado. Boa sorte! - respondeu-lhes o comandante. Mas os passageiros que ficaram a bordo, que tinham confiança na velha empresa, no navio, naqueles que o dirigiam, nem tiveram
tempo para ver surgir no seu espírito qualquer sombra de dúvida, porque logo observaram que aqueles que protestaram coalhavam o mar de barcos e barquinhos e barcaças de toda qualidade, mas cada um seguia um rumo diferente.. .
Esta é precisamente a história do choque entre o Protestantismo e a igreja Católica. Alguém que esteja de parte observando a luta doutrinária, sem ser nem de um lado nem de outro, ao ver a grita dos protestantes e o entusiasmo com que vivem a citar a Bíblia, pode ainda ficar com uma certa nuvem de dúvida no seu espírito sobre se a Igreja está mesmo em perfeito acordo com as Escrituras. Mas, se tiver o cuidado de ver os protestantes, como são, como divergem, como discutem, como titubeiam e se contradizem, verá aumentar aos seus olhos o prestígio da Igreja. Ela é como o antigo mestre a
 rir-se dos ardores do jovem revolucionário ou como o velho comandante a achar graça na
cegueira dos barqueiros improvisados. Sim, porque uma coisa está clara à vista de todos: Dizer que alguém está errado é muito fácil, porque falar é fôlego e cada um tem o seu modo de pensar. Mas há
também o reverso da medalha: Quem  acusa a outro de estar no erro, tem a obrigação de mostrar  como é o certo. E é aí que se mostra com evidênciatodo o fracasso do Protestantismo,
Você, caro leitor protestante, está metido nesta balbúrdia de mais de trezentas seitas que ensinam as doutrinas mais diversas. Se, por acaso, os seus correligionários o têm enganado, afirmando que são divergências de muito pouca monta, fá-lo-emos conhecer melhor o que é o Protestantismo e Você verá como estas divergências são profundas, escandalosas e sobre pontos importantíssimos. Gritar que só a sua seita está com a verdade e que todas as outras estão erradas, não adianta nem resolve
a questão; os elementos de que Você dispõe para conhecer a verdade, são os mesmos de que os milhões de adeptos de outras seitas dispõem também: a Bíblia e o raciocínio humano. a Bíblia é a mesma para todos; e como Você pode garantir que raciocina melhor do que os outros?
Não será o caso de reexaminar agora e confrontar calmamente com a Bíblia esta doutrina católica, que Vocês, protestantes, rejeitaram no século XI e que vem sendo a interpretação do Livro Sagrado, sempre antiga e sempre nova, tradicionalmente seguida, durante 20 séculos, pelos Santos Padres e doutores e teólogos da Igreja?
Pouco importa, no caso, que o seu espírito esteja cheio de preconceitos, que o seu coração esteja abrasado de ódio contra a Igreja Católica. Se assim é, o seu maior desejo é combatê-la, não é verdade? Mas para combatê-la, precisa conhecer melhor a sua doutrina. Nada mais útil para quem vai entrar em luta, do que conhecer bem a fundo o adversário. E no nosso caso, atribuir à Igreja doutrinas que ela nunca ensinou (como, por exemplo, a doutrina de que o homem se salva Exclusivamente pelas suas obras, pelo seu esfôrço pessoal), querer atacar a Igreja, atribuindo-lhe teorias por ela mesma condenadas, seria ridículo e seria falta de consciência e Você é uma pessoa de consciência, pelo menos assim o supomos; pois do contrário pode fechar o livro e já temos conversado.
Sendo Você uma pessoa de consciência, é claro que não virá armado de truques, nem de sofismas, nem de cavilações. Nem adianta recorrer a estas armas; o livro mesmo se encarregará de inutilizá-las,
Separar a frase bíblica do seu verdadeiro contexto, para dar a ela o sentido que você quer, não conseguirá fazê-lo; veremos, nas passagens bíblicas suscetíveis de ser exploradas em sentido errôneo, não só o que disseram Jesus e os apóstolos, mas também em que ocasião, com que fim, em que sentido o disseram.
Como também não virá com a ideia de apegar-se de unhas e dentes a uns textos,desprezando e enterrando outros. A mesma Bíblia que nos ensina que o homem se salva CRENDO em  JESUS (Atos XVI-31), nos ensina que o homem se salva OBSERVANDO OS MANDAMENTOS, (Mateus XIX-17). A mesma Bíblia que nos diz que o homem é justificado pela FÉ SEM AS  OBRAS E A LEI (Romanos III-28), nos diz igualmente que o homem é justificado pelas obras e não pela fé somente (Tiago II-24). Ora nos diz que a pedra angular da Igreja é Jesus Cristo (1Pedro II-4 a 6), ora nos
diz que Pedro é a pedra sobre a qual Cristo edificou a sua Igreja (Mateus XVI-18). ora nos diz que o sangue de Cristo nos purifica de todo o pecado (I Jo 1-7), ora nos mostra a remissão dos pecados realizada pelo Batismo (At II, 38) ou  pelo poder das chaves conferido aos Apóstolos (João XX-23) ou, até mesmo, pela Extrema-Unção (Tiago V-15). Ora nos apresenta a vida eterna como uma dádiva (Romanos VI-23), ora como um prêmio (1.o Corintios IX,24 e 25). Tanto nos fala de Cristo como único Salvador de todos (1Timóteo II,5-6), como fala do homem salvando a si mesmo e salvando os outros (1Timóteo IV-16). Se o ensinaram a interpretar a Bíblia aceitando, nestes contrastes,
a primeira parte e desprezando, não tomando em nenhuma consideração a segunda, então lhe ensinaram uma interpretação muito errada, porque, se a Bíblia é TODA ela inspirada por Deus, havemos de aceitar toda a Bíblia e não andar a fazer escolhas entre textos, para ver somente os que nos agradam, porque é daí que nascem as seitas, as divergências, as heresias. A própria palavra HERESIA etimologicamente quer dizer escolha. E mesmo não há homem algum que fique satisfeito,
quando dizem que ele não liga duas, não é verdade? Para que não desmoralizem assim a nossa interpretação, ela tem que conciliar todos estes pontos e mais outros que à primeira vista parecem inconciliáveis e com a graça de Deus havemos de fazê-lo.
- É, dirá Você, estou de pleno acordo. Toda a Bíblia é só a Bíblia.
- Calma, caro amigo. Toda a Bíblia, isto já está assentado de pedra e cal, porque toda a Bíblia é palavra de Deus, e a palavra de Deus não pode ser rejeitada. Quanto a dizer só a Bíblia, isto não poderemos dizer agora: vamos consultá-la primeiro, estudá-la carinhosamente. Se ela nos disser que só ela é que deve ser ouvida, então aceitaremos o princípio: só A Bíblia. Se ela, porém, nos apontar outra fonte de ensino da verdade, teremos que aceitar a esta igualmente, porque não podemos ir de encontro à Bíblia, não acha?
Quanto à tradução portuguesa que usaremos no nosso estudo, não há perigo de Você nos acusar de nos termos baseado num texto novo, para arranjar as coisas a nosso favor. Usaremos uma tradução muito antiga da Bíblia e muito utilizada tanto pelos católicos como pelos protestantes: a do Pe. Antônio Pereira de Figueiredo. Servi-mo-nos, para maior comodidade, de uma edição da Livraria Garnier; Rio de Janeiro, do ano de 1881. Mas a 1ª edição saiu em Portugal no século XVIII, portanto numa época em que o Protestantismo não havia ainda penetrado no Brasil. Citaremos sempre à risca o Pe. Pereira, comparando, quando for necessário, com o texto original e com outros textos de
língua portuguesa tanto católicos, como protestantes. A única alteração que faremos é substituir pelo verbo DAR À LUZ, o verbo PARIR que, principalmente quando aplicado ao nascimento de Cristo, pode parecer estranho, indecoroso ou pouco educado aos ouvidos de hoje, embora não o fosse absolutamente no tempo em que o Pe. Pereira fez a sua tradução
 Finalmente uma última palavra. Vamos estudar a Bíblia com TODA SINCERIDADE, não, é assim? Pois bem, SINCERIDADE quer dizer o seguinte: se por acaso, pelo nosso estudo, Você depreender que ESTÁ EM  ERRO (e é coisa do outro mundo um protestante reconhecer que está em erro? há
no Protestantismo doutrinas inteiramente contrárias umas às outras e onde há contradição há erro, todos sabem disto, porque o mais universal de todos os princípios é que UMA COISA NÃO PODE SER E DEIXAR DE SER AO MESMO TEMPO) se você depreender que está em erro, como íamos dizendo, não se ponha obstinadamente a querer agarrar-se a argumentos ridículos, nem se limite a dizer displicentemente: "Veremos isto depois", dando como sujeito a discussão aquilo que já está por demais examinado e esclarecido, porque, caro amigo, nada podemos contra a verdade, senão pela, verdade (2 Coríntios XIII,8). E se, por acaso, é pastor, é líder, tem admiradores simples e rudes que confiam na sua doutrinação e você reconhece agora que lhes ensinou doutrinas errôneas (máxime se
foi por escrito) a sua obrigação é retratar-se ENSINANDO a  VERDADE, porque só assim é que pode seguir a Jesus Cristo, que é a própria Verdade. Assim faz todo homem de bem, e com maioria de razão todo seguidor do Divino Mestre.
E sem esta sinceridade ninguém pode ir ao Céu, porque, como diz S. Paulo, Deus retribui com ira e indignação aos que são de contenda e que NÃO SE RENDEM À VERDADE ( Romanos II-8).
Não há nada mais belo do que o homem curvar-se perante a verdade. Nisto não há desdouro, nem motivo para constrangimento, mas sim uma verdadeira libertação.
Quanto a Você, estimado leitor católico, que vai tranqüilo e sossegado no seu navio, enquanto lá fora as barcaças revoltosas se desencontram, pouca coisa temos para lhe dizer. Que este livro lhe sirva para enriquecer o conhecimento de Cristo e de sua Religião, e o ajude a rebater ainda melhor os ataques e as objeções dos hereges protestantes, são estes os nossos sinceros votos.
Lúcio Navarro.



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