7 de outubro de 2017

As Mais Belas Histórias do Cristianismo - Parte 6

6. SÃO PAULO, O APÓSTOLO DAS GENTES.

II. O CONVERTIDO.

Aterrorizados pelo martírio de Santo Estêvão, os cristãos começaram a se espalhar, fugindo para as regiões vizinhas. Damasco, cidade da Síria, notável pelo desenvolvimento comercial, de há muito conhecida pela indústria de finíssimos tecidos que lhe tomaram o nome de damasco, foi uma das preferidas pelos cristãos. Estes estavam em condições de se desenvolverem, a experiência de Jerusalém já o demonstrara através da facilidade de atração dos apóstolos, e era preciso tolher os passos de uma seita que pregava o cumprimento de todos os anúncios que foram preditos pelos profetas e publicamente reconheciam como Messias Salvador o galileu que poucos anos antes fôra crucificado na montanha do Calvário.
E Saulo, um dos mais influenciados na luta pela destruição daquela nova doutrina, com os documentos assinados pelos príncipes dos sacerdotes, parte para Damasco, afim de aniquilar os cristãos. Um semana era o suficiente para a viagem que deveria cobrir uns 250 quilômetros de estrada arenosa, tanta era a distância de Jerusalém a Damasco. Estavam Saulo e os companheiros já próximos de Damasco. O sol abrasador, que os torturava nos dias da jornada, parecia mais ainda inflamá-los na voragem conquistadora de suas pretensões. Dentro em pouco estariam em Damasco, deliciando os seus olhares com a contemplação de suas encantadoras paisagens, seus jardins floridos e seus vergéis bem irrigados; apresentar-se-iam às sinagogas, iniciando a missão que ali os levava. "Subitamente os cercou uma luz vinda do céu" (Atos IV, 3). Mais resplandecente do que o sol, esta luz os atordoou, ofuscou seus olhos e os prostrou por terra. Esta luz de propriedade tão intensa interceptava os caminhos do homem para aclarar os caminhos da graça. A visão de um "homem celestial" confundiu o coração de Saulo que ainda pôde ouvir estas palavras, cujo significado ainda não compreendia: "Saulo, Saulo, porque me persegues? No seu espanto, interroga: "'E quem és tu, Senhor?" - "Eu sou Jesus, a quem persegues!" Os companheiros continuavam aturdidos por terra, nada viam, apenas ouviam a voz, e Saulo, perplexo, começara a compreender toda a verdade. Perseguindo os cristãos, perseguia a Cristo! Cada cristão um complemento do Cristo. Este pensamento que lhe fora inspirado neste instante em que as luzes sufocavam as trevas, ele o desenvolverá notavelmente, depois, em suas epístolas, na doutrina do Corpo Místico de Cristo!" Compreendera a censura da voz: "Eu sou Jesus, a quem persegues'.
Seu coração endurecido e apegado às falsas teorias do judaísmo que se desenvolvera no abandono da religião pregada pelos profetas, se quebrara, se despedaçara diante daquela voz que o transformava no homem espiritual, cheio de disposições para uma completa submissão à vontade de Cristo, e de zelo para o novo apostolado pela causa cristã. Isto ele o manifesta pelas suas palavras: "Senhor, que queres que eu faça?" A ordem de perseguição é rasgada, significando que abandonava a causa de sua missão, para se colocar à disposição daquele a quem até então perseguia. Levanta-te, e entra na cidade, e ai te será dito o que deves fazer". Nada mais era preciso que Jesus dissesse. A transformação se realizara. Continua Saulo a sua caminhada até Damasco, meta de sua viagem, conduzido pelos companheiros a quem até aqui guiara. Nada podia ver, pois seus olhos se ofuscaram, roubando-lhe os encantos das primeiras avenidas de Damasco, que, enfeitadas de frutos, ofereciam prazer e bem estar aos transeuntes. É levado à casa de um tal Judas, onde seriam executados os planos de combate aos sequazes do Nazareno, e onde o irá encontrar Ananias, a quem o Senhor confiara o complemento de sua graça. A conversão de Saulo é um fato admirável e da maneira como se deu, somente se pode atribuir á intervenção divina. Os nacionalistas procuram em vão reduzi-Ia a um fato natural. Sua existência perfeitamente equilibrada e unida, a convicção do judaísmo que professava, ao lado da fé inabalável com que de Damasco em diante pregará a doutrina de Cristo, afastam todas as fantasias de críticos que supõem em S. Paulo uma mentalidade imbuída de escrúpulos e dúvidas, ou então um complexo psicológico. Baur, embora adversário, chegou à conclusão de que o fato de Damasco resiste a todo ataque, às análises históricas, lógica e psicológica. Além disto, em suas epístolas, por diversas vezes, alude S. Paulo à sua conversão e à visão que teve com precisão objetiva. Em Damasco, Ananias, um dos primeiros membros do pequeno núcleo cristão que ali existia, recebe uma ordem do alto: - "Levanta-te, vai à rua Direita e procura em casa de Judas um homem chamado Saulo. Ele espera por ti, porque te viu em sonhos impor-lhe as mãos para que recupere a luz" (Atos IX, 10-13). Mas Ananias, cuja fama de Saulo já conhecia e o sabia perseguidor, ousou responder: "Senhor, ouvi dizer a várias pessoas que este homem tem perseguido muito os teus santos em Jerusalém, e aqui ele tem poder dos príncipes dos sacerdotes para prender todos aqueles que invocam o teu nome". Mas o Senhor lhe disse: "'Vai porque este homem é o instrumento que escolhi para mim, para levar o meu nome aos gentios, aos reis e filhos de Israel." Cumpriu Ananias a determinação do Senhor. Impôs-lhe as mãos sobre a cabeça, dizendo: - "Saulo, irmão meu, o Senhor Jesus que te apareceu na estrada, enquanto vinhas a Damasco, mandou-me a ti, para restituir-te a vista
e para que desça sobre ti o Espírito Santo." E Saulo viu. Seus olhos se desprenderam para a visão material, mas aquela luz que o cegara fisicamente, já lhe havia curado espiritualmente, e Saulo na estrada de Damasco já começara a enxergar a verdade de que sua inteligência se saciou.
A conversão de Saulo foi o mistério impenetrável da graça e da liberdade. Santo Agostinho alude nestes termos ao duelo entre Paulo e a graça: "A graça deitou-o por terra e depois o ergueu novamente."
Acontecimento importantíssimo e dos mais belos na história do cristianismo, a conversão de Paulo foi um fato decisivo no desenvolvimento do Reino de Deus sobre a terra. Graças a ele a Igreja se liberta do judaísmo e se volta para os gentios, tornando-se uma Igreja Universal, uma Igreja Católica, como Cristo a queria. A conversão de S. Paulo é o triunfo da graça sobre a natureza e a vontade humana. E S. Paulo pôde exclamar: "A graça de Deus não foi estéril em mim." (I Cor. XV, 10) .

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