14 de outubro de 2015

Sermão para a Solenidade Externa do Rosário – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] O Rosário: remédio para os problemas atuais


 Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Como sabemos, caros católicos, o terço tem 50 Ave Marias, 5 Pai Nossos, além do Credo. O Rosário é composto por três terços e se juntarmos as três Ave Marias iniciais, teremos 153 Ave Marias, oferecidas como uma coroa de rosas a Nossa Senhora. Nós vemos, na Sagrada Escritura, um fundamento remoto para o Terço. No Evangelho de São João, nos é narrado que, após a ressurreição de Cristo, houve mais uma pesca milagrosa em que os apóstolos pescaram 153 peixes, sem que a rede se rompesse. O Rosário completo é composto de 153 Ave Marias. O Rosário e a terça parte dele – o nosso Terço – é como uma rede que captura graças abundantes sem se romper.
A recitação de 150 Ave-Marias teve início muito cedo na Igreja, quando aqueles que não sabiam ler recitavam a primeira parte da Ave Maria para substituir os 150 salmos. É nisso e, portanto, bem cedo na história da Igreja que tem início o Rosário, o Terço.
Na forma em que o conhecemos hoje, o Rosário foi dado por Nossa Senhora a São Domingos – cuja relíquia se encontro sobre o altar e cujo quadro se encontra atrás de mim – no início do século XIII. O Terço foi a arma dada por Nossa Senhora a São Domingos de Gusmão, fundador da Ordem dos Dominicanos, para ele vencer a heresia cátara, heresia descendente do maniqueísmo, e que atingia, particularmente, o sul da França. Tratava-se de uma heresia monstruosa, que considerava a matéria como um mal, que considerava o corpo como um mal. Assim, os adeptos praticavam o suicídio – muitas vezes por fome, pois se negavam a comer -, eles se opunham ao matrimônio, pois o matrimônio, pela procriação, geraria almas presas a corpos. Por outro lado, favoreciam qualquer outro ato de luxúria, desde que se evitasse a concepção, e não viam com maus olhos a união entre pessoas do mesmo sexo. Eles negavam, evidentemente, a ressurreição da carne, mas acreditavam na reencarnação e negavam o livre-arbítrio. Eram contra a pena de morte e contra qualquer guerra, ainda que defensiva. Destruíam, portanto, a família e combatiam muitas outras instituições e princípios básicos da sociedade. Era uma heresia que conduzia ao caos social, à destruição da família e da sociedade. Muitas dessas coisas vemos hoje amplamente espalhadas em nossa sociedade, não por acaso. Tratava-se, então, de uma heresia que se opunha, claro, à fé e que trazia grandes prejuízos à sociedade. São Domingos, apenas com suas pregações e com suas virtudes, conseguiu pouca coisa diante desses hereges, mesmo sendo um grande santo. Foi com o Rosário dado por Nossa Senhora que ele conseguiu tirar as almas desse erro tremendo.
Se o Rosário tem seu fundamento remoto no Evangelho, tomou forma no início da Igreja e foi dado, tal como o conhecemos hoje, a São Domingos por Nossa Senhora no século XIII, a festa de Nossa Senhora do Rosário tem sua origem com a Batalha de Lepanto, que foi uma batalha naval entre os católicos e os mulçumanos. Em 7 de outubro de 1571 os católicos venceram definitivamente os mulçumanos, que ameaçavam conquistar a Europa e destruir o catolicismo. A vitória pelas armas veio graças à recitação do Terço. O Papa da época, São Pio V, pediu a todos os católicos que recitassem o Terço, para que Deus concedesse a vitória aos católicos por meio de Nossa Senhora. Os soldados levavam, cada um, seu Terço nos barcos. Posteriormente e por causa dessa vitória, a festa de Nossa Senhora do Rosário terminou sendo instituída no dia 7 de outubro. Foi pelo Rosário que Deus nos livrou, naquele momento, do flagelo mulçumano.
Hoje, caros católicos, devemos enfrentar batalhas semelhantes às de São Domingos e de Lepanto. A heresia, mais do que nunca, ameaça a fé e a moral católicas. Não apenas exteriormente, por grupos separados da Igreja, mas mesmo no seio da Santa Igreja. A heresia que tem destruído a fé em tantas almas é o modernismo, que São Pio X chamou de síntese de todas as heresias. Essa heresia diz (de modo simplificado) que podemos acreditar no que quisermos, podemos ter a moral que quisermos, desde que nos sintamos bem com Deus. Esse erro diz que não importa o que Deus nos revelou, não importam seus ensinamentos, não importam os ensinamentos da Igreja. A única coisa que interessa, nos diz o modernismo, é nos sentirmos bem. Não existe uma verdade à qual eu devo aderir e me submeter, não existem regras morais objetivas. Eu mesmo decido o que é a verdade, eu mesmo decido o que é o bem e o que é o mal. E se me sinto bem, está tudo certo. Vemos uma manifestação clara dessa heresia quando se tenta adaptar a doutrina da Igreja ao pensamento atual, simplesmente para que as pessoas se sintam bem na Igreja. É o que muitos membros da hierarquia tentarão, infelizmente, fazer durante o Sínodo dos Bispos sobre a família que tem início hoje: tentarão adaptar a Igreja ao pensamento moderno. Dirão, por exemplo, que nossa sociedade já não aceita mais a indissolubilidade do matrimônio e que é preciso, então, aceitar a situação dos divorciados recasados e aceitá-los, sem mais, à comunhão. Farão isso não mudando expressamente a doutrina católica, mas dando soluções pastorais contrárias à doutrina católica, o que é absurdo. A pastoral, a misericórdia não pode ir contra a verdade, contra a doutrina católica. Só existe misericórdia na verdade e na doutrina que nos foi ensinada por Nosso Senhor Jesus Cristo. Só existe misericórdia quando a pessoa é conduzida, com toda a caridade, do pecado para a virtude e não quando ela é confortada no seu erro. Contra a heresia, devemos rezar o Rosário.
Temos também hoje a ameaça islâmica, caros católicos, como no tempo de São Pio V. Ameaça mais presente na Europa e para os cristãos do oriente, mas cada vez mais presente também em nosso país. E é interessante notar como governos liberais, que favorecem uniões homossexuais e todo tipo de liberdade desordenada, se unem com os mulçumanos, favorecendo-lhes de todas as formas. Por que a união de coisas tão contrárias? Devemos nos lembrar, no Evangelho, de que os inimigos Pilatos e Herodes se tornaram amigos quando da Paixão e morte de Cristo. Uniram-se para condenar Nosso Senhor. Assim, hoje, inimigos se unem para tentar fazer desaparecer a Igreja, pelo liberalismo ocidental ou pelo totalitarismo islâmico. Lembremo-nos daquele discurso de Bento XVI, em Ratisbona, em que ele cita o Imperador de Bizâncio no século XIV, Manuel II, Paleólogo, que diz: «Mostra-me também o que trouxe de novo Maomé, e encontrarás apenas coisas más e desumanas tais como a sua norma de propagar, através da espada, a fé que pregava.” Contra o flagelo do Islã, devemos, caros católicos, rezar o Rosário.
Mas ainda mais importante para cada um de nós, é o combate pela salvação de nossas almas e pela santificação de nossas famílias. Sem isso, não conseguiremos vencer nos outros campos. Sem isso, não conseguiremos restaurar tudo em Cristo e em sua Igreja. Para alcançarmos a santidade, para alcançarmos a santificação de nossas famílias, precisamos rezar o Terço. E fazer o maior esforço possível (e por que não impossível?) para rezá-lo em família. A família deve unir-se e reunir-se em torno dos principais mistérios de nossa fé, presentes no Terço, procurando imitar as virtudes da Sagrada Família. Imitar as virtudes da Sagrada Família em sua vida simples e nos trabalhos do quotidiano: é o que aprendemos nos mistérios gozosos. Imitar a Sagrada Família nas provações, nas dificuldades, nos sofrimentos: é o que aprendemos nos mistérios dolorosos. Imitar a Sagrada Família naquilo que é o nosso objetivo: a vida eterna, a glória eterna. É o que aprendemos nos mistérios gloriosos. A família unida e reunida assim pelo Rosário tende a avançar na santidade, adquirindo as virtudes necessárias para a vida familiar. Pais e mães de família tomem hoje a resolução séria de rezar o Terço quotidianamente em família, fazendo realmente todo o possível (e por que não o impossível?).
Chegamos a um ponto em que, humanamente, praticamente, já não há solução. Como na época de São Domingos de Gusmão e como na época da Batalha de Lepanto, não basta agir. Não podemos ficar esperando uma intervenção extraordinária de Deus, até mesmo porque talvez não a mereçamos. É preciso rezar, é preciso rezar o Terço. Devemos, caros católicos, recorrer a essa arma espiritual tremenda que é o Terço. É a devoção mais agradável a Nossa Senhora, de quem nos vêm todas as graças. Portanto, se recorremos a Maria com o Terço, podemos alcançar grandes graças e todas as vitórias.
Todavia, não basta rezar o Terço pura e simplesmente. É preciso rezá-lo bem. Mas como rezá-lo bem? O Terço é uma oração vocal e mental, caros católicos. Isso significa que devemos rezá-lo com todas as condições necessárias para uma boa oração vocal: estar em estado de graça, ou, ao menos, desejar verdadeiramente sair do estado de pecado mortal, se nos encontramos nele. Em seguida, devemos pedir coisas úteis para a nossa salvação, bens espirituais, antes de tudo. Devemos rezar com recolhimento, com atenção, evitando as distrações voluntárias, combatendo as involuntárias. Devemos rezá-lo com humildade, sabendo que não somos dignos de sermos atendidos. Devemos rezar com resignação, aceitando a vontade de Deus, que conhece perfeitamente o que é o melhor para nós. Devemos rezar com perseverança e grande confiança de sermos atendidos, se pedimos o que é bom para nossa alma. Se deixarmos uma dessas coisas de lado, nosso Terço já não será muito eficaz, perderá muito de sua potência.
Mas o Terço é também oração mental, caros católicos. Isso significa que, ao rezar o Terço, devemos considerar os mistérios da vida de Cristo e de Nossa Senhora e devemos tirar frutos, resoluções práticas, para a nossa vida, para nos corrigirmos em tal erro, para progredirmos em tal virtude, etc. O Terço bem rezado supõe essa oração mental, essa consideração dos mistérios do Terço e a resolução prática para progredirmos na prática do bem. Nessa união de oração vocal e mental está a profunda riqueza do Terço. Ao rezarmos bem as mais excelentes e perfeitas orações – Pai Nosso e Ave Maria – e considerarmos os mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos de Nosso Senhor e de Nossa Senhora, nos fixaremos no bem, nos tornaremos santos, nos dirigiremos para o céu, trabalharemos para o bem da Igreja e da sociedade.
Não é, porém, tarefa fácil conciliar a oração vocal e mental no Santo Terço. Cada um pode procurar uma maneira de conjugar a oração vocal e mental no Terço. Podemos, por exemplo, nas três primeiras Ave Marias de uma dezena, prestar atenção nas palavras que estão sendo ditas. Aqui está a oração vocal. Nas três Ave Marias seguintes, podemos considerar o mistério em questão: a encarnação, a agonia de Jesus, a coroação de Nossa senhora, etc. Nas quatro últimas Ave Marias, devemos fazer uma pequena resolução para nossa vida espiritual, de acordo com o mistério considerado. A humildade para a encarnação, por exemplo. No começo, talvez tenhamos dificuldade, mas o importante é não desistirmos nem desanimarmos, mas perseverarmos e avançarmos, ainda que lentamente. Se não conseguirmos rezar o Terço perfeitamente, vamos rezando da melhor maneira que nos é possível, procurando fazê-lo cada vez melhor. Não devo deixar de fazer o que é bom porque não consigo fazer o que é melhor. Assim, é melhor rezar o Terço de maneira ainda imperfeita procurando melhorar aos poucos do que simplesmente não rezá-lo.
Aproveitemos esse mês de outubro, mês do Rosário, para aderirmos de todo o coração a essa belíssima e tão eficaz oração que é o Terço. Aqueles que já rezam o Terço diariamente procurem rezá-lo cada vez melhor. Aqueles que ainda não o rezam, tomem a resolução de rezá-lo. Famílias, rezem o terço unidas. Nossa Senhora do Rosário, Mãe de misericórdia, nos ajude.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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